Segundo Edward Hallowell, pai de 3 filhos e psiquiatra infantil, a felicidade e o sucesso conquistados ao longo da vida podem ser promovidos pelos pais em todos os momentos que partilham com os seus filhos e pelos professores, que dedicam grande parte do seu tempo a formar hoje os adultos de amanhã.
No seu livro “The Childhood Roots of Adult Happiness”, Edward Hallowell apresenta 5 princípios-chave para criar crianças felizes: Connect, Play, Practice, Mastery and Recognition e explica como estes 5 conceitos contribuem para criar crianças felizes e como perpetuar essa felicidade e sentimento de realização por toda a vida.
Para o autor, a prática destes princípios no dia-a-dia cria crianças com elevada autoestima, maior consciência moral e valores espirituais sólidos.
A felicidade do adulto tem as suas raízes na infância.
Neste artigo, partilhamos as principais ideias de cada uma das conceções, para reflexão. Importa salientar que, segundo o autor, cada passo percorrido conduz ao passo seguinte e que o ciclo se auto perpetua rumo à felicidade e à realização pessoal.
A repetição desta estratégia ao longo dos anos ajuda a criança a ter uma clarividente consciência de si própria. Ao mesmo tempo, fornece e reforça as ferramentas e defesas internas que vão permitir à criança superar-se a si própria a cada novo desafio, a defrontar novas atividades de forma positiva, a tirar o máximo partido de cada experiência, a encarar as adversidades como oportunidades para aprender e crescer um bocadinho todos os dias.
5 passos que ajudam a criar e a manter a alegria ao longo da vida:
Connect
O sentimento de pertença, a ligação afetiva entre e com os pais e com aqueles com quem convive mais intimamente são as raízes e a rede de segurança da criança para toda a vida.
A criança precisa de ser amada incondicionalmente pelos pais e beneficia quando existem laços estreitos entre a família nuclear e os membros da família mais alargada.
A criança (e o adulto) precisa de saber que existe um lugar onde está segura, para onde pode sempre voltar. Um lugar onde se vai sentir apoiada, reconhecida, apreciada, onde pode ser ela mesma e falar abertamente dos seus anseios e fracassos.
A criança precisa de se sentir parte integrante da escola e do seu grupo de amigos. Envolver a criança em tarefas domésticas, como ajudar a cuidar do animal de estimação por exemplo, é outra estratégia proposta pelo autor com vista a fomentar o sentido de responsabilidade e a ligação da criança com a vida familiar.
Os laços emocionais criados pelo sentimento de pertença são a base para uma vida preenchida, feliz e autorrealizada.
Play
Certifique-se que o tempo livre do seu filho/aluno não é demasiado programado e regimentado. As crianças precisam de tempo para fazer simplesmente o que lhes apetece, mesmo que seja não fazer nada.
Brincar faz crianças felizes.
Enquanto joga e brinca, a criança expressa e desenvolve a sua criatividade e talentos de forma livre e espontânea. Ao brincar, a criança inventa cenários, cria, participa, interage, reinventa e interpreta diferentes papéis, aprende a resolver problemas sozinha, descobre os seus gostos e aprende a conhecer-se a si própria (e aos outros).
Ao brincar, a criança identifica os seus limites, aprende a viver em sociedade e a gerir as suas frustrações, define e afina o seu comportamento, aprende a reagir face a diferentes situações e encontra as melhores estratégias para ultrapassar dificuldades.
Practice
Quando a criança descobre que é boa a fazer qualquer coisa vai querer fazê-la uma e outra vez. Contudo, é fundamental que pais/professores assegurem que a criança se envolve em atividades ou experiências fora da sua área de conforto.
A criança deve ser permanentemente desafiada e incentivada a participar em novas atividades. Experimentar coisas novas, relacionar-se com diferentes grupos, vivenciar realidades diversas. É nesta diversidade que a criança encontra o seu caminho e descobre os seus gostos e competências, realizando-se.
A criança deve ser confrontada com situações com as quais não se sente tão à vontade ou competente. Desta forma, experiência novas situações e aprende a lidar com elas, reforçando a autoconfiança e o saber fazer.
Mastery
Da prática e da repetição da tarefa vem a mestria, o saber fazer e o fazer bem.
Quando a criança desenvolve uma nova competência, seja tocar piano, desenhar uma flor, apertar os atacadores dos sapatos, resolver um problema matemático ou construir um brinquedo, sente-se realizada e com motivação extra para enfrentar novos desafios.
Este sentimento de realização gera uma grande sensação de satisfação pessoal, uma atitude pró-ativa de “consigo fazer” e uma predisposição para arriscar e experimentar/fazer coisas novas.
Recognition
O reconhecimento, reforço positivo, aprovação e apoio continuado dos pais, professores e colegas relativos a um trabalho ou uma tarefa realizada com sucesso ou esforço, reforça a ligação emocional da criança com os outros e incentiva-na a fazer mais e melhor.
Quando a criança se apercebe que o que faz, as suas ações, objetivos e realizações, afetam a sua família, os amigos/colegas ou a equipa onde está integrada, desenvolve uma forte consciência moral e cívica e sente-se melhor consigo própria.
Cada etapa conduz naturalmente à seguinte, auto influenciando-se e gerando comportamentos, atitudes e posturas cada vez mais em consonância com a natureza da criança e das suas circunstâncias. Visto assim, ser feliz e educar para ser feliz parece simples e à mão de qualquer um.
Ser feliz é um processo que pode (e deve) ser incentivado e acarinhado através de pequenas ações diárias que proporcionem momentos de felicidade e de autorrealização.
Pais, professores, famílias e comunidade em geral têm um papel crucial na educação e na transmissão de valores aos mais pequenos. Só assim teremos pessoas e sociedades mais justas, felizes, realizadas e em harmonia consigo próprias e com os outros.
Bibliografia consultada:
The Childhood Roots of Adult Happiness de Edward Hallowell, edição de The Ballatine Publishing Group, 2002