“A brincadeira é o trabalho da criança”, disse a famosa educadora e psiquiatra Maria Montessori. E este artigo é precisamente sobre o que de mais importante fazem as crianças: brincar.
O problema das escolhas a mais
Quando pensamos em brincar e em crianças, inevitavelmente surgem-nos imagens de quartos desarrumados, atulhados de brinquedos e jogos. E peças e todo o género de objetos indefinidos semeados pelo chão.
A verdade é que, atualmente, os brinquedos por vezes são tantos que a criança não sabe para onde se virar. Não sabe porque as escolhas são demasiadas ao ponto de a fazerem sentir-se perdida. E…sim, aborrecida, entediada, o que é um paradoxo. Com certeza já terá ouvido o seu filho a queixar-se que se sente entediado, a partir do topo de uma imensa montanha de brinquedos. Ou que não tem nada para brincar quando no quarto não cabe nem mais uma peça de lego.
O problema é muitas vezes agravado pelos aniversários, Natais e outras ocasiões festivas. Nestas ocasiões, nunca nos queremos esquecer das crianças e com a melhor das intenções oferecemos-lhes mais brinquedos ainda. Acontece que estes brinquedos, após desembrulhados, terão um tempo de atenção inicial de 15 minutos no máximo, rezam alguns estudos!
No final, o chão fica repleto de inúmeros fragmentos de papel, plástico e fitas coloridas. Quanto a nós, os pais, somos presenteados com uma consciência pesada ao lembramo-nos que estamos a contribuir para as assustadoras ilhas de plástico nos oceanos.
A ode à simplicidade
E então qual é a solução?
A solução é naturalmente reduzir o número de escolhas através da diminuição da quantidade de brinquedos.
Já reparou que as crianças conseguem passar períodos infinitos de tempo entretidas com um ou dois pequenos brinquedos simples. Há brinquedos que as conseguem deixar completamente absortas e em constante interatividade e em diálogo consigo próprias.
A verdade, é que as crianças beneficiam com uma casa (ou quarto de brincar) com menos brinquedos, mas com opções que lhes despertem a imaginação. O ato de brincar deve envolver a criança totalmente, deve ser interativo, motivador e estimulante.
Porquê minimizar a quantidade de brinquedos?
As razões são várias:
- Quando as crianças têm menos brinquedos, serão mais propensas a cuidarem e a valorizarem os que têm;
- A existência de menos opções de brinquedos estimula a criatividade e imaginação das crianças;
- Um quarto com menos brinquedos oferece menos distrações e maior capacidade de concentração;
- Ter menos brinquedos proporciona sessões de brincadeira mais calmas, e com uma menor fadiga mental e física;
- Vocês os pais provavelmente terão tido bastantes menos brinquedos do que os vossos filhos. Ora lembrem-se: como era a vossa experiência de brincar com poucos brinquedos disponíveis?
Como simplificar as escolhas
Existem estudos que sugerem que a quantidade de brinquedos disponíveis influencia a forma como as crianças brincam, desenvolvem a imaginação, aprendem e se desenvolvem.
A primeira coisa a fazer é desfazer-se dos brinquedos menos importantes para o seu filho. Pode fazê-lo de várias formas:
- Escolher em conjunto com o seu filho que brinquedos são menos importantes para ele e oferecer esses brinquedos a outrem, não se esqueça de dizer ao seu filho que agradeça a cada um desses brinquedos pelas horas de diversão proporcionadas. Ao doar alguns dos seus brinquedos, o seu filho desenvolve o sentido de partilha;
- Fazer uma pré-seleção, pondo de lado os brinquedos que acha que o seu filho não valoriza tanto e deixá-lo escolher que brinquedos quer manter;
- Fazer uma seleção dos brinquedos que acha que o seu filho não valoriza tanto e guardá-los durante dois meses, se durante esse período o seu filho se lembrar de algum desses brinquedos, devolva-lho. Se não, pode depois doá-los.
Arranje opções de presentes para o seu filho que não sejam brinquedos. Um passeio, uma viagem ou uma festa num parque de diversões com os amiguinhos são exemplos de experiências memoráveis.
Outra opção será a criança escolher uma causa que a interesse, como uma associação de animais abandonados e escolher que pelo seu aniversário, por exemplo, os presentes sejam donativos a favor dessa mesma causa. Além de estas ações desenvolverem o sentido de generosidade, irão incutir o valor do altruísmo e empatia.
Que brinquedos escolher?
Parafraseando novamente Maria Montessori, brincar é o trabalho da criança. É precisamente a brincar que a criança aprende a viver no mundo. Portanto, os brinquedos com que rodeamos os nossos filhos são muito importantes porque vão ajudá-los nessa viagem de aprenderem a ser gente grande.
Os brinquedos certos vão ajudar as crianças a crescerem confiantes, a desenvolverem-se de forma saudável e a serem independentes. E, claro, vão ajudá-las a descobrir o enorme e complexo mundo à sua volta.
Recomendamos que rodeie o seu filho de brinquedos interativos, que estimulem a sua imaginação e os ensinem a resolver problemas.
Exemplos de brinquedos e materiais estimulantes:
- Quadros para escrever/desenhar/apagar com canetas coloridas
- Puzzles e livros
- Jogos para um e vários jogadores
- Papel, cola, tesoura, tecido, botões, objetos para reciclar e outros materiais que estimulem a criatividade
- Papel, tintas e pincéis
- Blocos de construção
- Roupas e acessórios que possibilitem brincar ao faz-de-conta
- Conjuntos de cozinha, de enfermagem, de ciências e outros.