O odor dos recém-nascidos poderá tratar a depressão? Este é o tema de um estudo sueco que remonta a 2013. Parece-lhe um tema estranho? Na verdade não é pois quando souber as motivações por trás do estudo ficará a perceber o seu potencial.
Se tem ou já teve um bebé recém-nascido, poderá ter passado bastante tempo a deliciar-se com o perfume doce e delicado que emana ou emanava. É o tal “cheiro a bebé”, um odor bastante próprio que consegue causar sentimentos de felicidade e harmonia.
Aliás, há um estudo que demonstrou que grande parte das mães reconhece o odor do seu bebé recém-nascido! Mais, tudo indica que o odor dos mamíferos recém-nascidos constitua um dos principais mediadores da ligação entre a mãe e o bebé. Nos mamíferos humanos há estudos que associam o odor dos recém-nascidos aos comportamentos maternais.
E o mais curioso é que isto sucede com pessoas com filhos e … também pessoas sem filhos. Porquê?
Como é que o odor dos recém-nascidos poderá tratar a depressão?
Tudo começou quando o biólogo Johan Lundström sentiu como era maravilhoso cheirar a cabeça da sua filha recém-nascida. Esse facto fê-lo pensar sobre o que poderia causar tal prazer. Por isso, o investigador do famoso Instituto Karolinska na Suécia decidiu tentar perceber o porquê, indica um artigo divulgado pela revista Sciencenordic.
Assim, Johan Lundström e colegas recrutaram 30 mulheres para conduzir o seu estudo. 15 das mulheres tinham recentemente sido mães e as outras 15 não tinham filhos.
As participantes foram expostas a vários odores sem identificação, entre os quais se encontrava o odor de um recém-nascido. As atividade nos cérebros das mulheres quando eram expostas aos odores foram registadas através de imagens por ressonância magnética
Em geral, as mulheres tiveram dificuldades em identificar o odor do recém-nascido. Acharam-no discreto mas agradável. Contudo, os cérebros das participantes revelaram uma realidade bem diferente!
A mesma reação de quem sacia o vício de uma droga
Efetivamente, ao experienciar o odor do recém-nascido, os níveis de dopamina aumentaram na região do cérebro das participantes associada à gratificação. Esta reação é semelhante à que o cérebro exibe quando se sente o odor de um alimento delicioso ou se sacia o vício de uma droga.
Os cérebros das participantes que eram mães revelaram, no entanto, uma reação mais forte do que as que não eram mães.
Ao analisarem as várias imagens de ressonância magnética obtidas durante o ensaio, os investigadores concluíram que o odor do recém-nascido tinha exercido o mesmo efeito que os medicamentos usados no tratamento de problemas mentais.
O odor dos recém-nascidos possui 150 substâncias químicas diferentes
Com estas descobertas, a equipa de Johan Lundström espera futuramente conseguir desenvolver um spray nasal que possa tratar problemas mentais, como a depressão, de forma segura e menos efeitos adversos.
Isto seria ótimo pois as substâncias químicas atualmente usadas para tratar depressões, por exemplo, têm que ser administradas em doses elevadas. Isto deve-se ao facto de essas substâncias terem que passar a barreira entre o sangue e o cérebro que protege este órgão.
Por outro lado, uma substância química administrada através do nariz iria diretamente para o cérebro. adicionalmente, um medicamente baseado nas substâncias químicas presentes no odor de um recém-nascido teria provavelmente menos efeitos secundários.
No entanto, isso não sucederá tão cedo pois os investigadores têm agora que descobrir quais são as substâncias químicas no odor dos recém-nascidos que desencadeiam esse aumento de dopamina no cérebro que conduz à sensação de bem-estar e harmonia observados.
Acontece que a equipa não conseguiu ainda identificar todos os componentes químicos presentes no odor dos recém-nascidos.
“O corpo de um bebé contém em média cerca de 150 químicos. E nós ainda temos que identificar quais desse têm um efeito positivo sobre o cérebro humano”, avançou Johan Lundström.
E os homens?
Fica ainda por saber se o efeito benéfico do odor dos recém-nascidos também se aplica aos homens já que este ensaio foi conduzido apenas com mulheres.
O investigador acredita, no entanto, que não haverá diferenças entre ambos os sexos no que diz respeito à reação do cérebro ao odor dos recém-nascidos. Este é precisamente o próximo passo nessa investigação pois a equipa pretende agora conhecer o efeito do odor dos recém-nascidos em homens.