Está a planear uma viagem em família. Com qual dos cenários se idêntica?
1. Planeou todos os detalhes durante dias: fez as reservas no hotel, no restaurante, a revisão do carro, tem o mapa da viagem com todos os percursos, motivos de interesse e paragens e o depósito do carro atestado.
2. Já é o dia da partida! Passa a manhã a correr de um lado para o outro a fazer mentalmente a lista do que tem que levar, a preparar as malas dos miúdos e as vossas enquanto dá banhos e prepara os lanches para a viagem. Como o carro está na reserva, vai pensando na bomba mais próxima para abastecer…
3. Viagem em família? Parece divertido! O seu único contributo para a organização da viagem é a companhia e boa disposição! Espera desfrutar dos lanches dos seus irmãos mais velhos e, já no carro, apercebe-se que poderá precisar de comprar um casaco quando chegar ao destino…
- Se o primeiro cenário lhe parece familiar, provavelmente é a filha mais velha.
- Se encaixa como uma luva no segundo cenário, provavelmente é a filha do meio.
- Se o terceiro cenário tem tudo a ver consigo, é provável que seja a irmã mais nova.
A importância da ordem de nascimento
Alguns especialistas defendem que a ordem de nascimento é tão importante como o género e quase tão importante como a genética. Todos conhecemos casos em que os mesmos pais criam filhos com personalidades completamente distintas entre si. Porque será?
Segundo a Drª. Gail Gross, especialista e investigadora norte americana em Comportamento Humano e Educação, isto deve-se ao facto de os pais terem expectativas e comportamentos diferentes com cada um dos seus filhos e porque cada criança, dependendo da ordem de nascimento, desempenha um papel específico e único na dinâmica familiar.
Somos pais diferentes com cada filho
Como pais, recordamos muito bem os primeiros dias com o primeiro filho: levantamo-nos várias vezes durante a noite para nos certificarmos que respirava, registamos as horas das mamadas e dos primeiros cocós, esterilizámos biberons e chupetas até mais tarde,… O primeiro filho é o único que tem o privilégio de ter a atenção dos pais exclusivamente para si. Já os seguintes têm que aprender a partilhar a sua atenção.
O primeiro filho entra numa família orgulhosa pelas suas conquistas (os pais sentem-se especiais por gerarem um bebé o que representa uma promoção na sua vida familiar), mas também muito ansiosa e preocupada. Será que vamos conseguir cuidar do nosso bebé? Será que estamos a fazer tudo bem? Será que o bebé está a ser bem alimentado? Porque não o consigo confortar quando chora? Tudo é novidade. Tudo está por descobrir.
Com a chegada do segundo filho, muita aprendizagem se fez. Os pais estão mais seguros sobre as suas competências e as do seu bebé. Agora já sabem que o bebé é pequenino mas resistente e conseguem antecipar o que ai vem à medida que o bebé cresce. Com o segundo filho, os pais estão mais seguros, relaxados e flexíveis e a criança cedo aprende a desenvolver uma personalidade sedutora e divertida. O filho do meio é, na maior parte das vezes, dominado pela sombra do irmão mais velho, que vê como sábio e experiente.
Enquanto o filho mais velho é orientado para atingir a excelência e realização, o do meio é criado para ser compreensivo e conciliador e o mais novo concentra a atenção dos pais. O resultado? A ordem de nascimento revela-se numa variável poderosa na forma como a nossa personalidade se desenvolve ao longo do tempo.
A ordem de nascimento e o perfil da personalidade das crianças
O primeiro filho: O Empreendedor
Poderá notar mais afinidades do seu filho mais velho com outras crianças primogénitas do que propriamente com os seus irmãos ou irmãs. Os primeiros filhos integram na sua personalidade a atenção e controlo que os pais tiveram consigo nos primeiros anos de vida. São, por isso, tendencialmente responsáveis, bem-comportados, perfecionistas e cuidadosos. Ou seja, transformam-se uma versão em ponto pequeno dos pais.
O filho primogénito é um empreendedor. Desbrava o caminho que os seus irmãos irão percorrer um dia mais tarde. Resiste, luta e procura distinguir-se através dos seus feitos e realizações, procurando a aprovação dos pares e a perfeição. Têm tendência para proteger e dominar os irmãos mais novos.
Quando chega um irmão, o foco dos pais deslocar-se para o novo bebé. Para o primeiro filho esta é uma situação nova e confusa. Habituado a ter os pais só para si, a chegada de um irmão pode ser sentida como uma enorme perda. Terá que aprender a partilhá-los e a crescer. O ciúme ou a alteração de comportamento podem ser algumas das consequências desta nova etapa.
O filho do meio: O Pacificador
Os filhos do meio são, tendencialmente, compreensivos, colaborativos e flexíveis mas também, competitivos. Desenvolvem desde cedo um forte sentido de justiça.
O filho do meio é o que recebe menos atenção dos pais e compensa esse deficit desenvolvendo fortes competências sociais e de negociação. É provável que tenha um grupo de amigos de referência, que considera como a sua família alargada, e ao qual se dedica.
O filho mais novo: A alma da festa
Com o filho mais novo, os pais estão ainda mais confiantes e seguros no seu papel de cuidadores. Com dois filhos mais velhos, aprenderam muito sobre o desenvolvimento infantil e sentem-se aptos a responder a qualquer situação. Os pais são mais tolerantes e descontraídos, não se sentem tão sozinhos, não questionam da mesma forma as suas competências parentais, não estão tão centrados nos marcos do desenvolvimento do bebé e esperam que os filhos mais velhos cumpram os seus papéis.
O filho mais novo cresce sob a proteção dos pais e dos irmãos, com mais liberdade e independência. Ninguém resiste à sua personalidade sedutora e carismática. O seu espaço no centro da família está garantido. Como cresce num ambiente seguro e protegido, desenvolve uma personalidade descontraída e criativa.
Mas mais importante do que a ordem de nascimento, é a criação de um ambiente familiar positivo, seguro, saudável e estimulante.
Compreender a personalidade e temperamento individual de cada filho, permite aos pais criar as condições específicas de que cada um necessita para desenvolver em pleno todo o seu potencial. Compreender que o primogénito se sente altamente responsável alerta os pais para a necessidade de aliviar a sua carga e reconhecer que o filho mais novo é tendencialmente descontraído incentiva os pais a responsabilizá-lo.
As crianças precisam de ter a liberdade de escolher o seu caminho, independentemente do papel que possam desempenhar no seio familiar. Como pais, a nossa principal tarefa é apoiar e estar presente da mesma forma, para cada filho, na sua jornada individual.