Como formar crianças mentalmente fortes?
Os livros, a internet, a escola: todos eles nos falam de educarmos as crianças para serem seres humanos capazes de se integrarem socialmente, com vista ao seu desenvolvimento pleno, à sua maturidade e à sua autonomia.
É comum falar-se da cidadania activa, do desenvolvimento psicomotor, de educarmos para o optimismo e para a concretização de objectivos académicos.
Tudo isto é correcto e óptimo, mas falta um ponto intermédio: como educar as crianças para serem mentalmente fortes, capazes de resistir ao não, à mudança, à contrariedade, à frustração?
1. Disciplinar
O objectivo da disciplina não é punir – o castigo, por si só, não trará nada de novo – mas sim o de ensinar. Aquilo que consideramos ser um comportamento inadequado por parte das crianças pode constituir uma excelente oportunidade para lhe ensinar a resolver problemas, de auto-controlo, de agir racionalmente ao invés da impulsividade.
Tudo isto permitirá, futuramente, que a criança aja de forma positiva e responsável perante as mais diversas adversidades.
2. Resistir ao “não”
Assistimos hoje a uma sobreprotecção: “não vás”, “não faças”, não, não, não. É importante que deixemos as crianças errarem, para elas próprias aprenderem a lidar com o erro, com o fracasso e com as escolhas erradas. Errar é uma forma de aprender e de evitar erros futuros iguais ou semelhantes.
3. Educar para o optimismo
A conjuntura socioeconómica dos dias de hoje atira-nos constantemente para o negativismo, para a desesperança e, muitas vezes, para a incapacidade de educarmos as crianças no sentido oposto.
É importante que as crianças tenham consciência das dificuldades e dos obstáculos, mas sempre de uma forma positiva e adequada à sua idade: compreendendo, de forma realista, que se podem ultrapassar e superar com esforço, trabalho e dedicação.
Apesar de ser impossível controlar tudo na nossa vida, esta visão positivista permite-nos – a todos – sentir um maior domínio do nosso percurso.
4. Enfrentar medos
Medos todos temos, seja de coisas mais ou menos banais. A tendência dos pais é a de proteger os seus filhos, evitando que sejam expostos a situações que lhes provoquem esse medo; no entanto, permitir-lhe expor-se a esse medo vai fazer com que, com a ajuda de um adulto, seja capaz de ultrapassar o stress, criando-se um maior nível de confiança e de autonomia.
Aprender a lidar com o medo e o desconhecido faz-nos sair mais vezes da nossa zona de conforto e, com isso, sermos pessoas (e mais tarde profissionais) mais versáteis, mais capazes e mais confiantes.
5. Lidar com o desconforto
Uma frustração, uma discussão, uma desilusão, são três exemplos (entre muitos outros) de situações que provocam desconforto. Permita que os seus filhos experimentem este desconforto e o tentem resolver de forma independente.
6. Educar para os valores
Talvez este seja o ponto mais difícil de trabalhar, uma vez que socialmente se assiste àquilo que se designa por crise de valores. Aproveite todas as oportunidades para educar os seus filhos para o cumprimento das regras, para os valores da cidadania, do saber-ser e do saber-estar. Estes valores, aprendidos desde cedo, permitem-lhes crescer no seio da assertividade, potenciando decisões mais acertadas e escolhas correctas, mesmo que os outros discordem delas.
7. Reforçar a gratidão
Ser grato é uma escolha, e uma forma de educar também para o optimismo. Ensine o seu filho a reconhecer, em cada dia, as coisas boas que lhe aconteceram, mesmo que o dia possa ter sido muito mau.
A gratidão ajuda a melhorar a nossa disposição e até mesmo a ajudar a olhar para os problemas de uma forma menos penosa.
8. Responsabilizar
Nós somos responsáveis por aquilo que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos. A tendência das crianças é culpabilizar A ou B, a circunstância ou o acaso, por determinados comportamentos. Permita justificações, mas não desculpas: esta responsabilização permite assumir a culpa, mas também permite reconhecer as nossas boas acções.
9.Gerir emoções
Fala-se muito, hoje em dia, na inteligência emocional, que não é mais – de uma forma sucinta – do que a capacidade de identificar, expressar e lidar com os próprios sentimentos e os sentimentos dos outros.
Se lidar com os sentimentos e emoções positivos é relativamente fácil, o mesmo não podemos dizer dos sentimentos e emoções negativos. Saber lidar com eles (os nossos e os dos outros) permitem desenvolver uma competência social determinante para uma melhor integração – a assertividade.
Ser emocionalmente inteligente permite também encarar e superar cada desafio.
10. Ser um modelo
Os nossos filhos são “esponjas” do nosso comportamento – de nada vale dizer-lhe para cumprir os 9 pontos anteriores, se você não o fizer também. Ao invés de o incentivar verbalmente, mostre-lhe que também os pais, todos os dias, trabalham para se tornarem pessoas mentalmente mais capazes, mais sãs, com objectivos pessoais e profissionais traçados e com vontade de os alcançar.
Por opção da autora, este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.
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