Aproximadamente 20% a 30% das mulheres têm sangramento no início da gravidez – sobretudo, nas primeiras 20 semanas. Cerca de 50% destas mulheres acabam por sofrer um aborto espontâneo, algumas delas, sem se chegarem a aperceber que conceberam.
Todo e qualquer sangramento na gravidez deve constituir preocupação, motivo pelo qual, deve contactar o seu médico imediatamente.
Sangramento no início da gravidez
Cada gravidez e cada mulher são únicas e, por esse motivo, o sangramento no início da gravidez pode limitar-se a uma perda mínima de sangue ou, pelo contrário, ser uma perda abundante. Ambas as situações são um sinal de alerta e deve procurar ajuda médica para correto diagnóstico e tratamento.
Sangramento no início da gravidez: causas
A perda de sangue por via vaginal, nas primeiras semanas da gravidez, pode dever-se a várias causas que podem estar, ou não, diretamente relacionadas com a gravidez. Contudo, a causa mais comum para o sangramento no início da gravidez é o aborto espontâneo.
A causa mais comum de sangramento no início da gravidez é um aborto espontâneo e a causa mais grave de sangramento vaginal, a gravidez ectópica.
O 1º trimestre é particularmente sensível para o desenvolvimento embrionário e, por uma variedade de fatores, o embrião pode não ser compatível com a vida. Nestas circunstâncias, a natureza encarrega-se de por fim à gestação.
Por volta da 13ª semana de gravidez, com a finalização do desenvolvimento das principiais estruturas do corpo e dos órgãos vitais do bebé, o risco de aborto cai para cerca de 65%.
1. Aborto espontâneo
Qualquer tipo de aborto pode causar sangramentos do útero fora do ciclo menstrual (metrorragia):
- Ameaça de aborto: assim designado quando se está perante uma gravidez evolutiva, ou com potencial de evoluir, com embrião / feto vivo, membranas amnióticas intactas e com sangramentos do útero;
- Aborto inevitável: quando há rutura das membranas amnióticas, dilatação do colo do útero, sangramentos do útero com dor, expulsão iminente do produto da conceção ou presença deste no colo do útero;
- Aborto completo: quando todo o conteúdo do útero, incluindo o embrião / feto e a placenta, são expulsos e o colo do útero está fechado após a expulsão;
- Aborto incompleto: quando parte do produto da gestação foi expulso para fora do útero mas parte continua retido no útero;
- Aborto séptico: quando há uma infeção no interior do útero antes, durante ou após o aborto;
- Aborto retido: quando o embrião / feto se mantém dentro da cavidade uterina mas não se registam batimentos cardíacos em saco gestacional com diâmetro superior a 20 mm, ou há saco gestacional com diâmetro inferior a 20 mm, sem alteração ao fim de 7 dias. O colo do útero mantém-se fechado, sem sinal de aborto, mas o embrião / feto não sobreviveu;
- Aborto recorrente: quando a mulher sofre de três ou mais abortos.
2. Gravidez ectópica
Outra complicação que pode estar na origem do sangramento no início da gravidez é uma gravidez ectópica. Esta é a causa mais perigosa para a saúde da mulher.
Numa gravidez ectópica, o embrião não desceu até ao útero, onde se deveria implantar, e alojou-se nas trompas de Falópio, nos ovários, no canal cervical ou no abdómen, onde se desenvolve.
A gravidez ectópica é uma urgência obstétrica porque pode provocar a rutura dos tecidos maternos e causar perda abundante de sangue.
Sangramento no início da gravidez: sinais de alerta
No início da gravidez, é importante estar atenta em relação a alguns sintomas e sinais que podem indicar algum problema com a gestação:
- Sintomas que sugerem a pressão arterial demasiado baixa como desmaios, tonturas ou ritmo cardíaco acelerado;
- Perda de grande quantidade de sangue pela vagina ou sangramento acompanhado de coágulos;
- Dor abdominal intensa, que piora quando a mulher se move ou muda de posição;
- Dor semelhante às cólicas menstruais (contrações);
- Febre e calafrios, dor abdominal constante, secreção vaginal com cheiro fétido (alerta para aborto séptico);
- Inchaço dos pés ou das mãos, náuseas intensas, vómitos, inchaço abdominal, perda de tecido pela vagina com um aspeto semelhante a um cacho de uvas (alerta para mola hidatiforme ou outra forma de doença trofoblástica gestacional);
- Manchas de sangue ou sangramento leve, com secreção vaginal, dor durante a relação sexual, dor pélvica, ou ambas (alerta para vaginite);
- Manchas de sangue ou sangramento leve com dor abdominal aguda, dor com irradiação para o ombro, náuseas e vómitos, febre, distensão abdominal (alerta para cervicite – infeção do colo do útero).
Sangramento no início da gravidez: quando consultar o médico?
Perante qualquer um dos sinais de alerta acima indicados, ou outros referenciados pelo médico, deve procurar-se ajuda médica imediata. No hospital / maternidade será sujeita a observações para determinar as causas do sangramento e a viabilidade do embrião / feto.
Como é feito o diagnóstico?
- Os sintomas são avaliados;
- É feita uma análise da história obstétrica da mulher, incluindo gestações anteriores, abortos espontâneos e abortos;
- É medida a tensão arterial;
- É realizado um exame físico para observação do colo do útero e a sensibilidade do útero ao toque;
- Considerando a idade gestacional, poderá ser feita uma ecografia com Doppler para confirmar se existem batimentos cardíacos fetais.
De acordo com as conclusões destas observações, o médico poderá solicitar exames de diagnóstico complementares para aferir as causas do sangramento.
É importante saber responder às seguintes questões:
- Grau de gravidade (número de pensos higiénicos usados por hora, por exemplo);
- Se foi expulso algum tecido ou coágulo;
- Caso exista dor (quando se iniciou, quanto tempo dura, se é constante ou intermitente, se diminui quando a mulher muda de posição, se começa em algum ponto específico, se é uma dor tipo cólica menstrual, etc.).
Exames complementares de diagnóstico
Se a gravidez ainda não foi confirmada por um médico (a mulher pode ainda não saber que está grávida) é realizado um teste à urina para confirmação de uma eventual gravidez. Se esta for confirmada, serão solicitados uma série de exames:
- Determinação do tipo sanguíneo e do fator Rh
A necessidade de determinar o fator Rh materno, que pode ser positivo ou negativo, deve-se ao facto de uma mulher grávida com sangue Rh negativo precisar de ser tratada com imunoglobulina anti-d Rh para impedir a produção de anticorpos que podem atacar os glóbulos vermelhos do feto em gestações seguintes.
- Ecografia vaginal
Para verificar se o saco gestacional, embrião/ feto estão presentes e se há batimento cardíaco fetal (que pode ser detetado a partir da 6ª semana de gestação). A ecografia também permite identificar se ocorreu um aborto, tipo de aborto ou se se trata de uma gravidez ectópica.
- Avaliação dos níveis da hormona hCG
A hormona hCG ou hormona da gravidez, é produzida pela placenta com a função de inibir uma nova ovulação e garantir a manutenção da gestação. Medir os níveis de hCG permite interpretar os resultados da ecografia e distinguir uma gravidez normal de uma gravidez ectópica. Na gravidez molar, os níveis de hCG são muito elevados.
- Hemograma completo
Tratamento do sangramento no início da gravidez:
Se o sangramento for abundante, e a mulher entrar em choque, é administrado sangue por via intravenosa.
1. Quando não há possibilidade de evolução favorável da gravidez
Quando se confirma que não há forma de manter a gravidez, esta é interrompida.
No caso de uma gravidez ectópica, o médico poderá optar entre a toma de medicamentos ou pela remoção cirúrgica, dependendo do estádio e da localização do embrião.
Numa gravidez molar, o tecido que se formou de forma anormal no útero é removido.
2. Possibilidade de evolução favorável da gravidez
Embora possa ser aconselhado repouso na gravidez face a situações de ameaça de aborto, aborto inevitável ou aborto incompleto, não há evidência de que o repouso na cama ajude a prevenir ou a evitar o aborto espontâneo.
Se não houver evolução ou se surgirem outras complicações, pode ser necessário realizar uma curetagem uterina (ou aspiração do produto de conceção).
Abster-se de relações sexuais é aconselhável, embora as relações sexuais não estejam ligadas diretamente ao risco de aborto.
Esta informação é meramente indicativa, não pretendendo, em qualquer momento, substituir as orientações de um profissional médico ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento.