A ansiedade infantil é uma perturbação relativamente comum em crianças e jovens, estimando-se que, pelo menos, 5% apresente sintomas antes do início da idade adulta.
No entanto, a ansiedade é um processo normal no indivíduo, uma vez que funciona como uma “ferramenta” que, quando bem usada, nos prepara para conseguirmos lidar e gerir melhor as exigências e situações stressantes que surgem durante o percurso de vida.
Ansiedade infantil
A ansiedade é uma emoção normal no ser humano uma vez que nos prepara canalizando recursos, que contribuem para que consigamos lidar com maior eficácia face aos desafios com que nos deparamos durante o percurso de vida.
A ansiedade sempre nos acompanhou nos momentos mais marcantes das nossas vidas. O problema surge quando essa ansiedade em vez de ajudar, começa a prejudicar a rotina e o desenvolvimento da criança.
O que é a ansiedade infantil?
Do ponto de vista evolutivo a ansiedade sempre foi uma grande aliada da Humanidade já que permitia em tempos de maior escassez e dificuldade, potenciar a nossa capacidade de atenção, concentração e foco face a situações que nos colocariam em perigo.
Atualmente, apesar de vivemos numa civilização onde estes perigos são substancialmente mais reduzidos comparando com os que os nossos antepassados se deparavam, a ansiedade permanece lá, atuando quando necessário (e ainda bem).
Portanto, é importante pensarmos na ansiedade como um recurso positivo e não como o “bicho papão”.
A ansiedade hoje em dia
A ansiedade (no mundo civilizado) ainda atua (e nos ajuda) em momentos muito importantes da nossa vida, quando estamos “nervosos” antes de uma apresentação em público, ou nos preparamos para um evento especial, como, por exemplo, o nosso primeiro dia de escola.
Podemos dizer que a ansiedade sempre nos acompanhou nos momentos mais marcantes das nossas vidas.
Nas crianças esta emoção básica também está presente, contribuindo (quando bem utilizada) para preparar a criança para o desempenho de uma tarefa importante, um novo marco na sua vida.
O problema surge quando essa ansiedade em vez de ajudar, começa a prejudicar a rotina e o desenvolvimento da criança.
A ansiedade enquanto perturbação, apesar de comum, é extremamente limitante para o seu portador e pode manifestar-se em várias vertentes, como em medos e fobias (nas crianças), sintomatologia depressiva, ataques de pânico, entre outros.
A ansiedade nas crianças
Nas crianças não é muito diferente esta classificação. No entanto, a sua manifestação pode variar mediante certos fatores, tais como a personalidade, genética, o meio social e a etapa de desenvolvimento em que se encontra.
Uma mudança de comportamento face a um estímulo em determinada idade pode ser um “alerta” sobre os seus níveis de ansiedade, mas noutra fase essa mesma atitude e/ou comportamento pode já não ser relevante.
As crianças são como “esponjas” – absorvem tudo o que se passa em seu redor. Têm sede de aprender e conhecer o mundo em que habitam.
Ter a capacidade para gerir expectativas, encarar novas situações com confiança, conviver com medos e anseios são tudo exemplos de desafios com que a criança de depara e que terá que ultrapassar.
Por vezes o lidar com as situações que surgem durante o seu desenvolvimento pode ser um grande “quebra-cabeças” e a criança pode inclusivamente começar a percecionar-se como “incapaz”, que “não consegue” ou que vai ser ridicularizada pelos colegas e professores, por exemplo.
Essa perceção negativista da realidade pode gerar ansiedade na criança, fazendo com que esta se isole, evite situações novas e desenvolva medos e receios.
Cabe aos pais e às restantes figuras próximas estarem atentos a mudanças de comportamento, procurando ajuda quando necessário.
Sintomas da ansiedade infantil
Todos nós temos então ansiedade (e ainda bem), o que não quer dizer que a priori seja um problema.
Os problemas começam a surgir quando os níveis de ansiedade prejudicam o bem-estar e as rotinas da criança.
A ansiedade infantil deve ser assim interpretada como uma “fuga à norma”, que interfere com o bem-estar da criança.
A ansiedade e o desenvolvimento da criança
É normal que durante tantas fases de desenvolvimento que a criança atravessa se sinta ansiosa (creche, infantário, escola, novos professores, a interação com os pares), são tudo exemplos de “momentos marcantes” que criam ansiedade já que esta está a lidar com uma situação nova na sua vida, mas essencial para o seu crescimento.
Mas então como conseguimos perceber quando a perturbação está presente?
Apesar do diagnóstico obedecer a critérios específicos, que são relativamente idênticos ao diagnóstico da ansiedade em adultos, é importante reforçar que nas crianças esta pode manifestar-se em diferentes comportamentos / atitudes em relação à ansiedade conhecida pela população como “adulta”, devido exatamente aos enormes desafios com que esta se confronta durante o seu desenvolvimento.
Alguns alertas
Tomemos como exemplo uma criança de 2-3 anos: o chamar constantemente a atenção de um adulto pode ser um indicador relevante sobre a presença de ansiedade.
Já no caso das crianças de 7-8 anos, a dificuldade em socializar com os amigos pode ser também interpretado como um “alerta” sobre o seu desenvolvimento.
No entanto, isto não passam de indicadores que podem alertar as figuras mais próximas da criança para uma possível alteração de comportamento “fora da norma” como referido anteriormente.
Diagnóstico da ansiedade
No diagnóstico da ansiedade é necessário que um conjunto de sintomas estejam presentes durante várias semanas e que condicionem a rotina e o bem-estar da criança.
São o caso as dificuldades de concentração, falta de ar, palpitações, inquietação, irritabilidade, fadiga.
As alterações do sono, medos, tristezas ou sensação de confusão mental podem também ser relevantes para um diagnóstico positivo.
A ansiedade infantil é assim uma perturbação que, embora relativamente comum, deve ser alvo de atenção por parte das figuras mais próximas da criança.
Alterações de comportamento que se enquadrem nos sintomas acima indicados podem ser relevantes para um diagnóstico precoce e obviamente de mais fácil intervenção.
Procure aconselhamento junto de um Psicólogo, Pedopsiquiatra ou até do seu médico de família. Poderão ajudá-lo a avaliar os sintomas e a providenciar as diligências necessárias para uma intervenção, se for o caso.
Lidar com a ansiedade infantil
Como ajudar a criança a lidar com a ansiedade?
As perturbações da ansiedade estão entre os mais comuns diagnósticos na população em geral, estimando-se que em alguns caso atinja os 20-25%.
Nas crianças a ansiedade também se manifesta, muito motivada pelo facto de esta lidar com grandes desafios no seu dia-dia, que a ajudam a crescer e a desenvolver-se.
Lidar com a ansiedade pode ser um grande “quebra-cabeças”
Se já os adultos apresentam grande dificuldade na gestão desta emoção, nas crianças a dificuldade não será com certeza menor.
No entanto, nas crianças pode manifestar-se de maneira diferente. Dependendo da idade e do seu grau de desenvolvimento, a criança pode não conseguir expressar-se de uma maneira eficaz para que os adultos a possam ajudar.
Mas então, como devemos lidar com a ansiedade infantil?
Uma boa avaliação que considere fatores como a sintomatologia, a personalidade da criança, a duração e intensidade (entre outros) serem essenciais para uma boa intervenção.
Contudo, ficam algumas sugestões que podem ajudar uma criança que sofra de ansiedade.
1. Prevenir
A prevenção é sempre a melhor “arma”.
Por um lado, devemos procurar ajuda logo nos primeiros sintomas, para que a intervenção seja mais breve e eficaz. Por outro, prever situações que possam colocar a criança em stress ou ansiedade fora do normal pode ser uma mais valia no seu controlo.
Com isto, não estamos a dizer que devemos evitar que a criança se exponha a situações stressantes. Estas são também essenciais ao seu desenvolvimento. Devemos sim preparar (quando necessário) a criança para estas situações.
Se a criança tem o primeiro dia de escola para a semana, tenha em consideração que esse momento é importante para ela e como tal gera-lhe ansiedade. Fale com ela e peça para ela falar consigo. Perceba as suas expectativas, os seus receios e medos.
“Desenrolar os novelos” ajuda, por um lado, os pais (que adquirem mais informações sobre o que a criança está a sentir), mas por outro, a criança, porque ao verbalizar o que sente ajuda-a a raciocinar sobre o momento importante que aí vem.
2. Ser positivo
Não estamos a falar de uma “invasão” de positivismo exacerbada. Essa é até perigosa, pois cria falsas expectativas e consequentemente uma gestão emocional difícil. No entanto, o ser positivo tem as suas vantagens.
Se a criança sofre de ansiedade, é normal que tenha uma visão mais negativa sobre o mundo do que seria expectável. Tal acontece porque não se reconhece como capaz de lidar com determinada tarefa ou desafio.
Ser positivo com a criança promove uma mudança emocional relevante, proporcionando algum apoio que pode contribuir para que esta se comece a percecionar como mais capaz de atingir objetivos e ultrapassar os desafios com que se depara.
3. Mudar
“Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço”. Provérbio muito enraizado na nossa cultura e com um fundo de verdade, especialmente nesta temática.
Muitas vezes a ansiedade em crianças é provocada (ou potenciada) pelo meio onde habita. Seja do ponto de vista genético (já que filhos de pais ansiosos têm maior tendência para sofrerem desta perturbação), seja do ponto de vista social.
As crianças são muito observadoras. Se o adulto é ansioso, ou reaje a determinada situação com determinado comportamento, a criança vai assimilar essas atitudes e começar a “praticar”as mesmas no seu dia-a-dia.
Se as figuras de relevância que a criança segue mudarem para um comportamento mais tranquilo, positivo e menos stressante em relação aos desafios, a criança vai também “beber” desse conhecimento.
4. Procurar ajuda
Na dúvida devemos sempre procurar ajuda, exatamente para evitar que estados mais complicados da perturbação se desenvolvam.
Muitas vezes um pequeno sintoma pode não ser relevante, mas pode também ser um importante indicador de que é necessário intervir.
Nada como tirar as suas dúvidas e anseios junto de um especialista, que poderá providenciar uma intervenção quando necessário bem como diminuir as suas preocupações sobre a criança e consequentemente os SEUS próprios níveis de ansiedade.