Especialistas reunidos no XIII Simpósio Internacional de Aleitamento Materno, defendem o papel do aleitamento materno como intervenção de saúde pública de primeira ordem e comparam o impacto do leite materno ao das vacinas.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumonologia, tendo por base o Observatório Nacional de Doenças Respiratórias da Direção-Geral da Saúde, a asma afeta cerca de 1,1 milhão de crianças e adultos em Portugal.
As conclusões agora apresentadas vêm comprovar a importância do leite materno como instrumento de prevenção contra as doenças respiratórias crónicas e incuráveis, como a asma.
Impacto do leite materno comparado ao das vacinas
A alimentação exclusiva com leite materno, durante pelo menos os primeiros 6 meses, reduz até cerca de 33% os casos de respiração ofegante ou pieira nos bebés durante o primeiro ano de vida.
No caso dos bebés com mães asmáticas a proteção é ainda mais eficaz: a redução de casos atinge até cerca de 62% dos bebés amamentados com leite materno em exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida.
Estes são os resultados das investigações apresentados no XIII Simpósio Internacional de Aleitamento Materno realizado em Paris, França, nos dias 22 e 23 de março de 2018.
Leite materno e proteção contra as doenças pulmonares
O leite materno protege os recém-nascidos das doenças pulmonares e favorece o correto desenvolvimento do aparelho respiratório. Esta é uma das principais conclusões de um estudo liderado pela professora adjunta de Pediatria e Saúde Infantil da Universidade de Manitoba (Canadá), Meghan Azad.
Impacto do leite materno na saúde infantil
As pieiras são uma das principais causas de hospitalização durante a infância. Trata-se de episódios em que os bebés têm dificuldades para respirar durante pelo menos 15 minutos, produzindo um silvo no peito a cada inspiração.
De acordo com as conclusões do estudo da professora Meghan Azad, cerca de 20% e 50% dos recém-nascidos experimentam pelo menos um episódio de respiração ofegante até primeiro ano de vida.
Os bebés prematuros e aqueles cujas mães têm asma são ainda mais beneficiados com as propriedades do aleitamento materno no que respeita à prevenção de doenças respiratórias.
Os dados do estudo também revelam que os bebés que não são alimentados em exclusivo com leite materno e que o combinam com outro tipo de alimentação, como o leite de fórmula, sofrem o dobro de episódios de pieiras e maiores dificuldades respiratórias.
Até aos 12 meses de vida, manter o aleitamento materno à medida que se introduzem alimentos sólidos na dieta do bebé continua a favorecer o desenvolvimento dos pulmões e a reforçar o seu sistema imunológico.
Leite materno reduz o risco de infeções respiratórias
Estas evidências científicas demonstram o impacto do leite materno na redução do risco de infeções respiratórias e no adequado desenvolvimento dos pulmões do recém-nascido.
A relação entre a prevenção de doenças respiratórias e o leite materno vem, segundo os especialistas, reforçar a recomendação da Organização Mundial da Saúde de manter o aleitamento exclusivo durante os primeiros seis meses de vida.
O sexo no desenvolvimento de doenças respiratórias
Segundo as conclusões apresentadas, os meninos têm uma maior predisposição para sofrer de pieiras. Apesar de ainda não ter sido possível demonstrar por que é o sexo um fator de risco no desenvolvimento de doenças respiratórias, algumas hipóteses defendem que a diferença entre meninas e meninos pode ser provocada pelas hormonas femininas presentes no leite materno.
Dado que o homem e a mulher respondem de forma diferente perante as hormonas sexuais, os efeitos do aleitamento também poderiam ser diferentes.
Outros fatores de risco de doenças respiratórias
Para além do sexo, foram apresentados outros fatores de risco de doenças respiratórias dos bebés como a idade, a etnia ou os hábitos pouco saudáveis (tabaco, marijuana) das mães.
As mães de 35 anos, por exemplo, apresentaram uma maior continuidade na amamentação, quando comparadas com mães mais jovens, que não chegam aos 12 meses. O mesmo ocorre com as mães fumadoras, que abandonam o aleitamento mais cedo.