“Primeiros socorros” emocionais
Imagine esta situação. O seu filho e um amigo saem de casa para brincar no parque. O amigo olha antes de atravessar a rua enquanto o seu filho sai disparado e quase é atingido por um carro! Felizmente, não fica magoado, “só” ansioso e muito assustado. Se fosse a primeira a chegar junto dele, o que lhe diria?
Se é uma mãe ansiosa, poderia dizer algo como: “Acho que agora aprendes-te a lição!“, “Já te disse mais de mil vezes para olhares para os dois lados antes de atravessar a rua!“, “Vais ficar de castigo a ver se aprendes a fazer o que te digo.”
Quando as pessoas estão a sofrer, não precisam de ser recriminadas, de sermões ou de castigos mas de alguém que as reconforte com carinho, física e emocionalmente.
Os “primeiros socorros” emocionais
1. Avaliar o estado emocional da criança
Neste exemplo, seria desnecessário perguntar à criança como se sente. É óbvio que se sente muito assustada. Muitas vezes, não nos apercebemos que o sofrimento da criança também é emocional. Seria apropriado ajoelhar-se a seu lado e reconfortá-la tanto física como emocionalmente. Poderia acariciar o seu rosto e deixá-la descrever o que sente.
2. Refletir as emoções da criança
Usar a sensibilidade para tentar fazer com que a criança nos diga o que aflige e preocupa pode ajudá-la a ganhar confiança para partilhar os seus sentimentos. Se estiver visivelmente tensa dizer “Parece que tiveste um dia mau” pode ser o suficiente para se sentir confiante e falar. No entanto, se optar por não o fazer, saberá que os pais perceberam a sua angústia, que estão preocupados e disponíveis para a ouvir.
3. Descrever o que a criança diz
Muitas vezes, esquecemo-nos das preocupações que tivemos e o que sentimos perante certas experiências quando éramos crianças. Se conseguirmos pensar na nossa infância e tentarmos recordar como nos sentimos perante certas situações, será muito mais fácil compreender como se sentem os nossos filhos e valorizar as suas necessidades e medos.
4. Resistir à tentação de dar um sermão
Quando a criança partilha o que a aflige ou, numa situação de grande vulnerabilidade física e emocional como a descrita acima, devemos evitar sermões, atribuir culpas ou ameaçar. Quanto a criança se sente em perigo ou frágil, devemos confortá-la, ouvi-la e responder com palavras que demonstrem que a entendemos e apoiamos incondicionalmente.
5. Resistir à tentação de assumir o controlo da situação
Deixe que a criança encontre e defina o seu próprio caminho. O mais importante é fornecer à criança as ferramentas necessárias para que consiga lidar com situações de crise com autonomia e confiança (problemas com os amigos, perdas, medos e frustrações) aprendendo, gradualmente, a gerir os altos e baixos que irão preencher a sua vida.
Transforme as experiências menos positivas em aprendizagens. Ajude a criança a analisar o que aconteceu, as causas, como pode ultrapassar a situação e as lições a retirar para o futuro.