Redes sociais: implicações no desenvolvimento infantil
Sabe-se que em 2010 pelo menos 7,5 milhões das crianças abaixo dos 13 anos usavam de forma ativa o Facebook (estudo publicado pela Consumer Reports, USA).
Aos 12 anos de idade, 58% das crianças no Reino Unido e EUA já têm a sua própria conta de Facebook. Em idades anteriores o mais frequente é o acesso através da conta dos pais, dado que a idade mínima exigida são os 13 anos ou a falsificação da data de nascimento.
Um dos principiais interesses são os inúmeros jogos on-line, que apresentam uma continuidade temporal e por isso exigem um acesso diário a esta rede social, mas também o contacto com os amigos e a partilha de fotografias.
Muitas questões se colocam quanto ao uso do Facebook por parte de crianças, mas a que reúne maior preocupação é a da segurança. Estarão as crianças seguras navegando nas redes sociais?
O número de utilizadores do Facebook em fevereiro de 2012 era superior a 845 milhões, ultrapassando a população dos Estados Unidos considerada a terceira maior nação mundial.
Será que deixaríamos o nosso filho caminhar sozinho, numa Rua de Nova Iorque, com apenas 7 anos? Por muito que o vigiássemos à distância não haveria um momento de distração que poderia ter um triste desenlace?
Frequentemente ouvimos na prática clínica os pais referirem que se os proibissem eles iriam certamente fazê-lo às escondidas e que portanto a melhor solução é fazerem-no na sua presença. Mas infelizmente nos casos que nos foram dados a conhecer esse acompanhamento na realidade não se observa, frequentemente é o irmão mais velho (adolescente) que está por perto quando a criança faz o seu login. O principal problema é que os pais têm ainda sérias lacunas na compreensão do desenvolvimento infantil.
A maturidade emocional é alcançada na relação com os outros, na experiência proporcionada pelo ambiente sociocultural no qual vivemos. Só esta realidade permite este desenvolvimento.
Assim o Facebook, bem como outras redes sociais, não exige o desenvolvimento de competências sociais necessárias no contacto direto com os outros, no dia-a-dia. Não só limita a capacidade comunicativa e relacional das crianças como pode mudar drasticamente a forma como estes futuros adultos se veem e percebem mas também como percecionam os outros.
Uma das principais características humanas é a capacidade empática que surge do estabelecimento de relações próximas, duradouras e seguras. Ora a empatia não se desenvolve através das redes sociais onde o contacto com os outros é filtrado por um teclado, um monitor e a uma cadência temporal que existe na comunicação que deixa de ser natural, imprevisível e promotora de espontaneidade.
A linguagem corporal, os silêncios, a sonoridade das palavras, as pausas entre elas são extremamente importantes no diálogo que se constrói, nas relações que se amadurecem e no desenvolvimento pessoal de cada um.
Utilizar as redes sociais como forma privilegiada de contacto limita-nos no essencial enquanto seres humanos, na comunicação e na capacidade relacional que nos é inerente, provocando um adormecimento do diálogo e da partilha de sentimentos, emoções e experiências.
Mais assustador fica este panorama quando falamos em crianças em fase de desenvolvimento emocional e intelectual. O resultado que se tem vindo a repercutir passa por crianças pouco expressivas nas interações sociais, pouco atentas ao que sentem e principalmente desconhecedoras dos sentimentos e emoções que vivenciam.
Assistimos hoje à inclusão gradual no ensino pré-escolar e escolar da afetividade humana. Necessidade que surge de um abandono profundo do investimento nas relações pessoais. Crianças insatisfeitas, com enormes lacunas na capacidade expressiva e de relacionamento interpessoal, na aceitação do outro, na tolerância e na capacidade de lidar com a própria frustração.