Sim, leu bem: perguntamos (retoricamente) se é possível comprar o amor dos filhos. E, desde já, sem mais rodeios, a resposta é um redondo NÃO.
Mas não porquê? Porque, como todos sabemos, o amor não vem com uma etiqueta com o preço. O amor não custa dinheiro e, no entanto, pode custar, e muito, a ser ganho. É que o amor verdadeiro só pode ser recebido/oferecido. Mas, para isso, tem que ser merecido.
A sociedade atual do consumismo
A sociedade atual é dominada pelo consumismo desenfreado. Somos julgados pelo que temos e não pelo que somos. Muitos de nós sentem que não são nada se não tiverem o carro X, o smartphone Y ou a roupa de marca W.
E nós cedemos porque sentimos culpa, muita culpa… é que faltamos-lhes com tanto! Faltamos com o que realmente importa.
A maioria de nós vive com a necessidade de exibir o que tem. E quanto mais temos, mais prestígio achamos possuir em relação aos que nos rodeiam.
O pior é que isso é transmitido aos nossos filhos. Começa pela roupa de marca, segue com a mochila também de marca e continua com as consolas de jogos, a TV gigantesca no quarto, o smartphone que custa uma barbaridade…e a lista desenrola-se.
Damos todos esses objetos aos nossos filhos porque eles nos pedem, nos manipulam, fazem chantagem. E nós cedemos porque sentimos culpa, muita culpa… é que faltamos-lhes com tanto! Faltamos com o que realmente importa.
Comprar o amor dos filhos: parece tão fácil!
O que estamos a fazer com todos esses presentes é, no fundo, a tentar comprar o amor dos nossos filhos. Isto acontece porque não conseguimos dar-lhes o essencial, o mais importante: o nosso tempo e o nosso amor.
É preciso trabalhar para pagar a casa ultra-moderna e demasiado grande para as necessidades da família, o carro com uma cilindrada demasiado elevada para o necessário, as consolas de jogos, os colégios, os ATL, e todos os pequenos créditos porque ter uma Bimby é mesmo fundamental.
Para isso, há a fazer muitas horas extra no trabalho, ter um part-time extra até. Como consequência, os miúdos acabam por passar horas a fio no ATL. Quando os temos ao fim do dia, é pouca a paciência, muito o cansaço, o tempo é escasso e vivemos com uma esmagadora sensação de culpa! E aqui entra o “comprar o amor dos filhos”.
Por isso, muitos de nós não conseguimos ser firmes e dizer não. Damos porque nos sentimos culpados por não conseguirmos proporcionar o essencial aos nossos filhos. Damos porque temos receio que eles deixem de gostar de nós. Na prática, compramos o amor dos nossos filhos. Ou pelo menos tentamos.
Comprar o amor dos filhos funciona?
A curto prazo, temos alegria garantida. Mas a longo prazo, há uma data de aspetos negativos que se irão refletir na formação da personalidade dos nossos filhos. Vejamos alguns:
Vai sempre a tempo de compensar os seus filhos com o mais importante: o seu amor e atenção
- As crianças crescem a acreditar que precisam de TER coisas para serem felizes
- Ao terem o que querem, sem se habituarem a receber um “não”, exigem cada vez mais e tornam-se egoístas
- Acabam por conviver com valores importantíssimos como a generosidade, a empatia e o altruísmo
- As crianças crescem sem ferramentas para lidar com a frustração
- Ao terem sempre o que querem em termos materiais, as crianças acabam por desvalorizar os afetos
Afinal, o que importa não custa dinheiro
Nesta fase de maior convivência com os seus filhos, não se esqueça que o melhor que lhe pode dar não tem um preço. Vai sempre a tempo de compensar os seus filhos com o mais importante: o seu amor e atenção.
- Amor: esta é a base de tudo. Quando as crianças crescem a sentirem-se amadas têm uma maior autoestima, autoconfiança e capacidade de amarem os outros.
- Atenção: os nossos filhos necessitam de ter a nossa atenção, de sentirem que são ouvidos e de usufruírem de momentos de qualidade só connosco.
- Encorajamento: os nossos filhos precisam de sentir que acreditamos neles, temos orgulho neles. Nunca devemos perder uma oportunidade de lhes darmos uma palavra de encorajamento ou um elogio.
- Estabilidade: os primeiros anos de vida são fundamentais para a formação da criança. A estabilidade em casa e em família são fundamentais para se tornarem adultos também estáveis e autoconfiantes.
- Afeto: mimos e abraços à discrição nunca serão demasiados!
- Disciplina: ser autoritativo com os nossos filhos, ou seja, ensinar-lhes os comportamentos corretos, com espaço para a negociação, é muito importante. A disciplina é fundamental e deve ser consistente e positiva.