O vínculo com o bebé é instantâneo e automático?
Pode acontecer que os pais se apaixonem pelo seu bebé no momento imediato ao nascimento mas a permanência desse amor é um processo de aprendizagem – de aprender a conhecerem-se a si mesmos e ao bebé ao longo do tempo.
No seu livro “On Becoming a Family – The Growth of Attachment” (edição 1981), o pediatra norte-americano T. Berry Brazelton afirma:
“O apego, em relação a um novo bebé, não acontece da noite para o dia. Muitos pais acham tentador crer que ter um bebé e ligar-se a ele é algo instintivo e que toda a gente está “pronta” para assumir o papel de pai ou de mãe, quando o bebé chega.” que quando o parto corre normalmente, “o vínculo com o bebé está assegurado e será intensamente gratificante“.
O vínculo com o bebé é instintivo mas não é instantâneo e automático.
O vínculo com o bebé é instintivo mas não é instantâneo e automático. O vínculo entre pais e bebé é antes um processo contínuo. A pressão para que os pais façam tudo certo, no momento correto, diminui a calma e a autoconfiança dos pais que se sentem impelidos a compreender todas as necessidades do bebé e a responder-lhes de modo imediato.
Para além disso, o mito de que o vínculo é imediato, que não requer tempo e convivência, aumenta esse sentimento de culpa dos pais.
Aprender a ser uma mãe ou pai é, para a maioria das pessoas, um complexo processo.
Para além das expectativas dos próprios pais em relação à parentalidade, há uma bagagem que trazem das suas próprias experiências enquanto filhos. Uma imagem que têm do que é ser mãe ou pai segundo a sua própria experiência.
Alguns decidem que vão fazer tudo de outra forma com o seu filho, outros compreendem agora melhor as motivações dos seus próprios pais. Para além disso, hoje em dia, são raros os pais que vêem de famílias grandes, com muitas crianças.
As referências e o suporte familiar é menor do que há alguns anos atrás em que os irmãos mais velhos tinham a seu cargo cuidar dos mais novos assumindo, muitas vezes, essa responsabilidade no dia-a-dia.
Atualmente, a pressão em “fazer tudo bem“, priva os pais do essencial que é desfrutar ao máximo do seu bebé. Estar em sintonia com o bebé exige tempo e conhecimento recíprocos. Mas o apego não é um vínculo que se estabelece apenas dos pais para o bebé mas deste para com os pais.
Hoje sabe-se que o bebé nasce preparado para interagir com os seus cuidadores e responder aos eventos importantes do seu ambiente. O recém-nascido não é só um ser amorfo que come e dorme a maior parte do tempo.
Ao mesmo tempo que interage, o bebé cresce. Desenvolve o seu sistema nervoso e motor, base do seu progresso contínuo.
À medida que os pais aprendem sobre o seu bebé, aprendem também sobre si mesmos. Quando cuidam, recebem a resposta do bebé. Quando não recebem uma resposta positiva do bebé, aprendem sobre a frustração de serem pais. Quando recebem uma resposta positiva, compreendem que estão no caminho certo.
O vínculo e os cuidados ao bebé não são só sobre apego mas, também, sobre os processos de aprendizagem sobre como lidar com a cólera, frustração, fracasso, desespero, com a vontade de bater com a porta e virar costas.
Aprender a viver com esses sentimentos e a olhar para além deles à procura de simples recompensas proporcionadas pelas respostas de agrado do bebé, ajuda os pais a terem o equilíbrio necessário. É neste equilíbrio que se cimenta o apego.
Pode acontecer que os pais se apaixonem pelo seu bebé no momento imediato ao nascimento mas a permanência desse amor é um processo de aprendizagem – de aprender a conhecerem-se a si mesmos e ao bebé ao longo do tempo.
Bibliografia: “On Becoming a Family – The Growth of Attachment” (edição 1981), T. Berry Brazelton.