A sexualidade infantil refere-se ao sentimento, comportamento e desenvolvimento sexual das crianças.
É uma parte integral da personalidade de todo o ser humano, cujo desenvolvimento pleno depende da satisfação de necessidades básicas como desejo de contacto, intimidade, expressão emocional, prazer e amor.
Dela depende uma construção psíquica, que se inicia mesmo antes do nascimento e evolui até ao final da adolescência. Todos os pais têm expectativas em relação aos seus filhos, consciente ou inconscientemente.
Sexualidade infantil
A criança ao nascer pode corresponder à expectativa ou não e desenvolver-se-á conforme for a aceitação do sexo da criança pelos pais.
Para a maioria dos investigadores desta área, a sexualidade bem construída leva ao desenvolvimento da personalidade e, consequentemente, à capacidade de estabelecer relações afetivas estáveis ao longo da vida.
A contribuição dos estudos de Sigmund Freud foi decisiva para que hoje reconhecêssemos a existência da sexualidade infantil, a qual se considera ser o impulso da vida, a energia ou a mola que impulsiona a criança para o seu desenvolvimento. Ela aprende sobre o respetivo corpo, da mesma forma que aprende a falar, a andar e a comer, construindo a sua própria identidade.
As descobertas de Freud provocaram grande espanto na sexualidade conservadora do final do século XIX, visto que até esta época a criança era tida como um símbolo de pureza, um ser assexuado.
Segundo o mesmo autor, na fase oral, até aos dois anos, o prazer concentrava-se na boca, sendo a hora da mamada um momento de alimentação e prazer. A higiene íntima pode também proporcionar sensações agradáveis.
Para Melaine Klein, discípula de Freud, a sexualidade infantil desenvolve-se a partir do momento em que mãe e bebé se tocam, despertando prazeres mútuos. Este período é único e delicado, e possíveis problemas podem trazer futuras complicações no comportamento sexual da criança.
Durante a fase anal (entre os 2 e os 3 anos) há o contacto real e visual com as produções fisiológicas e o controlo dos esfíncteres, podendo esta etapa ser geradora de insegurança e de “rejeição” do próprio corpo.
Na fase fálica (4 aos 6 anos) ocorrem as maiores explorações e descobertas a respeito dos órgãos sexuais por parte das crianças. Apercebem-se da diferença entre o corpo feminino e o masculino de maneira mais evidente, e há maior interesse no corpo do outro. A masturbação é recorrente, mas nesta fase a criança não tem consciência nem malícia no ato que se resume a um gesto agradável, que faz bem ou serve como instrumento antisstress. Esta situação deverá ser entendida pelos pais.
A educação sexual é uma aprendizagem automática, constante e inconsciente de atitudes, gestos e ideias que se inicia a partir do nascimento, devendo a criança ser educada como uma criança e não como um papel sexual. As atitudes e brincadeiras não deverão ser nem reforçadas nem proibidas, com diferenciação de brinquedos exclusivo para menino ou menina, podendo criar-se um risco acrescido nas expectativas da criança, quanto a um papel sexual, impedindo que se desenvolva de maneira natural.
A criança ao brincar, seja com uma boneca ou com uma bola, está a penas a reconhecer, descobrir, aprender, características inatas ao seu desenvolvimento.
Há ainda que reconhecer que a sexualidade na infância acompanha o desenvolvimento emocional e, por isso, as respostas dos pais deverão despertar esse desenvolvimento com simplicidade e na medida em que esta curiosidade se vai manifestando.
In Guias Orientadores de Boa Prática em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, Série I, Número 3, Volume I, Ordem dos Enfermeiros, 2010 (o conteúdo e a informação disponibilizada podem, a todo o tempo, ser alterados pela Ordem dos Enfermeiros sem aviso prévio).