Os videojogos podem ser bastante benéficos para as crianças, estimulando o pensamento estratégico, criatividade e sentido de cooperação.
No entanto, a exposição a videojogos de conteúdo violento, durante várias horas, todos os dias, pode diminuir o rendimento escolar e aumentar comportamentos agressivos.
A indústria dos videojogos (designadamente os jogos de computador e de consola) tem vindo a crescer, de forma exponencial, ao longo dos últimos 30 anos.
Desde cedo se reconheceu que os computadores e videojogos de carácter educativo poderiam influenciar positivamente o rendimento escolar e melhorar a inteligência espacial e visual.
Atualmente, os videojogos representam uma das atividades lúdicas favoritas das crianças, pelas suas propriedades gráficas e interativas.
Contudo, associado à melhoria da qualidade gráfica das imagens, foram aumentando os níveis de violência de grande parte dos videojogos comercializados e de horas diárias gastas com a sua prática, motivo de preocupação para pais, pediatras e professores.
Um relatório recente divulgado pelo Parlamento Europeu conclui que os videojogos podem ser bastante benéficos para as crianças, estimulando o pensamento estratégico, criatividade e sentido de cooperação. Refere ainda que, apesar de na maioria dos casos serem inofensivos, podem, em determinadas circunstâncias, estimular comportamentos violentos, dado o seu conteúdo.
Recentemente, tem aumentado o número de estudos que demonstram que a exposição das crianças a videojogos de conteúdo violento, durante várias horas, todos os dias, pode diminuir o seu rendimento escolar e potenciar comportamentos agressivos, nomeadamente discussão com os professores e envolvimento em lutas.
De forma associada, verifica-se que a grande maioria das crianças e adolescentes considera os jogos de carácter violento mais aliciantes. Como é óbvio, os comportamentos agressivos não podem ser explicados unicamente com base na veiculação de violência através dos videojogos e outros meios de comunicação. Contudo, a exposição à violência explícita dos videojogos pode constituir um dos vários factores potenciadores, em crianças e adolescentes predispostos.
Estão ainda descritos efeitos potencialmente prejudiciais dos videojogos nos padrões de sono, aprendizagem e memória das crianças. A sua prática, sendo sedentária, pode associar-se à diminuição da prática de exercício físico e obesidade. E, obviamente, os videojogos em excesso acabam por retirar tempo ao estudo, elaboração dos trabalhos de casa, leitura, convivência familiar e brincadeiras com os amigos. O papel dos pais é preponderante, através da imposição de limites na quantidade de tempo gasto com os mesmos, supervisão cuidadosa do seu conteúdo, aquisição preferencial de videojogos de carácter educativo e na estimulação de práticas mais saudáveis, como o exercício físico.
Algumas directrizes internacionais recomendam que as crianças não sejam expostas a mais do que uma a duas horas diárias aos meios de comunicação, incluindo televisão, filmes, DVD ou videojogos. Além de monitorizarem atentamente o conteúdo dos videojogos, os pais devem impor regras rígidas relativamente ao número de horas despendido com o jogo, uma vez que diversos estudos indicam que essas medidas permitem reduzir os riscos de resultados escolares adversos e a aquisição de comportamentos e atitudes agressivos.
Os videojogos e outros meios de comunicação não devem, pois, ser utilizados como ‘babysitter electrónica’.
Importa também referir que os pais não devem depositar excessiva confiança na idade mínima estabelecida para cada videojogo, já que essa informação não elimina, de forma segura, a potencial existência de violência no mesmo. Assim, quando da aquisição de um videojogo, o seu conteúdo deve ser avaliado atentamente.
Os pais devem estar alertados ainda para a existência de um mercado em expansão de jogos online, nem sempre sujeitos a controlo por parte das autoridades competentes, e aos quais as crianças e adolescentes acedem facilmente através da internet.
Profº Doutor Ricardo João Teixeira – Psicólogo clínico e da saúde, especialista em psicoterapia