Os contos de fadas têm o dom da sedução e o poder de encantar gerações. As lições e a magia que envolve as histórias tradicionais, servem de pano de fundo a inúmeras versões, dirigidas ao público infantil mas também aos adultos.
Os contos de fadas têm este propósito. O de ensinar princípios morais às crianças, pela positiva, de modo a que não fiquem assustadas mas, também, estimular a libertação das suas emoções.
O que ensinam os contos de fadas às crianças?
Quando imaginamos e nos confrontamos com os sentimentos, angústias e dualidades da personalidade de outros, aprendemos a reconhecer os nossos próprios sentimentos, o que é meio caminho andado para aprender e conseguir lidar com eles.
Os contos de fadas permitem aliviar angústias (abandono, rejeição, medo, perigo) das crianças, sentimentos que, tantas vezes, estão na origem dos seus comportamentos. Contudo, parece que muitos adultos pensam que assustar as crianças, para se portarem bem, é mais eficaz.
A importância de trabalhar em conjunto
No conto Os Dois Irmãos, dos irmãos Grimm, os animais que acompanham cada um dos irmãos nas suas aventuras, trabalham em conjunto e, quando o fazem, protegem os seus donos de grandes perigos. Isto demonstra que, trabalhar em conjunto nos leva mais longe e nos ajuda a viver com sucesso.
Criar com bondade gera filhos bondosos
Os contos de fadas retratam, muitas vezes, seres cuja cabeça se assemelha à de um animal mas com corpo humano. Isto sugere que algo negativo se passa com a cabeça, com o espírito. Os pais que não sabem, ou que não conseguem controlar as suas emoções e que agem com base na impaciência e na cólera, acabam por criar filhos inseguros e inadaptados.
Se os pais forem bondosos, pacientes, seguros e positivos, educam os seus filhos nos mesmos princípios. “Não concebam um filho enquanto zangados; não recebam com zanga e impaciência a sua vinda“.
A importância de educar para a autonomia
Para se ser independente, temos que querer ser independentes. A criança, para se tornar autónoma e definir o seu próprio caminho, tem que ter espaço e incentivo para ouvir e interpretar os seus próprios sentimentos e, com a segurança do apoio dos pais, ganhar coragem para deixar a “segurança do ninho” e enfrentar o mundo.
Mas a independência também traz responsabilidade e esta, o medo de falhar e de sofrer.
Quando estas consequências são encaradas de forma natural, como uma possibilidade bem real e concreta, a criança aprende a desenvolver mecanismos de defesa e, com resiliência, a persistir nos seus objetivos, mesmo que encontre alguns espinhos pelo caminho.
As aparências iludem
Tal como nos ensina a história da Gata Borralheira, a aparência não diz nada sobre o valor da pessoa. Se formos verdadeiros connosco, triunfaremos sobre aqueles que não o são.
Se mantivermos vivas as experiências e os ensinamentos positivos e formos confiantes e fieis a nós próprios, acabaremos por vencer as dificuldades e triunfar sobre aqueles que não nos desejam bem. Se não fosse obrigada a ser uma “Gata Borralheira”, nunca teria reunido as condições para conhecer o seu príncipe.
Lidar com o medo para o vencer
Os contos de fadas também nos ensinam que enfrentar os medos é a melhor forma de os vencermos. Todos os heróis enfrentam grandes perigos e fazem grandes jornadas para, finalmente, triunfarem.
Matam dragões, lutam com gigantes e monstros com poderes sobrenaturais, enfrentam personagens dissimuladas, falsas e invejosas ou ganham coragem para lutar quando outros dependem dessa força para combater o mal e sobreviver.
Mas, se, ao longo das suas jornadas, os heróis têm dúvidas, inseguranças e anseios, porque não haveremos nós de os ter também?
O auto-conhecimento, a coragem, a esperança e o trabalho dedicado são formas de enfrentar e vencer o medo. Pode exigir mais ou menos luta, mas, no final, o esforço é sempre recompensado.
Bibliografia: Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Bettelheim