Validar e dar nomes aos sentimentos das crianças é normalmente uma boa tática de parentalidade, mas nem sempre funciona.
Se se tratar de uma criança tímida, poderá ter dificuldade em expressar o que sente, mesmo quando os pais perguntam o que se passa. Contudo, há algumas estratégias para estes casos, especialmente para os menores de cinco anos. Experimente as seguintes três, aconselhadas pela médica Becky Kennedy.
Fique por perto e tranquila
Para as crianças que tendem a ser muito perfecionistas ou muito independentes, dizer “estás chateado, mas está tudo bem” nem sempre ajuda quando estamos perante uma vida. Isso porque esse tipo pode enervar a criança e acentuar os sentimentos negativos, como a frustração, e fazer com que a criança se sinta envergonhada.
Ao invés disso, basta que fique por perto, em silêncio e calma. Desta forma, está a transmitir a mensagem de que esse é um sentimento natural.
Apesar de nem sempre ser fácil permanecer nesse estado de acalmia perante uma “revolução” em casa, a médica Becky Kennedy, aconselha os pais a acalmarem-se através de inspirações e expirações profundas e até repetir um mantra (sequência de palavras ou frases), como por exemplo “Não há nada de errado comigo. Não há nada de errado com o meu filho. Eu consigo lidar com isto”.
Depois, evite enfatizar o sentimento negativo que o seu filho está a experienciar. Evite falar em sentimentos e no que é certo e errado. Demonstre apenas que está ali para quando ele precisar.
Como as crianças são moldadas pelo comportamento dos pais, ao vê-la concentrar-se na sua autorregulação emocional e ao perceber que está disponível para ela, a criança começará a perceber que os sentimentos não são tão assustadores como podem parecer.
Use uma metáfora para as emoções
Ao utilizar esta figura de estilo está a facilitar a compreensão da criança sobre as emoções.
Pode, por exemplo, explicar-lhe que as emoções são como os elevadores: estão no piso 0 e de repente vão para o piso dois e depois para o -1. Ou seja, no fundo o que lhe está a transmitir é que os sentimentos têm flutuações e que é normal que assim seja e isso não significa que se vão sentir assim sempre. É algo passageiro. Mesmo que não responda, a criança irá ficar com essa metáfora gravada no cérebro e a forma como lida com as emoções começa a alterar-se ao longo do tempo.
Transforme a ligação entre ações e sentimentos num jogo
Para que o seu filho consiga conectar-se com as suas próprias emoções, porque não tentar fazer da relação entre as suas ações e os sentimentos um jogo?
Assim que a criança se acalmar, pode sugerir tentar adivinhar o que fez com que se sentisse assim. Se acertar, a criança faz sinal com a mão com o polegar para cima e se errar com o dedo polegar para baixo.
Pode começar por fazer uma introdução ao tema que alivie a tensão e provoque algumas gargalhadas – “Quando estávamos a jogar à apanhada, tu ficaste chateado porque veio uma bruxa que me deu superpoderes para chegar à parede mais rápido que tu”. Depois de umas brincadeiras, pode tentar acertar: “Ou foi porque tu que me querias apanhar primeiro e ficaste frustrado porque eu me antecipei.” Se o seu filho der a entender que sim, não dê mais opções. Diga apenas que entendeu. Depois pode continuar, com outros exemplos, outras histórias, se o seu filho quiser continuar com a brincadeira.
É muito importante para o desenvolvimento de uma criança que esta se consiga expressar quando algo a incomoda. Assim, os que estão à sua volta podem compreender a sua atitude e até, se for o caso, tentar evitar algumas ações que possam despoletar esses sentimentos. Contudo, é igualmente essencial que as crianças compreendam que existem muitas emoções e que, às vezes, andam num carrinho de uma montanha-russa. Além disso, é fulcral que percebam que não há “emoções boas” nem “emoções más” – as emoções são sentimentos que todos os humanos têm. Podem tornar-se mais intensas em algum momento, mas isso não é motivo para que se sintam culpadas ou envergonhadas.
Estas estratégias são eficazes se as crianças tiverem atitudes que demonstrem que estão tristes, frustrados. No entanto, há que frisar que se esses episódios forem recorrentes ou se verificar que a criança está prostrada, sem vontade de brincar, sem ânimo, ou mesmo se a relação entre si e o seu filho tiver muitas tensões que culminem em ataques de fúria ou algo do género talvez seja adequado procurar ajuda médica especializada.