Ajudar a criança a desenvolver o sentido temporal
Explicar o conceito de tempo às crianças mais pequenas é uma tarefa árdua e mesmo impossível. Para as crianças até aos 7 anos, a grande dificuldade em perceberem este conceito deve-se, fundamentalmente, a três razões:
1. A noção de tempo é difícil de assimilar porque não é algo percetível pelos sentidos.
2. Até aos 7 anos de idade, a criança não consegue ordenar o tempo de modo objetivo. Tal só é conseguido entre os 7 e os 12 anos.
3. A organização temporal não se estrutura isoladamente, coordenando-se também com a noção do espaço.
A capacidade de organizar o tempo depende de vários fatores como:
- Crescimento e maturação dos sistemas nervoso e endócrino;
- Exercício e experiência adquirida com a ação produzida sobre os objetos;
- Interações e transmissões sociais;
- Auto-regulação do eu, resultante da maturação cognitiva.
Assim, e à semelhança de outras aquisições, a noção do tempo faz-se por fases evolutivas. Primeiro, a criança tem pouca noção do tempo. Este é desordenado e associado sobretudo aos ritmos internos de repouso e vigília – sonho, alimentação, atividade.
O desenvolvimento da noção do tempo
Por volta dos dois anos de idade, a criança organiza-se de acordo com as suas rotinas diárias – hora de acordar, de comer, de brincar, de dormir – e estas servem de suporte para a forma como estrutura o seu dia-a-dia. O tempo é visto como a duração de uma ação, sem continuidade. Existe apenas um “antes” e um “depois” de acordo com aquilo que a criança está a fazer.
Pelos três ou quatro anos, as crianças possuem o sentido do tempo mas ainda não dominam o conceito do tempo. Aos seis anos e meio ou sete anos, a criança começa a conseguir ler o tempo no relógio, mas ainda com alguma dificuldade. As unidades do tempo, horas, minutos e segundos, ainda são conceitos demasiado abstratos mas a criança já domina grandes períodos de tempo como os dias, meses ou estações do ano.
Só pelos 12 ou 15 anos, é que desenvolvemos a maturidade suficiente para percebemos o tempo como um conceito abstrato, continuo, consistente e imutável. Nesta altura, a realidade passa a ser estruturada, objetiva e passível de ser medida.
Ajude o seu filho a desenvolver o sentido temporal
O envolvimento da criança em atividades lúdicas – brincar, jogar, interagir, experimentar – irá ajudá-la a desenvolver o sentido temporal e a amadurecer o seu sistema nervoso:
- Cante para o seu filho com uma cadência rítmica regular, como lengalengas;
- Bata palmas e conte ritmadamente em simultâneo;
- Incentive-o a brincar com brinquedos (tambor, caixa chinesa) que produzam sons e ritmos;
- Mantenha as rotinas diárias (sono, atividade, alimentação, etc.) bem estruturadas e consistentes;
- Desenvolva atividades com o seu filho de modo sequencial e ordenado;
- Faça observações sobre os acontecimentos significativos para o seu filho (aniversários, festas de família, certas atividades, etc.) ;
- Converse com o seu filho de modo adequado à sua idade, fazendo referencias à noção de tempo – presente (agora-hoje), passado (antes-ontem) e futuro (depois-amanhã);
- Desenvolva atividades com o seu filho que impliquem ação/pausa;
- Desenvolva jogos e brincadeiras que envolvam o cálculo da duração temporal das ações;
- Ajude o seu filho a adquirir a noção de rapidez ou de velocidade;
- Compare a duração das atividades: tomar banho demora menos tempo do que fazer a refeição, dar um passeio a um determinado local exige mais tempo de viagem do que a outro, etc.;
- Quando brincar a jogos de grupo, encoraje o seu filho a esperar pela sua vez;
- Ajude o seu filho a perceber a noção de tempo representando as ações graficamente;
- Observem a natureza e as mudanças que a passagem do tempo provoca nas plantas e nos animais;
- Use uma ampulheta de areia para marcar o tempo para escovar os dentes;
- Conte uma história e peça ao seu filho para relatar os seus episódios mais significativos.
Referências: “Enciclopédia de Educação Infantil – Recursos para o desenvolvimento do currículo escolar”. Edição Nova Presença, Lda., 1997