As birras das nossas crianças
Está um dia lindo. Decidem fazer um piquenique em família. Dão uma corrida ao supermercado, a criança pede um brinquedo, dizem-lhe que não.
Ela atira-se para o chão, desata num pranto, berra, esperneia, o volume aumenta, olham para si de lado, alguns com olhares condenadores como se estivesse a lesar a sua pobre criança. Sentem-se os piores pais do mundo…Que se lixe o piquenique. Agora só querem é enfiar-se em casa o resto do dia…
As birras são desagradáveis, muitas vezes deixam-nos em situações embaraçadoras mas são normais, mesmo muito normais, especialmente nas crianças entre os dois e três anos de idade.
Nesta idade começam a descobrir a vontade própria mas não conseguem ainda expressar-se nem controlar a frustração de não terem imediatamente algo que querem. Compete, portanto, aos pais ajudar as crianças a melhorarem essas competências.
Todavia, as birras poderão ser a única forma que o seu filho pensa encontrar para captar a sua atenção. Não se esqueça de lhe dar sempre muita atenção positiva e de passar alguns momentos a sós com ele todos os dias.
Considerando que as birras são normais, como minimizar então, e até mesmo evitar, a frequência e intensidade das birras?
- Em primeiro lugar, não ceda à birra por mais tentador que seja. Isso vai ensinar à criança que ao fazer uma birra ela irá conseguir o que quer. Numa criança pequena uma birra pode ser bastante desagradável, mas imagine como será numa criança mais velha ou mesmo adolescente. A criança deve aprender desde cedo que não é com birras que consegue o que quer.
- Procure evitar as birras. Procure precaver situações que tipicamente conduzem a birras. Se notar que a criança está cansada ou com fome não comece actividades novas. Identifique os factores que põem a criança em stress. As crianças necessitam de aprender a lidar com alguma frustração mas procure facilitar a sua vida evitando o desenvolvimento das birras.
- Se notar que a criança está a iniciar uma birra, distraia-a com algo como começar a cantar a música favorita dela, por exemplo.
- Se não conseguir evitar que a birra se instale, o melhor a fazer será ignorar a criança mas certificar-se que esta se encontra fisicamente em segurança. Não tente argumentar pois em situações em que se lida com emoções fortes a tendência é não ouvirmos ninguém. É importante manter-se calmo para que não diga algo do qual se venha a arrepender.
- As birras em lugares com muita gente podem ser embaraçosas. Lembre-se que é a criança que importa e não os estranhos. Nestes casos, tente levar a criança para um lugar calmo e procure ser paciente, neutral e calmo com ela. Diga-lhe que quanto mais cedo terminar a birra, mais depressa retomarão o que estavam a fazer.
- Caso a criança tente dar pontapés, bater ou morder alguém responda a esses comportamentos mas não à birra, lembrando-a que aquele tipo de conduta não é tolerado.
- Assim que a criança terminar a birra, diga-lhe que não gostou do seu comportamento. No entanto procure dizer-lhe algo positivo como “Conseguiste controlar a birra rapidamente, muito bem.“.
- O seu filho faz birras para testar os limites da sua independência. Dê-lhe alguma independência como por exemplo, escolher a roupa que vai vestir mas estabelecendo firmemente que tem que se vestir imediatamente.
- Finalmente, não se esqueça que é um modelo para o seu filho. Procure dar-lhe um bom exemplo de como lidar com a sua própria frustração como por exemplo, respirar fundo.
Normalmente, se se mantiver firme e não ceder à birra, a criança aprenderá rapidamente que esta não funciona. No entanto, se com esta postura as birras continuarem a repetir-se várias vezes ao dia e durarem mais que 20 minutos, consulte o pediatra da criança.