Sabe-se que cerca de 25-35% das crianças enquadra-se no grupo de crianças que os pais consideram difíceis para comer, mas apenas 1-2% tem atingimento do crescimento.
Perante a criança que come pouco temos sempre que nos interrogar:
- A criança estará a comer pouco ou a expectativa dos pais/cuidadores em relação à sua ingestão será exagerada?
- Existe repercussão do crescimento?
1. Ingestão
É fundamental compreender que a ingestão da criança é muito variável e é dependente de vários fatores, como por exemplo, as suas necessidades fisiológicas para o crescimento (que não é constante e tem um ritmo variável) e o seu desenvolvimento psico-motor.
Ou seja, as capacidades que vai adquirindo, como segurar uma colher, também vão permitindo uma evolução em termos de comportamento alimentar.
- Do nascimento aos 4 meses: o bebé tem um ritmo muito variável, com intervalos de 2,5-4h.
- A partir dos 4-6 meses: altura muito importante, porque as capacidades progressivas permitem o início da diversificação alimentar, levando ao desenvolvimento de preferências e aversões. Por volta dos 5-6 meses tenta segurar o biberão e começa a adquirir a posição de sentado. Aos 9 meses inicia a pinça que lhe permite levar pequenos alimentos à boca.
- A partir 12 meses: pela diminuição normal do ritmo de crescimento própria desta idade, acontece a chamada anorexia fisiológica, que se caracteriza por uma diminuição normal do apetite. Esta deve ser respeitada. Simultaneamente a criança vai adquirindo uma maior autonomia.
- 15- 18 meses: esta etapa é pautada pelo adquirir de autonomia. A criança segura a colher e o copo, ganhando a capacidade de se autoalimentar, por mais confusão que possa fazer. A criança começa a limitar a sua ingestão e observa a reação dos pais ao seu comportamento. É importante reforçar positivamente os comportamentos adequados e ignorar os que não são pretendidos.
É no segundo ano de vida que devem ser estabelecidos hábitos saudáveis e o comportamento familiar adequado.
- 3 anos: começa a utilizar a faca e o garfo. Sabe-se que as preferências nesta fase são preditivas das do período da pré-adolescência.
- Idade pré-escolar e escolar: existe grande variabilidade fisiológica no aporte por refeição, sabendo-se que a média mensal ou semanal é relativamente constante. No entanto, isto é uma preocupação dos pais, mas é importante não forçar o aporte nem tentar compensar com snacks.
Os pais devem ter em mente que se a fome é inato, o saber comer é um comportamento que é aprendido!
2. Crescimento
A melhor maneira de avaliar a repercussão no crescimento é pela evolução do peso e da estatura nos gráficos de crescimento (Leia também o artigo Tabelas de percentil: o que são e para que servem).
Uma medição isolada tem muito pouco significado, porque a velocidade de crescimento vai variando ao longo do tempo.
Peso:
- Duplica pelos 5 meses.
- Triplica aos 12 meses.
- Quadruplica pelos 2 anos.
- Aumento médio 2 kg/ano até puberdade.
Comprimento / altura:
- Aumento 3cm/mês até aos 4 meses.
- Aumento 1cm/mês no restante 1º ano.
- Aumento inferior a 1cm/mês no 2º ano de vida.
- Aumento médio anual 5 cm/ano até perto da puberdade.