Curetagem, ou aspiração, é um exame complementar utilizado em ginecologia, quer diagnóstico de endometriose (através da colheita de material do endométrio para exame em caso de suspeita da doença) quer para tratamento (de um aborto).
Curetagem e nova gravidez
O que é curetagem?
A curetagem pode ser utilizada para recolha de amostras do endométrio (curetagem semiótica realizada com anestesia local), ou para evacuação do conteúdo uterino duma gravidez não evolutiva, associada a alterações fetais que possa constituir uma ameaça para a mulher (aborto).
Curetagem em caso de aborto
Nos meses iniciais da gravidez, o aborto espontâneo é um problema que afeta cerca de uma em cada 5 gestações. O aborto espontâneo pode ser classificado em vários tipos dependendo das circunstâncias da perda do embrião / feto.
Quando parte do produto da gestação é expelido para fora do útero, através da vagina, mas parte continua retido no útero (aborto incompleto) ou quando o embrião / feto se mantém dentro do útero mas não se registam batimentos cardíacos (aborto retido) pode ser necessário limpar o útero através de uma cirurgia, a chamada curetagem.
Um dos riscos associados a aborto incompleto é a infeção. Assim, perante qualquer um dos sintomas abaixo, a mulher deve procurar assistência médica urgente para tratamento:
- Dor abdominal;
- Útero sensível à apalpação;
- Sangramento prolongado;
- Mal-estar;
- Febre;
- Corrimento vaginal com cheiro fétido;
- Corrimento vaginal purulento;
- Dor à mobilização do colo uterino.
Curetagem: limpar o útero dos restos de produtos da gestação
Em ambos os tipos de aborto (incompleto e retido), parte do produto da gravidez fica retida no útero, sendo necessário esvaziá-lo para que voltem os ciclos menstruais normais e o casal possa voltar a tentar engravidar, se assim o desejar.
No caso de uma gravidez não evolutiva, a expulsão do conteúdo uterino pode ser realizado de várias formas, considerando as circunstâncias específicas da mulher (em que fase se encontra o aborto, idade gestacional, estado físico e psicológico da mulher):
- Naturalmente, se a mulher estiver na disposição de aguardar algumas semanas, o que é particularmente doloroso emocionalmente se o bebé estiver morto, ou se o aborto está ou não em curso;
- Medicação, por via oral ou introduzida na vagina e que leva o corpo a expelir os tecidos fetais e a placenta;
- Cirurgia, remoção do produto da gravidez através de dilatação e curetagem.
Assim, a curetagem pode ser o meio selecionado para limpar o útero de um aborto incompleto, quando o processo já se desencadeou naturalmente mas parte ficou retida na cavidade uterina, ou quando o embrião / feto morreu e o casal decide não esperar que o processo de expulsão se inicie naturalmente.
Como é realizada a curetagem?
A curetagem, ou aspiração do produto de conceção, implica a dilatação mecânica do colo do útero, se este se encontrar fechado, para acesso à cavidade uterina. Após a dilatação, o útero é esvaziado por sucção, raspagem, ou ambos os procedimentos.
Na maioria dos casos, a curetagem após aborto é realizada com anestesia geral mas depende dos casos.
Após a intervenção cirúrgica, segue-se um sangramento vaginal que pode durar cerca de uma semana. O tecido fetal recolhido é submetido a exame para avaliação da causa do aborto.
Riscos da curetagem
Como a dilatação e curetagem é um método invasivo, tem alguns riscos de infeção associados ou lesões traumáticas. Entre os sinais e sintomas de infeção encontram-se:
- Dor abdominal aguda;
- Dor à mobilização do útero;
- Distensão abdominal;
- Abdómen rígido;
- Dor com irradiação para o ombro;
- Náuseas e vómitos;
- Febre.
O tratamento é cirúrgico, através de laparotomia (incisão através da parede abdominal para aceder à cavidade abdominal), para reparação das lesões.
Tipo sanguíneo da mulher e imunoglobulina Anti-D (Rh)
Após a curetagem, se o tipo de sangue da mulher é Rh negativo, é administrada imunoglobulina anti-D, visto que o feto Rh positivo começa a ter antigénio Rh em circulação a partir da 6ª semana de gravidez, induzindo a “produção de anticorpos anti-D, nas grávidas Rh-, ficando estas sensibilizadas. Numa futura gestação, a consequência desta sensibilização será a doença hemolítica perinatal (DHPN), situação responsável por uma morbilidade e mortalidade perinatal significativa.” [1]
Assim, a recomendação é de em “situação de aborto espontâneo completo ou qualquer tipo de aborto necessitando de curetagem uterina, após as 6 semanas de gestação“, devendo “no caso de metrorragia intermitente, repetir anti-D de 6-6 semanas.” [1]
Quanto tempo aguardar para ter relações após curetagem de um aborto?
O tempo para retomar a vida sexual após a curetagem varia segundo o tempo necessário para a mulher recuperar física e emocionalmente da perda da gestação.
Durante a fase de recuperação dos tecidos internos do útero, as relações sexuais não são aconselháveis pelo risco acrescido de infeção.
Gravidez após curetagem de um aborto
Depois de um aborto espontâneo, o ideal é esperar entre 3 a 6 meses para tentar engravidar novamente. Este é o tempo que sistema reprodutor precisa para ficar regularizado e o corpo voltar à normalidade.
Quando decidir que se sente confiante para voltar a tentar, deve marcar uma consulta para se preparar para uma nova gravidez.
Depois de um aborto espontâneo, pode começar a ovular logo após 3 a 4 semanas e engravidar se tiver relações sexuais não protegidas. Contudo, como o útero ainda está fragilizado pela curetagem, é aconselhável usar métodos contraceptivos (pílula ou preservativo) para evitar uma gravidez precoce, antes do útero estar preparado para acolher uma nova gestação.
Como evitar o aborto após a curetagem?
As medidas aconselhadas para uma conceção bem sucedida após curetagem, são semelhantes às recomendadas a todos os casais que querem tentar engravidar:
- Alterar hábitos e estilos de vida menos saudáveis, como consumo de álcool, tabaco e drogas recreativas;
- Iniciar a toma de ácido fólico três meses antes de começar a tentar engravidar;
- Realizar os exames necessários para se certificar que o útero está completamente sarado;
- Aguardar luz verde do ginecologista para voltar a tentar;
- Seguir uma alimentação saudável e equilibrada favorável à fertilidade.
O QUE É O ENDOMÉTRIO?
O endométrio é a mucosa que reveste a parede uterina. É formado por fibras musculares lisas e estimulado por uma hormona folicular (estradiol) e pela progesterona.
A progesterona é uma hormona feminina, produzida pelo corpo lúteo (ovário) durante a segunda metade de um ciclo menstrual. Espessa a camada de revestimento interno do útero com o fim de prepará-la para aceitar a implantação de um óvulo fertilizado.
Não ocorrendo a implantação do óvulo fertilizado, o endométrio descola-se da parede uterina e sai pela vagina, dando origem à menstruação.
[1] Profilaxia da Isoimunização Rh – Circular Normativa nº 2/DSMIA de 15/01/2007, da Direção-Geral da Saúde – Portugal