9 Mitos da alimentação infantil
Ser pai ou mãe é o mais recompensador dos desafios, mas que ainda assim vem acompanhado de muitas dúvidas. Conheça alguns mitos da alimentação infantil e lembre-se que a alimentação saudável se promove desde a infância e com os pais a serem os mais importantes modelos.
1. Desistir: No processo de diversificação alimentar se o meu filho recusa o mesmo alimento duas vezes, devo desistir.
Não deve desistir à primeira ou segunda tentativa! É importante saber que o seu filho provavelmente vai ter expressões diferentes quando provar um alimento pela primeira vez, que derivam da surpresa pelo sabor novo e não do facto de não gostar.
Ainda assim, se a criança recusar um alimento, não pressione e experimente de novo uns dias mais tarde. Estudos têm mostrado a necessidade de tentar cerca de 8 vezes até se certificar que o seu bebé não gosta e que mesmo após estas tentativas, poderá sempre experimentar uma nova vez alguns meses mais tarde.
2. Forçar: Se o meu filho não come tudo o que lhe sirvo tenho que forçar, pelo menos a carne ou o peixe.
É importante que não pressione o seu filho a comer. Lembre-se que as crianças têm necessidades diferentes dos adultos e que na grande maioria das vezes a ideia tida sobre quantidades e os tamanhos é já maior do que o recomendado.
Adicionalmente não é de todo correto que se valorize a carne ou o peixe em detrimento dos hortícolas ou dos hidratos de carbono (massa, arroz, batata). Todos os alimentos são importantes dentro das recomendações, e estudos mostram um consumo de hortícolas abaixo das recomendações por contraponto a um elevado consumo de carne.
Por fim, referir que não deve utilizar os alimentos como castigo ou recompensa. Quantas vezes se ouve “se comeres isso tudo, deixo-te comer um chocolate no fim”? Este é um conceito errado que retira aos alimentos o seu valor real.
3. Ovo: O ovo deve acompanhar a carne ou a peixe.
Os ovos são excelentes fornecedores proteicos pelo que não devem ser encarados como um acompanhamento da carne e do peixe, mas sim um substituto.
Considerando ementas de infantários e escolas, é frequente os pais questionarem o valor nutricional da refeição quando a componente proteica é ovo, por acharem insuficiente.
Saiba que o ovo para além de ser tão bom fornecedor proteico como a carne e o peixe, é ainda rico em minerais (como o ferro, selénio, fósforo) e vitaminas (vitaminas do complexo B, vitamina A, vitamina D e vitamina K).
4. Papas: O primeiro alimento sólido do bebé tem que ser a papa.
O primeiro alimento do bebé não tem que ser obrigatoriamente a papa. Para todo o processo de diversificação alimentar, apesar de existirem recomendações, não há regras absolutas sendo importante reter que a ordem de introdução dos alimentos terá que ter em consideração características do bebé.
Atualmente é cada vez mais frequente iniciar a diversificação alimentar pelas sopas em detrimento das papas de cereais já que são nutricionalmente tão completas e apresentam menor valor energético.
Um dos motivos para esta escolha reside no padrão de crescimento desejável durante o 1º ano de vida e no aumento da prevalência da obesidade infantil, sendo particularmente importante iniciar a diversificação alimentar com as sopas no caso de bebés com excesso de peso.
5. Sabores fortes: Enquanto é pequeno não devo dar ao meu filho alimentos como alho ou cebola por serem sabores muito fortes.
Este é um mito muito frequente, pois os pais temem que os sabores fortes do alho, ou da cebola possam de alguma forma fazer mal à criança. Contudo, e com conta, peso e medida, o alho e a cebola são uma dupla de sucesso que também pode usar nas preparações para o seu filho, habituando-o a sabores tradicionais e saudáveis.
Lembre-se que os alimentos representam um forte e importante estímulo para o bebé durante o seu crescimento, não devendo desvalorizar o sabor, textura e o aspeto das suas refeições.
6. Dentes: Devido ao risco de engasgamento o bebé só deve comer alimentos de textura mais dura depois de ter a dentição.
É importante que durante a diversificação alimentar vá introduzindo introduzir alimentos um pouco menos homogéneos e de textura mais dura. Pedaços de pão, hortícolas (como cenoura cozida) ou fruta (como banana) são boas opções.
Para estes alimentos de fácil mastigação, a criança vai utilizar as gengivas, estimulando os movimentos da língua e dos maxilares e promovendo o desenvolvimento da dentição.
O prolongamento de uma alimentação sob a forma de papas ou purés é assim contraindicado, acrescentado o facto de que se a criança não aprender o processo de mastigação, irá mais tarde recusar a alimentação normal da família (quantas crianças se recusam a comer sopa não passada?).
Contudo, é de referir que não deverá deixar a criança sozinha enquanto estiver a comer pois, tal como mencionado, este será ainda um processo de desenvolvimento e aprendizagem.
7. Açúcar e mel: Se o meu filho não come bem a papa, posso juntar um pouco de açúcar ou de mel.
Não, nunca deve adicionar açúcar ou mel às refeições do seu filho. O açúcar é um aditivo que não deve ser incluído na alimentação das crianças, especialmente durante o primeiro ano de vida.
Lembre-se que as papas de cereais/fruta já contêm açúcar e que ao adicionar mais irá habituar de forma errada o paladar do seu filho, criando uma apetência cada vez maior pelo doce o que não é desejável.
É também frequente que os pais recorram ao mel por considerarem que é um alimento mais natural, contudo este é de evitar devido ao seu elevado teor em açúcar, o que tem efeitos indesejáveis como referido acima.
Adicionalmente o mel não deve ser introduzido no primeiro ano do bebé também por questões de segurança microbiológica. O mel pode conter toxinas que o sistema imunitário, ainda imaturo, da criança não consegue combater.
8. Papas lácteas: Se eu fizer a papa do meu filho com leite vou estar a dar-lhe um maior aporte de nutrientes benéficos para ele.
Se a papa do seu filho for uma papa láctea não deve de todo adicionar leite. Apesar de ser comum este mito, as farinhas lácteas devem ser sempre preparadas com água porque já possuem leite na sua constituição.
Preparar estas papas com leite irá resultar numa sobrecarga para a criança, por exemplo ao nível renal e poderá também contribuir para o excesso de peso.
9. Suplementos: Na fase de crescimento, todas as crianças devem tomar suplementos.
Este é outro mito muito frequente. Uma criança que tenha uma alimentação completa e equilibrada, dentro das recomendações consegue obter todos os nutrientes que precisa para o seu crescimento, não necessitando de qualquer suplemento.
A exceção ao exposto poderá ser para a vitamina D. A vitamina D é importante na manutenção da saúde óssea e obtida através da dieta ou da exposição solar da pele. Contudo, estudos têm reportado uma deficiência desta vitamina na população portuguesa (e especificamente nas crianças).
Assim sendo, as crianças poderão estar em risco de aporte inadequado e como poderá ser importante a suplementação em Vitamina D, especialmente nos meses de inverno (com menor exposição solar).
Contudo, antes de dar qualquer suplemento ao seu filho consulte o seu médico ou nutricionista.
Bibliografia
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