Foi ontem conhecido o relatório da comissão independente que tem investigado as suspeitas de abusos sexuais a crianças por parte dos membros da Igreja Católica portuguesa. Pelo menos (número mínimo) 4815 crianças foram vítimas de abusos sexuais ao longo dos últimos 70 anos.
A comissão, que anunciou publicamente os resultados ontem, dia 13 de fevereiro, deixou claro que este número é apenas a ponta do icebergue. Desde 1950, a maioria dos abusadores acusados são padres e 100 deles ainda deverão estar no ativo.
O psiquiatra infantil Pedro Strecht, que presidiu à comissão independente de investigação de abusos sexuais na Igreja, prestou “uma homenagem sincera àqueles que foram vítimas de abuso durante a infância e ousaram dar voz ao silêncio”, sublinhando que são “muito mais do que uma estatística”.
Pelo que foi apresentado, a maioria dos perpetradores (77%) eram padres e a maioria das vítimas são do sexo masculino, disse Pedro Strecht, acrescentando que foram abusados em escolas católicas, igrejas, casas de padres, confessionários, entre outros locais. A maioria dos abusos sexuais ocorreu quando as crianças tinham entre 10 e 14 anos. Foi revelado também que a vítima mais jovem tinha apenas dois anos de idade.
Membros da comissão de investigação leram alguns dos testemunhos das vítimas durante a apresentação. Foi escolhida uma amostra que contém alguns casos, descritivos, dos abusos a que estas crianças foram sujeitas.
O bispo José Ornelas, chefe da Conferência Episcopal, assistiu à apresentação do relatório final e já garantiu que perante os abusados a tolerância é zero e pediu desculpa às vítimas. A Igreja já havia dito que estava preparada para tomar as medidas apropriadas, incluindo investigação dos membros que ainda estarão no ativo.
A comissão está a preparar uma lista dos sacerdotes acusados que ainda se encontram a exercer funções e Pedro Strecht defendeu, em entrevista à RTP, que estes homens deverão ser imediatamente afastados de qualquer contacto com crianças. 25 casos, que ainda podem ser investigados, foram enviados para o Ministério Público.
14 de fevereiro 2023