A introdução de alimentos sólidos
Novos alimentos
A cronologia da introdução dos diferentes alimentos não pode ser rígida, mas cada vez mais se preconiza começar pelo puré de legumes porque se sabe que o sabor doce é inato e não precisa ser estimulado e desenvolvido em contraponto à necessidade do treino dos sabores não doces. Pode seguir-se a papa de cereais, a fruta, a carne, o peixe, os ovos, etc..
Por cada alimento introduzido pela primeira vez, deve haver 3 a 5 dias (tradicionalmente uma semana) de intervalo (para o bebé se habituar ao novo sabor e para caso surja alguma alergia se detectar facilmente o alimento em causa).
A consistência dos alimentos deve transitar, progressivamente, de homogénea (“creme de batido”) para granulosa, desta para partículas mais grosseiras e, finalmente, para fragmentos.
Alimentar à colher
Os alimentos devem ser dados à colher. Inicialmente é natural que o bebé chore ou cuspa tudo entre cada colherada porque estava habituado ao leite que corria continuamente. Isso faz parte da adaptação ao processo de comer com a colher. Deve introduzir a colher bem dentro da boca para que ele engula mais facilmente. Reforço a ideia de que apenas a água e o leite devem ser oferecidos no biberão. Os restantes alimentos devem ser dados à colher!
A importância da água
Com o início da diversificação alimentar é necessário oferecer água entre as refeições aos bebés, principalmente nos dias quentes. Idealmente, entre duas ou mais horas depois da refeição anterior e meia hora antes da refeição seguinte, de forma a garantir um suprimento de 0,4 a 1 litro por dia. De acordo com o teor em flúor da água que o seu filho consome, pode ser necessário ou não dar suplementos em flúor após os 6 meses de idade (se o teor em flúor da água for superior a 0,06 ppm não se deve dar suplementos em flúor).
No caso das águas engarrafadas, se o teor em flúor for superior a 1,5 mg/dl, essa água não deve ser consumida regularmente por crianças abaixo dos 7 anos. Também se recomenda que, no caso das águas engarrafadas, se varie frequentemente a marca das águas, por o propósito de tornar mais equilibrada a composição química global. A água da rede pública (“água da torneira”) é de boa qualidade e pode ser oferecida sem ser fervida após os 4 meses de idade.
A água não deve ser substituída por chás (ricos em taninos, pelo que podem alterar a motilidade intestinal e a absorção de minerais, nomeadamente ferro) ou por sumos (ricos em frutose, sacarose ou glicose, pelo que podem reduzir o apetite, modular o paladar de forma indesejável, promover a ocorrência de cáries, etc.).
O papel do leite
Todas as crianças devem tomar, sempre, pelo menos 0,5 litro de leite (ou equivalentes lácteos) por dia, para ir buscar o cálcio (para ter bons ossos e bons dentes) e, também, para compensar aqueles dias em que a criança “não coma nada de jeito”.
Conte também o leite que vai nos alimentos lácteos (papas, iogurtes, queijos, etc.)* mas nunca dê leite de vaca em natureza antes dos 12 meses! Atualmente recomenda-se que o leite de vaca em natureza (“leite do dia”) só seja dado a partir dos 3 anos de idade. Beber mais do que 0,7-1 litro de leite de vaca em natureza por dia pode ser prejudicial para as crianças mais pequenas porque pode conduzir a anemia por falta de ferro, uma vez que leite de vaca é muito rico em fósforo e em cálcio, inibindo, por isso, a absorção intestinal do ferro.
Por tudo isto, após o início da diversificação alimentar os pais devem evitar substituir refeições por leite, sempre que os seus filhos se recusem a comer.
Outros nutrientes essenciais
Também se sabe que a ferropenia (falta de ferro) nos primeiros anos de vida condiciona as aquisições cognitivas e está associada a uma diminuição do quociente de inteligência em cinco a sete pontos percentuais, com consequente diminuição da produtividade na idade adulta. Os sais minerais e as vitaminas asseguram funções vitais sem as quais a vida seria impossível.
É também importante a fibra que se encontra na fruta, nas verduras, nos legumes, e nos cereais. A sua principal função é regular o funcionamento dos intestinos. Para uma alimentação equilibrada é preciso comer diariamente alimentos que forneçam estes 3 grupos de nutrientes em quantidade suficiente.
Utilização de boiões
Os alimentos infantis comercializados (boiões) poderão ser dados como recurso em viagens ou em férias e não para uso sistemático, dado que muitos deles não têm uma composição de nutrientes equilibrada, além de não favorecerem uma aprendizagem alimentar correta.
Quando iniciar a diversificação alimentar tenha em consideração alguns conselhos:
- Tenha tempo à hora da refeição, não force o bebé a comer, dê pequenas quantidades de cada vez, não prolongue as refeições e use sempre a colher.
- Se surgir alguma reação na pele, diarreia súbita ou dificuldade respiratória (“pieira” ou “falta de ar”) após a introdução de um novo alimento, este deve ser suspenso até contactar com o Pediatra.
* Equivalência entre produtos lácteos: 0,5 l leite = 4 iogurtes naturais = 60 g de queijo
Artigo reproduzido no Mãe-Me-Quer com autorização do autor, Dr. Armando Manuel Rainha Fernandes, Especialista em Pediatria Médica, Centro Pediátrico de Telheiras, última atualização a de setembro de 2013.