Segundo a cronista norte-americana Jessica Joelle Alexander e a coach e psicoterapeuta dinamarquesa Iben Dissing Sandahl , a procura pela felicidade começa na infância e os pais são a chave do sucesso. Porquê?
Porque a prática parental tem um papel crucial na forma como as crianças são educadas e estimuladas. Brincar, comunicar e saber ouvir, estimular a empatia, aconchegar e elogiar cria crianças resilientes, ajustadas, resistentes, confiantes e felizes.
Como educam os pais mais felizes do mundo?
Brincar livremente
As crianças devem ter muito tempo para brincar livremente. De facto, a principal ocupação das crianças é brincar.
A atual pressão para inscrever as crianças em todos os tipos de atividades, em “ocupar o tempo com coisas úteis“, deixas-lhe pouco tempo para o essencial.
Para as autoras, “brincar“, não é praticar um desporto ou participar numa atividade organizada pelo adulto mas sim deixar a criança à vontade para brincar como lhe apetecer, durante o tempo que quiser.
A brincadeira livre ensina as crianças a serem menos ansiosas, mais resilientes, ajustadas e a lidar melhor com o stress.
Ser autêntico e compreender as nossas próprias emoções
Os dinamarqueses acreditam que também se deve falar de tragédias e de acontecimentos perturbadores. A vida não é um conto de fadas. O sofrimento é tão importante como a felicidade no processo de aprendizagem.
Esta forma de estar também nos ajuda a sentir gratidão pelas coisas mais simples da vida e que, por vezes, julgamos garantidas por nos focarmos demasiado na vida do conto de fadas.
A honestidade cria um sentido de identidade mais forte. Como o elogio pode ser usado para formar uma mentalidade de crescimento e não uma mentalidade fixa, tornando as crianças mais resilientes.
Ser optimista, mas realista ao mesmo tempo
Os pais dinamarqueses praticam o “otimismo realista”, isto é, a capacidade de reenquadrar uma situação tensa. Todas as histórias têm um lado alternativo. Uma situação negra há-de ter algum aspeto positivo e é nesse que nos devemos centrar para conseguir controlar a dor e a desilusão.
Ou seja, é preciso saber apreciar os aspetos positivos da nossa vida mesmo quando nos deparamos com um cenário adverso. Esta postura é fundamental para manter o bem-estar e o equilíbrio emocional.
A chave está na linguagem, na forma como reagimos às situações e como as tentamos interpretar. Ser prático e saber enquadrar as situações ajuda na forma como o medo, a dor e a ansiedade são interpretados.
Isto não significa ignorar o lado negativo mas de fazer notar, de forma muito prática, que existe também um outro lado em que podemos não ter pensado. Os pais dinamarqueses escolhem focar-se no lado bom das pessoas e não no mau. Isto não significa ignorar a realidade mas antes, focar-se nos ângulos mais positivos.
Praticar a empatia
A empatia é a capacidade de reconhecer e compreender os sentimentos dos outros, uma ferramenta que parece estar cada vez mais em desuso entre os mais novos. Em contrapartida, dizem as autoras, o narcisismo aumentou significativamente.
Mas porque é que é a empatia é tão importante?
“A empatia facilita a nossa ligação com os outros. Desenvolve-se na infância através da relação com a figura de afeto. Uma criança aprende, em primeiro lugar, a sintonizar-se com as emoções e estados de espírito da sua mãe e, mais tarde, com as de outras pessoas. É por isso que o contacto visual, as expressões faciais, o tom de voz e outras atitudes, são tão importantes no início de vida” (Pais à Maneira Dinamarquesa, p. 103).
Os dinamarqueses levam a empatia tão a sério que esta é considerada uma espécie de disciplina, com direito a ocupar uma hora por semana do calendário escolar das crianças dos 6 aos 16 anos.
Nada de ultimatos
Muitos pais sentem que, em algum momento, precisam de recuperar o controlo. Quando os filhos não obedecem, não ouvem e continuam a portar-se mal, reagem gritando, berrando, ameaçando ou retirando regalias.
Estudos recentes concluíram que bater não só não funciona como pode mesmo danificar o desenvolvimento das crianças a longo prazo. Crianças que sofrem de abusos físicos ou verbais podem sentir-se deprimidas, desvalorizadas e afetar negativamente a sua auto-estima para toda a vida.
Na Dinamarca raramente se vê alguém a gritar aos seus filhos. Manter a calma, não perder o controlo, ser firme e bondoso parecem ser os ingredientes desta receita. Se os pais não conseguem controlar-se como podem esperar que as crianças o consigam fazer?
Evitar lutas de poder e usar uma abordagem mais democrática resulta em confiança, resiliência e crianças mais felizes e num ambiente de segurança e bem-estar.
Passar tempo juntos e “hygge” (aconchego)
Para os dinamarqueses, o aconchego é uma forma de estar na vida que promove a proximidade entre amigos e familiares, numa atmosfera acolhedora, que valoriza a entreajuda e deixa o drama e os desejos individuais de parte em nome da união de grupo.
A capacidade de nos concentrarmos no “nós” e não no “eu” permite eliminar muitos dramas e negativismos associados à vida familiar.
Uma forte rede social é um dos fatores mais importantes na nossa felicidade geral. Criar aconchego pode ajudar-nos a dar este poderoso presente aos nossos filhos.
Bibliografia: Pais à Maneira Dinamarquesa de Jessica Joelle Alexander e Iben Dissing Sandahl. Edição Arena, 2ª edição, outubro de 2016