Num recente encontro de amigos, alguns partilhavam a mesma preocupação: o nosso filho queixa-se “ninguém quer brincar comigo” com aquele ar desolado, de que não há nada no mundo que se possa fazer para se sentir melhor (para além de ir a correr brincar com ele, claro).
Entre o tempo fora de casa a trabalhar, as horas perdidas no supermercado e nas viagens para cá e para lá e com a lide doméstica, pouco tempo sobra aos pais para dar a atenção que os filhos tanto procuram e precisam.
O tempo que os pais dedicam a brincar com os filhos é sagrado. Todos os dias, durante 10 ou 15 minutos, devíamos estar incondicionalmente disponíveis para brincar com os nossos filhos. Brincar só por brincar. Partilhar pequenos, mas intensos, momentos de felicidade que perduram na memória para a vida inteira.
Vivemos num apartamento. Não conhecemos suficientemente bem os casais com quem partilhamos o condomínio para deixarmos os miúdos brincarem nas casas uns dos outros. “Ficas a brincar no teu quarto. Tens tantos brinquedos!”. “Tantos brinquedos e sem nada para brincar…” responde.
O isolamento e o sentimento de solidão da criança, especialmente nas cidades, é um problema preocupante e com tendência a aumentar. As famílias são cada vez mais pequenas, com menos filhos, com menor disponibilidade de tempo e recursos financeiros para socializar e viajar.
As famílias atuais vivem num mundo em constante mutação, onde o que é hoje pode não o ser amanhã, sobrecarregadas com anseios e rotinas que as impedem de viver a parentalidade de forma plena.
Pais felizes fazem filhos felizes.
Os brinquedos, por muito coloridos, interativos e variados que sejam, nunca serão capazes de substituir o “parceiro de brincadeira”. As atividades mais simples feitas em conjunto são, incomparavelmente, mais divertidas, criativas e motivadoras.
Partilhar, falar, rir, representar papéis, interagir, aprender, cuidar, incentivar e provocar. Amar. São experiências e emoções que só podemos desenvolver e sentir em conjunto com o outro.
Sem partilha, fica apenas o isolamento, o abandono, a tristeza, a ansiedade, a timidez, o virar para dentro.
Criança só, adulto infeliz.
A felicidade aprende-se e constrói-se. Temos a obrigação de ensinar e ajudar os nossos filhos a serem pessoas realizadas e felizes. A felicidade é uma ferramenta de autoestima, de motivação, de cidadania, de saúde que damos aos nossos filhos para toda a vida.
A felicidade não custa nada. Apenas exige tempo, disponibilidade, dedicação. Constrói-se num bocadinho de tempo, só dos pais e dos filhos, todos os dias.