“Sinto que devia estar triste pela minha avózinha, porque eu gosto dela. Mas às vezes sinto-me realmente saturado, porque ela está a viver connosco. Por causa dela a minha vida foi toda alterada. Tenho que dividir o quarto com o meu irmão, e tenho que estar sempre a aturar as perguntas da avó. Por vezes sinto remorsos, porque ela não tem culpa. Mas sinto-me melhor, quando consigo estar sozinho com a minha mãe e falar disso.”
“O meu avô vive connosco e às vezes faz coisas que são mesmo embaraçosas. Uma vez estava um grupo de amigos meus cá em casa, e ele apareceu e começou a despir-se! Eu fiquei tão envergonhado que não fui capaz de explicar, e durante várias semanas toda a gente gozava comigo na escola. Por fim eu disse-lhes que o meu avô tinha a doença de Alzheimer, e qual era o significado disso, e eles depois disso reagiram praticamente bem.”
Como ajudar as crianças a conviver com um familiar que adoece com demência
As crianças podem ter um efeito tranquilizante sobre as pessoas afectadas por demência. Podem ser igualmente atentas e pacientes, sem que tenham a noção do que se está a passar.
Muitos pais não se dão conta disto e tentam poupá-las, fazendo muitas vezes de conta que não se está a passar nada de novo. Mas a maioria das crianças cedo se dá conta de que algo não está bem. A reação pode ser variada. Alguns podem censurar, enquanto outros podem ter medo do comportamento errado ou fora do vulgar da pessoa.
- Explique-lhes o que é uma demência, tranquilize-os e dê-lhes apoio.
- Forneça às crianças leitura apropriada.
- Fale-lhes sobre a demência, e encoraje-os a colocar perguntas.
- Dê respostas simples e honestas, e discuta as alterações do comportamento à medida que elas surjam.
Como está absorvido (ou absorvida) pela tarefa de cuidar da pessoa, pode por vezes não reparar nas necessidades dela, ou subestimar os seus problemas. Por isso tente dar-lhe atenção que merece. Será uma boa ideia lembrar as crianças de que o comportamento da pessoa é uma consequência da doença, e não propositadamente dirigido a alguém em especial.
Algumas crianças pequenas pensam que elas poderão ter dito ou feito alguma coisa que provocou a doença, e pode ser necessário assegurar-lhes de que não há nada a censurar.
Às vezes pode haver alguém que, na família, tenha mais jeito para explicar e para falar com crianças. Ao longo da doença pode haver modificações no relacionamento. Numa família pode haver pessoas que se afastem dumas, para se aproximarem doutras.
Encoraje as crianças a falar aos amigos e aos professores
É uma boa ideia encorajá-los a explicar aos amigos e aos professores o que é a demência, e aquilo que sentem. As crianças ficam frequentemente envergonhadas em frente dos seus amigos, quando há um comportamento excêntrico.
Pode ajudá-los a explicar a situação, e receber os pequenos amiguinhos com o máximo de simpatia e conforto. Desde que os professores saibam da situação, eles vão com certeza ajudar os seus filhos autorizando-os a terem mais tempo para os trabalhos de casa, ou ajudando-os a resolver problemas na escola. Podem até propor arranjar um acompanhamento.
Como ajudar as crianças a conviver com um familiar que adoece com demência
- Converse com elas e convide-as a fazer perguntas;
- Tente dar-lhes respostas simples e honestas, sempre que possível;
- Faça com que o ambiente seja tranquilizante e acolhedor;
- Encoraje-as a contarem aos amigos e aos professores (e ajude-as, se necessário).