Como explicar às crianças os atentados
Ninguém – cremos – ficou indiferente às notícias.
Por ser um tema que está no pensamento de todos nós, e porque cremos haver muitos pais com muitas perguntas, deixamos hoje algumas dicas sobre como lidar com as perguntas das crianças.
1. Não mentir
Não adianta mentir e dizer às crianças que não aconteceu nada, que é um filme ou uma história, ou que não é para a idade delas.
As crianças são perspicazes e, além de muitas delas terem assistido às notícias na televisão, conseguem perceber nos nossos rostos os nossos olhares de apreensão. Dizer sempre a verdade – devidamente adaptada à idade e à compreensão da criança – é a melhor opção.
2. Dar uma explicação adequada
Uma explicação dada por um adulto, com palavras e atitude confiantes, são meio caminho andado para tranquilizar uma criança – mesmo que nós não nos sintamos seguros. A não ser que estejamos a falar de crianças já mais velhas ou com um grau de conhecimento superior, não será necessário explicar todas as questões políticas, sociais e religiosas de base.
Não se refugie em expressões como “os pais deles não os educaram” ou “a religião deles ensina-lhes a ser assim” ou ainda “não sei, filho, se calhar estão doentes”.
Será importante, sim, explicar que as pessoas que mataram outras fizeram escolhas e aproveite para reforçar a importância de fazer escolhas orientadas, responsáveis e direccionadas para o bem.
Embora o desenvolvimento moral (e a capacidade de reconhecimento autónomo do bem e do mal) ocorra por volta dos 7/8 anos, desde cedo que procuramos incutir nas crianças a distinção entre os mesmos. Esta é uma oportunidade, entre tantas outras, para reforçar esta área do desenvolvimento.
3. Não alterar rotinas e hábitos
É normal que as crianças mais sensíveis a estas temáticas e também as mais temerosas apresentem alguns sinais de ansiedade: maior dependência do adulto, perda de autonomia nalgumas tarefas (andar sozinha, adormecer sozinha), podendo até ter pesadelos com este assunto.
Ir à escola, a um centro comercial ou dar um passeio podem também tornar-se actividades rejeitadas, devido ao medo. Mais uma vez, a palavra-chave é tranquilizar e explicar, bem como dar o exemplo: se nós próprios evitarmos ir a um centro comercial, a um concerto ou a um jogo de futebol com medo do que possa acontecer, então não estamos a transmitir um exemplo comportamental aos nossos filhos.
Procure manter as suas rotinas – e as da família – e evite mostrar-lhes medo, apreensão ou preocupação: embora saibamos que é impossível garantir-lhes que estão 100% seguros (porque, de facto, esse nível de segurança não existe sequer), mostre-lhes que os pais e os adultos estarão sempre presentes para os proteger.
4. Mudar o foco
O medo, apesar de fazer parte da nossa condição humana e de até ser extremamente importante e funcional (porque nos defende e nos protege), pode também ser um grande inimigo e paralisante, inclusivamente inibidor de fazer uma vida normal.
Nos próximos dias, experimente mudar o foco conjuntamente com os seus filhos: entramos numa nova semana, com novos desafios, com as rotinas habituais e foque-se precisamente nisso.
É normal que surjam mais comentários e perguntas (afinal, eles vão estar com outras pessoas que, provavelmente, incidirão sobre o assunto) aos quais deverá responder, mas logo a seguir peça-lhe ajuda para fazer qualquer coisa ou para pensarem, por exemplo, numa actividade para fazerem no próximo fim-de-semana.
Lembre-se: o medo é, habitualmente, transitório e, por isso, acabará também por passar.
5. Fique atento
Mantenha-se atento aos seus filhos, aos seus comportamentos e às suas verbalizações. Não são raras as vezes em quadros clínicos de ansiedade ou fobia começam com medos que aparentemente eram transitórios e deixaram de o ser.
Como é que podemos ver isso? Se o medo é desproporcional face àquilo que o desencadeou e sobretudo se interfere na qualidade de vida e na rotina da criança de forma continuada, então está na hora de procurar ajuda especializada.
Por opção da autora, este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.