Entrada no 1º ano – um mundo novo!
Na verdade, o final das férias é um período de alguma tensão para pais e filhos, especialmente, quando a criança entra no 1º ano.
A criança sente insegurança face ao desconhecido e percebe que terá que se separar dos pais, o que é difícil, sobretudo depois de umas férias longas.
É importante deixar claro que a entrada na escola é um momento de grandes mudanças na vida da criança e que o primeiro dia de escola é bastante complexo.
A criança que passava os seus dias com os pais, avós, primos, tios ou no jardim de infância com a educadora, de repente está num espaço diferente e grande parte das vezes com pessoas que não conhecia.
Compreende-se que perante a mudança de escola, rotinas e professores, a criança crie alguma resistência, no entanto, ainda que se mostre ansiosa e até angustiada, o primeiro dia de aulas deverá ser recebido e vivido pelos pais e professores com entusiasmo e alegria.
As consequências da ansiedade, medos e expectativas dos pais quando deixam os seus filhos na escola pela primeira vez
Os pais revelam muitas vezes um pico gigante de desconforto e ansiedade quando se aproxima o 1º ano escolar dos filhos.
A transição do pré-escolar para o 1º ano é experienciada com algum stress parental, nomeadamente, com angústia, incerteza e medo, uma vez que é percecionada como uma passagem da brincadeira para algo bem mais sério.
Os pais vivenciam, muitas vezes, um desconforto enorme e “culpa” quando deixam os filhos num espaço completamente novo. Surge, por vezes, um sentimento de que os estão a abandonar e de que ficam desprotegidos.
Claro está que sempre que a ansiedade dos pais não é bem administrada, a integração da criança é comprometida, uma vez que percebe claramente a angústia destes e sente mais dificuldade em ultrapassar a sua própria insegurança.
Na realidade, não só as crianças passam por um processo de adaptação e integração nesta fase, como também os pais, dado que se “separam” dos seus filhos durante mais tempo que o habitual e estabelecem pela primeira vez o vinculo com a escola, nomeadamente, com a professora e pais das outras crianças. De igual modo iniciam a sua participação nas diversas atividades que decorrem durante o ano letivo.
Outra questão que se levanta é o desempenho escolar e as expectativas dos pais relativamente ao mesmo
Verifico na minha Consulta de Pais que quando se inicia o ano escolar, estes apresentam expetativas altas relativamente aos resultados dos seus filhos e quando não correspondem ao esperado a sua atitude não é a mais apropriada e produtiva.
Importa relembrar que o valor da criança não se resume aos resultados escolares, nem pode ser olhada e “caraterizada” apenas e só, em função do seu desempenho. A leitura ou análise do comportamento e capacidades ou competências da criança deverá ser bem mais abrangente.
Os pais terão que ajustar as suas expectativas e não concentrar a sua atenção apenas na escola e resultados.
Pais, não transmitam ansiedade às crianças
Existe, por vezes, muita “poluição” à volta do tema “nova escola”. Surgem muitas perguntas e comentários relacionados com esta nova fase, particularmente, por parte dos pais, avós e outros elementos da família: “Vais para a escola dos grandes”; ”Agora vais ter que aprender a ler e a escrever”; “Vais ter trabalhos de casa para fazer todos os dias”, etc..
A criança não é capaz de prever os benefícios que estão para vir e o que a escola lhe pode proporcionar e, naturalmente, surgem alguns sintomas de ansiedade.
O importante é que a criança viva este momento com o máximo de serenidade possível.
Os pais deverão transmitir segurança e apoio, sobretudo reagir com bastante paciência e calma perante o choro, dores de barriga, dores de cabeça ou vómitos, relacionados com a ida para a escola.
É essencial centrar a comunicação no que a criança tem a sua espera de entusiasmante, especialmente os novos amigos(as), os professores, as brincadeiras e também no bom que será aprender a ler e a escrever, a fazer contas, a conhecer novos temas.
Como promover na criança segurança e confiança na nova etapa da sua vida
É essencial falar com a criança sobre a escola com algum tempo de antecedência e, sobretudo, criar uma expectativa positiva em relação à sua entrada.
Os pais poderão falar sobre as suas próprias experiências pessoais na escola primária e revelar até episódios que os marcaram e mostrar a importância que teve para eles. As crianças gostam muito de ouvir estas histórias sobre os pais.
Se possível, procurar que a criança tenha contactos com alunos que já frequentaram o 1º ano e que conversem sobre as brincadeiras e aprendizagens que fizeram. Se existirem irmãos mais velhos, estas conversas poderão surgir mesmo em casa.
É fundamental permitir que a criança participe nas compras dos materiais escolares para utilizar na sala de aula e em casa e, inclusivamente, na escolha das roupas que irá usar e colaborar na sua organização e preparação.
Neste processo é essencial levar a criança à escola, um tempo antes do início das aulas, se possível visitá-la com algum amigo ou familiar que já esteja a frequenta-la e que lhe poderá mostrar as instalações, salas de aulas e espaços de brincadeira.
Conhecer professores, coordenadores, auxiliares de educação e os pais das outras crianças também é bem-vindo, permitindo mais fácil integração.
Uma outra questão a salientar é o sono
Os pais devem estipular um horário de deitar e de acordar duas semanas antes do inicio das aulas. As refeições devem acontecer sempre à mesma hora e permitir que este momento seja de partilha de como foi o dia na escola, falar um pouco sobre os novos amigos as aprendizagens que vão acontecendo.
As pastas, mochilas e roupas devem ficar preparadas na noite anterior para que se minimizem os momentos de stress na manhã seguinte.
Outra situação a focar é, sem dúvida, o horário a que vão buscar a criança à escola. É fundamental, cumprir o horário acordado com a criança para a ir buscar. Os atrasos nos primeiros dias de escola podem ser “fatais”.
Por fim, recordo que abrir um canal de comunicação diário, objetivo e transparente com o professor é indispensável.
Como agir quando a criança não quer ir à escola
Quando uma criança não quer ir para escola, em primeiro lugar, os pais devem observar e conversar com ela, de modo a compreenderem o que está a sentir e quais as eventuais causas do problema.
O medo exacerbado que algumas crianças manifestam relativamente à ida pela primeira vez para a escola está relacionado com a ansiedade e angústia face ao desconhecido.
Na minha prática clínica, recebo um número bastante alargado de crianças que recusam ir à escola, e 50% representam aquelas que chegam à escola pela primeira vez.
O choro, as dores de cabeça, as dores de barriga e os vómitos são os sintomas mais comuns manifestados neste período.
É compreensível que os primeiros dias de escola desencadeiem alguma ansiedade nas crianças, mesmo naquelas consideradas pela família bastante serenas, o que não será aceitável é permanecer com medo e recusar a escola durante algum tempo.
Se a recusa ou desconforto em ir para a escola se mantiver, deverá existir uma particular atenção por parte dos pais e professores.
Claro está que uma nova escola, novos professores e a introdução de novas regras diárias, podem constituir fatores de desestabilização nos primeiros dias e até algumas semanas após o início das aulas, mas haverá, certamente, um fim.
Importa que os pais não sobrevalorizem o medo da criança, no entanto, manter a firmeza, mas também o aconchego é essencial.
É prioritário, acima de tudo, continuar a incentivar a ida à escola de modo positivo e entusiasta e mostrar-lhe a relevância da sua presença e assiduidade.
Quando as crianças chegam à escola de manhã, sugiro que antes dos pais a deixarem, esperem algum tempo até que as sintam seguras. Não esquecer de as informar sobre o horário a que as irão buscar no final do dia e nunca sair sem se despedirem.
Quero deixar claro que discordo totalmente quando os pais ou outros familiares decidem deixar a criança na escola e saem às “escondidas”.
Perante a recusa da ida à escola, o que NÃO fazer:
- Ceder ao desejo da criança de não ir à escola.
- Ficar com a criança dentro da sala de aula durante o dia de escola.
- Transferir a criança de escola.
- Ridicularizar a criança pelo medo que sente de ir à escola (respeitar o que está a sentir é essencial).
- Castigar a criança, não permitindo que se divirta com os seus brinquedos.
- Proibir a criança de ver televisão.
- Retirar tudo o que lhe dá prazer fazer.
Proibido
Prometer ou recompensar a criança com presentes, se eventualmente, ficar umas horas ou o dia inteiro na escola ou atribuir qualquer punição quando a criança não quer ir à escola.
O papel dos professores e restante comunidade escolar na adaptação da criança à escola
Importa que os professores e outros elementos da comunidade escolar estabeleçam com a criança uma relação afetiva.
Os professores deverão manter um contacto diário com os pais, de modo a trocar informação sobre a criança, nomeadamente, através de reuniões individuais e / ou conversas informais no início e fim do dia.
É fundamental planear com os pais a primeira semana de aulas, incluir detalhes sobre a rotina diária (horas de chegada e saída da escola; horas do lanche e atividades a desenvolver).
Estabelecer com a criança, as rotinas de trabalho e horas de lanche, com alguma flexibilidade se necessário, é bastante importante.
Outro ponto essencial será estar atento as emoções da criança. Esta deverá ter a oportunidade de expressar os seus sentimentos, nomeadamente, medo, tristeza, raiva, zanga, ciúme, aborrecimento, entre muitos outros.
Se a criança, eventualmente, não quiser comunicar o que sente, sugiro que o professor desenvolva atividades em grupo que permitam abordar os sentimentos de todos.
Desenvolver com o grupo, peças de teatro curtas, em sala de aula, ou em anfiteatros, se possível, em que se dê ênfase as emoções e sentimentos é, na verdade, uma mais valia.
É fundamental que a escola proporcione um ambiente no qual se privilegie o conforto, segurança e confiança.
Na verdade, a adaptação à escola é um processo gradual e, não é mais do que, a construção de vínculos entre as crianças, pais, professores e auxiliares de educação (toda a comunidade escolar).
É comum os professores reconhecerem que a adaptação à escola nem sempre é um processo fácil. Neste sentido importa que estejam bastante atentos às crianças, e que perante dificuldades que se manifestem, orientem os pais no sentido de procurarem um Psicólogo especializado nestas problemáticas.
Intervenção psicológica
Importa que pais, outros familiares e professores não ignorarem os sintomas manifestados pela criança, sendo que não devidamente tratados podem aumentar na frequência e intensidade.
Em consulta recebo uma percentagem significativa de crianças que após avaliação psicológica, através da qual é possível determinar as causas do medo, se conclui que necessitam de um tratamento psicológico mais prolongado.
A boa notícia é que, na verdade, é possível ultrapassar a insegurança, angústia, medo e resistência à escola.