Como pode a parentalidade afetar a progresão de carreira dos pais? Homens e mulheres têm diferentes perspetivas sobre o impacto que criar um filho pode ter para a segurança e sucesso no local de trabalho. Esta é a conclusão do mais recente estudo da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research e da Harris School of Public Policy da Universidade de Chicago.
Esta visão deve-se, sobretudo, à diferença na partilha de responsabilidades e trabalho doméstico. O estudo inicidiu sobre algumas tarefas e descobriu que 35% das mães relatam fazer mais tarefas do que seus parceiros, comparando com apenas 3% dos pais que relatam o mesmo.
A maioria dos inquiridos que não são pais disseram que, se tivessem filhos, compartilhariam da mesma forma as tarefas, como trocar fraldas, acordar de madrugada para alimentar o bebé ou planear refeições. Mas, segundo Yana Garen, professora assistente da Universidade de Chicago, esta não é a realidade após o nascimento do bebé: “é comum os pais acordarem uma divisão igual das tarefas domésticas, mas tudo se transforma para as mulheres depois de terem o bebé”.
E uma das razões pelas quais as mulheres relatam fazer mais tarefas domésticas e cuidar dos filhos pode estar relacionada com o facto de os homens nem sempre estarem cientes de todo o trabalho envolvido. Para além da rotina do dia-a-dia, falamos de consultas médicas, planeamento de atividades extra curriculares e apoio emocional às crianças.
Por exemplo, o estudo concluiu que 57% das mães comentaram que fornecem “todo ou a maior parte” do apoio emocional aos filhos e só 1% referiu que este suporte é garantido pelo pai. Em contraste, 10% dos pais afirmaram que são o principal provedor de apoio emocional para os seus filhos.
Trabalho vs filhos
Neste estudo, metade dos adultos inquiridos acredita que uma criança pode dificultar a promoção no trabalho e as negociações de aumento de salário. Estas opiniões estão, mais uma vez, relacionadas com o gênero, com 47% das mulheres a afirmar que ter filhos é um obstáculo à segurança e progressão no emprego, comparativamente com 36% dos homens. Esta perceção é mais comum nas pessoas com idade inferior a 30 anos.
E como explicamos estas diferenças? O investigador David Sterrett, do Centro AP-NORC, reforça a carga de responsabilidade das mães, já que “as limitações no trabalho podem derivar da existência de mais tarefas e de um horário exigente devido às crianças. Este grupo sente que está a perder oportunidades de carreira em comparação aos colegas sem filhos”.
A pandemia e a carreira das mulheres
A pandemia forçou muitas mulheres a dar um passo atrás nas carreiras para cuidar dos filhos em casa. Só nos Estados Unidos, na primavera de 2020, cerca de 3,5 milhões de mães com filhos em idade escolar perderam o emprego, tiraram licença ou deixaram o mercado de trabalho. Estes números contrastam com as estatísticas anteriores, em que apenas uma em cada quatro mulheres estava a pensar abandonar o trabalho.
Mas outra coisa aconteceu com a Covid-19: o trabalho remoto. Os investigadores desta pesquisa concordam que o teletrablho permitiu uma maior flexibilidade e a mudança de alguns paradigmas, como, por exemplo, a ideia de que as mulheres não podiam aceitar as posições melhor remuneradas, uma vez que exigiam muitas viagens ou muito tempo dispendido no escritório.
De facto, a flexibilidade no trabalho foi muito abordada pelas mulheres neste estudo, com 74% a defender que é uma característica fundamental quando se planeia ter um filho.
No fundo, os investigadores concluíram que ter filhos pode complicar, para além da divisão das responsabilidades domésticas, os progressos nas carreiras das mulheres, quer a nível de salários, e em comparação com os homens (incluindo homens com filhos), quer ao nível de progressão e conquista de melhores empregos.
Para lutar contra esta tendência, David Sterrett defende que os pais devem ter o direito de escolher uma função e um horário que lhes permitam tempo para outras responsabilidades e reforça a importância do apoio de amigos e familiares, para além de um parceiro/relação estável.