O ato de roer as unhas ou “onicofagia” (do grego “onyx” unha e “phagein” comer), é definido como o hábito oral de morder alguma ou algumas unhas. Roer as unhas é um comportamento comum em crianças a partir dos 3 anos de idade que tanto pode desaparecer espontaneamente ao fim de algum tempo como prolongar-se durante a infância, a adolescência e mesmo na idade adulta.
A partir dos 6 meses de idade, com o nascimento dos primeiros dentes e a introdução de alimentos sólidos na dieta, o bebé afina a coordenação mão-boca, o impulso de sucção atenua-se e a necessidade de morder acentua-se. Tal como o reflexo de sucção, morder conduz a uma satisfação psicoemocional.
Porque é que as crianças roem as unhas?
A criança pode roer as unhas por vários motivos: por imitação de outros membros da família, tensão emocional, ansiedade, hábito anterior de chuchar no dedo ou na chupeta, insegurança, impulsividade, tédio, entre outros.
A este tique podem juntar-se outros “hábitos nervosos”(1) como chuchar no dedo, enrolar com o dedo ou morder o cabelo, meter o dedo no nariz, morder os lábios, as bochechas ou a ponta do lápis, ranger os dentes (bruxismo), entre outros.
O ato impulsivo de roer as unhas pode torna-se numa resposta quase “natural” e inconsciente em situações de grande inquietude e tensão, momentos em que o comportamento se agrava.
O stress manifestar-se através de várias reações como a mudança de comportamentos. Os tiques são uma forma de aliviar a tensão e a ansiedade sobretudo se a criança é tímida e insegura.
Para os pais, os tiques da criança devem ser encarados como um sinal de alerta, como uma forma de a criança chamar a atenção sobre as suas necessidades mais intimas. Naturalmente, a criança ainda não tem estruturas emocionais suficientemente robustas que lhe permitam saber lidar com determinadas situações. Os tiques são uma “bengala” onde a criança se apoia para gerir as suas tensões emocionais, frustrações, medos, inseguranças ou como resposta a mudanças e incertezas.
Consequências de roer as unhas:
- Deformação das unhas e, nos casos mais extremos, a sua perda.
- Lesões e feridas nas cutículas e na pele em torno das unhas.
- Deformação dos dedos.
- Aumento da sensibilidade à dor na ponta dos dedos que podem ficar magoadas chegando mesmo a sangrar.
- Infeções da boca (aftas, gengivites, herpes), das unhas e da pele.
- Porta de entrada para agentes infeciosos.
- Problemas dentários como lesões nas gengivas, desgaste do esmalte dos dentes ou a mal oclusão dentária.
- Para além destas consequências, o sentimento de vergonha associado ao ato de roer as unhas (reprovação social e aspeto inestético das mãos) também pode afetar a autoestima da criança.
Como pode ajudar o seu filho a parar de roer as unhas?
1. Descobrir os motivos
Houve alguma alteração recente na rotina? O seu filho mudou de escola e está com dificuldades de adaptação? Está no início do ano escolar e ainda não sabe lidar com as novas regras e limites ou custa-lhe separar-se de si quando o deixa de manhã? É agressivo na escola ou com algum familiar? Teve um conflito com algum amigo ou familiar? Nasceu um irmão e sente-se excluído? O seu dia-a-dia é demasiado preenchido e uma constante correria entre atividades?
Estas são algumas situações potencialmente stressantes e que podem provocar alterações mais ou menos profundas no comportamento da criança.
Pergunte ao seu filho porque rói as unhas e ajude-o a identificar as circunstâncias que o fazem roê-las. Ao identificar a origem do comportamento será mais eficaz no ataque às suas causas e a estabelecer um padrão.
2. Conversar
Ajude o seu filho a verbalizar os seus sentimentos e a identificar aquilo que o deixa verdadeiramente tenso. Envolva-o na procura de soluções para aliviar as crises e ajude-o a gerir as emoções que lhe causam ansiedade.
Se a criança souber reconhecer o que a leva a roer as unhas e estiver determinada a alterar/substituir este comportamento, ser-lhe-á mais fácil ser bem-sucedida. Explique os efeitos negativos do ato de roer as unhas e mostre-se disponível para ajudar, sem ameaças, proibições ou dramas.
3. Não castigar, penalizar ou culpabilizar
Usar o humor para lidar com a situação pode ser um bom aliado para envolver o seu filho na procura de uma solução uma vez que castigar ou criticar constantemente só contribui para agravar o problema. O vício sai reforçado e a autoestima fragilizada.
Proibir, castigar, pintar as unhas com produtos tóxicos e potencialmente irritantes, ridicularizar e humilhar são estratégias que nada resolvem e estão na origem de outras questões como a baixa autoestima e a quebra da confiança na relação pais/filho.
4. Não chamar a atenção em público
Não chame a atenção à frente de terceiros (adultos ou amigos) nem humilhe o seu filho com comentários depreciativos.
Roer unhas pode expressar situações de timidez ou tensão e dificuldades. Expor essas dificuldades pode aumentar ainda mais a ansiedade da criança e agravar o problema.
5. Cuidar das unhas
Vigie as unhas e a pele das mãos. Mantenha as unhas curtas, limpas e bem arranjadas. Se as unhas tiverem pontas irregulares ou peles soltas é natural que a criança se sinta incomodada e as tente arranjar com os dentes. Para as meninas, ter as unhas bem cuidadas, com um verniz especial (não tóxico) pode ter um efeito inibidor ao mesmo tempo que aumenta a resistência das unhas.
Cuide também das suas unhas. Os pais são o modelo dos filhos. Se tiver umas unhas bonitas, a sua criança vai querer seguir o seu exemplo.
“A higiene das mãos e das unhas é especialmente importante, dado que as hipóteses de infeções (designadas por paroníquias) por bactérias ou fungos é mais provável. Cuidar das unhas das crianças, com carinho e ternura faz mais pela resolução desta situação do que castigos e vernizes de mau sabor.”(2)
6. Elogiar
Valorize e elogie os pontos positivos em vez de se focar na punição. Se, por exemplo, o seu filho diminuiu a frequência com que rói as unhas, se as unhas já cresceram um bocadinho e precisam de ser cortadas ou se a ponta do lápis sobreviveu a mais um dia escolar, diga-lhe como está feliz e orgulhosa pela sua conquista.
7. Desviar a atenção
Distraia o seu filho para atividades que ocupem as mãos (desenhar, jogar, …) ou a boca (cantar, contar uma história, comer uma peça de fruta crua, …) e converse com o seu filho sobre o que lhe está a sentir naquele momento. Fazer outras coisas quando a criança se sente ansiosa é uma forma de adquirir comportamentos alternativos que a vão ajudar a lidar com o stress sem se magoar.
8. Criar lembretes
Combinem um sinal de alerta como um piscar de olhos. Quando vir o seu filho a roer as unhas, use o código muito discretamente para o consciencializar do seu comportamento.
Se o seu filho rói a ponta do lápis ou da caneta, coloque um autocolante colorido ou um curita divertido e diga ao seu filho que está lá para lhe lembrar que não o deve fazer.
“Quando muito, os pais poderão, com meiguice, dar um pequeno toque ou fazer um sinal à criança, quando ela estiver a roer as unhas, mas de cumplicidade e não de acusação direta.”(3)
9. Reduzir a ansiedade com atividades prazerosas
Roer as unhas é uma forma de combater a ansiedade, por isso encontrar formas de aliviar este sentimento ajuda a combater este hábito. Conversar, brincar, passear, ir ao parque, cozinhar, jogar à bola, fazer exercício físico ao ar livre ou ler um livro são atividades que ajudam a relaxar e a aliviar a tensão.
10. Celebrar as pequenas vitórias
Estabeleça com o seu filho um esquema simples de recompensas. Um dia sem roer as unhas vale uma estrela e sete estrelas valem um prémio, como uma ida ao cinema ou uma moeda para amealhar e comprar aquele brinquedo tão especial.
11. Ser paciente e coerente
À semelhança do adulto, a mudança/substituição de um comportamento não se dá de um momento para o outro. Vai ser necessária paciência, compreensão, perseverança, apoio, cumplicidade e muito carinho.
12. Procurar ajuda de um profissional
Por norma a criança deixa de roer as unhas naturalmente. Se o comportamento persistir, pode justificar-se o apoio profissional especialmente quando tem impacto nas relações socias e na autoestima da criança. Converse com o pediatra ou médico assistente do seu filho para, em conjunto, encontrarem a melhor estratégia para ajudar o seu filho a combater as causas que estão na origem deste comportamento.