A maternidade altera o cérebro. Esta é a conclusão de um novo estudo conduzido por Mariana Pereira e Joan Morrell, publicado na revista da especialidade, eNeuro.Mas a maternidade altera o cérebro como? Com efeito, a maternidade domina a área do cérebro responsável pelas decisões.
Por outras palavras, as áreas do cérebro que controlam a tomada de decisão pelas mães privilegiam a proteção e sobrevivência dos filhos acima de tudo o resto. Estes resultados foram observados em experiências com ratos.
A maternidade e as mudanças no cérebro
Se observarmos as mães à nossa volta, tanto humanas, como não-humanas, poderemos observar que geralmente a sua prioridade é o bem-estar e proteção dos filhos.
Quem nunca foi perseguido por uma mãe ganso, após se ter aproximado demasiado dos seus filhotes? Ou quem nunca viu uma mãe pássaro aflita quando o ninho com as suas crias ficava em perigo? Todos nós, desde a infância, sabemos que se ameaçarmos o bem-estar das crias de muitíssimas espécies animais, arriscamos ser atacados pelas mães.
A equipa que liderou este estudo decidiu então analisar se a maternidade altera o cérebro das mães, de forma a passarem a dar prioridade ao bem-estar dos filhos acima de tudo o resto.
Os investigadores propuseram-se descobrir a área do cérebro que era responsável por essa alteração nas mães.
Mães dependentes de drogas: filho ou drogas?
Quando tomamos decisões, a região do córtex pré-frontal medial do nosso cérebro processa uma elevada quantidade de informação. Esse processamento inclui a atribuição de prioridade ou a repressão de vários fluxos de informação.
O que na verdade o cérebro está a fazer é a filtrar diferentes estímulos que frequentemente entram em conflito. É o caso das mães dependentes de drogas, no pós-parto. Estas mães têm que escolher entre o seu bebé e irem procurar drogas.
Os tratamentos para a dependência de drogas mais eficazes nesta situação envolvem a enfatização do relação mãe/bebé. O amor de uma mãe pelo bebé é dos elementos mais poderosos para combater a dependência de drogas.
A equipa de investigadores levantou a hipótese de ser uma região do cérebro que levaria uma mãe a dar prioridade ao bebé sobre as drogas. Portanto, os investigadores decidiram tentar descobrir se realmente a maternidade altera o cérebro através de ensaios em ratos fêmea com crias, dependentes de cocaína. O objetivo era descobrir se os ratos escolhiam as suas crias ou a cocaína.
Antes de tudo, decidiram observar onde é que os ratos gostavam mais de passar o tempo. Foi observado que 40% preferia estar com o compartimento onde se encontravam as crias, 40% no compartimento associado à cocaína e os restantes 20% privilegiavam um compartimento neutro.
Uma descoberta singular
A equipa decidiu então inativar várias áreas do cérebro dos animais para verificar se isso faria alguma diferença na forma como tomavam decisões. Para o efeito foi usado um anestético local.
Depois de a maioria das áreas do cérebro ausência de impacto nos comportamentos dos ratos, houve uma que surtiu efeito: o córtex pré-límbico. Com efeito, ao inativarem o córtex pré-límbico das mães, nenhuma escolheu o compartimento da cocaína, tendo 71% preferido o compartimento com as crias. Isto significa que o córtex pré-límbico poderá ser o responsável pela preferência pela cocaína.
Por outro lado, ao inativarem o córtex infra-límbico dos animais, nenhum deles preferiu o compartimento das crias, com 78% a eleger o compartimento da cocaína. Foi ainda observado que os ratos desta vez demonstraram menos comportamentos maternais em relação às crias.
A maternidade altera o cérebro para dar prioridade aos filhos
Como conclusão, os investigadores admitem que o cérebro está dependente do córtex infra-límbico para promover o cuidado das mães em relação aos seus filhos. Isto quer dizer que quando esta área está ativa, as mães escolhem os seus filhos.
Contudo, as drogas têm uma enorme influência sobre o indivíduo. Antes de iniciarem a desativação das várias áreas cerebrais 40% das mães roedoras escolheram a cocaína em detrimento das crias. Só outros 40% escolheram as crias.
De forma geral, este estudo fortalece a ideia que a maternidade altera o cérebro. Há estudos a indicarem que com a maternidade o cérebro sofre uma remodelação e assim se mantém até cerca de dois anos.
As mães provavelmente não ficarão surpreendidas com os resultados deste estudo. É um facto que muitas mães (e pais) admitem que a parentalidade os faz sentir diferentes, fê-los mudar as prioridades. A maternidade provavelmente altera o cérebro…