Falando com o coração
O coração é um órgão de pequeno tamanho, com uma atividade intensa e grandiosa. Mostra-se poderoso ao afirmar-se como centro da vida e, ultimamente, vulnerável ao adoecer por esquecimento e negligência.
Atualmente falamos muito do coração e pouco ao coração, pelo que 40% das mortes no nosso país se devem a doenças cardiovasculares. Os hábitos e estilos de vida nocivos, introduzidos pelas transformações sociais, económicas e culturais das últimas décadas, têm conduzido, indubitavelmente à negligência das suas causas reais (diabetes, hipertensão arterial, dislipidémia, tabagismo, excesso de peso e o sedentarismo).
Iniciamos os nossos dias numa corrida contra o tempo e tendemos a desculpabilizar os vários erros que cometemos, com a suposta escassez de tempo. O stress é inevitável e a sensação de descontrolo é uma constante da vida que teima em nos desviar da direita estrada para caminhos evitáveis.
Adotamos, cada vez mais, a lei do menor esforço, reduzindo assim o consumo energético e em consequência aumentam os níveis de gordura, que conduzem à obesidade, à hipertensão arterial e à dislipidémia. Paralelamente, habituamo-nos a uma alimentação desequilibrada, caracterizada pela ingestão de grandes quantidades de alimentos, poucas vezes ao dia, conducente ao aumento de peso e à obesidade, ambos fatores de risco das doenças cardiovasculares. Em simultâneo, o trabalho longe de casa, e consequentemente, a necessidade de comodidade e conveniência a baixo custo, permitiram que a industria da “fast food” se enraizasse nas nossas vidas. Ingerimos assim, grandes quantidades de gorduras e sal, usados para devolver o sabor perdido no processamento dos alimentos, e em consequência aumentam os níveis do “mau” colesterol (LDL), e surge a hipertensão.
Parar e pensar no coração, terá de se tornar uma prioridade nas nossas vidas. O problema mais comum em colocar objetivos na nossa vida é a utilização da palavra “impossível”. Grande maioria das pessoas sai do percurso quando começa a pensar “eu não vou conseguir fazer aquilo”, ou “é muito difícil” ou “é praticamente impossível”. No entanto, se todos pensássemos assim, nada de novo se teria inventado e a humanidade não teria presenciado a tremenda evolução que se tem vindo a verificar.
Saber estabelecer prioridades e assumirmos somente as tarefas que sejamos capazes de desempenhar com segurança, satisfação pessoal e profissional, será o primeiro passo na obtenção de melhores relações afetivas e consequentemente, na melhoria do nosso estado físico e emocional.
Aumentar o gasto calórico semanal pode-se tornar possível, simplesmente reagindo aos confortos da vida moderna.
Preterir o elevador e subir 2 ou 3 andares de escadas ao chegar a casa ou ao emprego, estacionar o carro, intencionalmente, num local mais distante, dispensar a escada rolante no centro comercial, serão alternativas que poderão compor uma mudança de hábitos. Procurarmos manter uma fonte de lazer, como caminhadas em grupo, deportos coletivos, serão outras opções, que além de nos manterem ativos, contribuem para a diminuição dos níveis de stress. Praticar atividades físicas por um período mínimo de 30 minutos diariamente, contínuos ou acumulados, é a dose suficiente para prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida.
Para ser saudável, a alimentação deve ser variada e polifracionada (6 refeições ao longo do dia). Nas refeições, devem ser consumidos farináceos (arroz, massa e batata), não sendo aconselhável juntar mais de um. As carnes devem ser consumidas moderadamente e, de preferência, devem ser magras ou de aves.
Se houver indecisão entre um prato de peixe e um de carne, a escolha deverá recair sob o primeiro. A fruta deve ser consumida com regularidade, mas não em excesso, e os lacticínios não devem ser gordos. A água é indispensável à saúde, sendo aconselhável beber entre 1,5 a 2 litros por dia.
Crescermos e vivermos saudáveis, não é somente um desígnio do destino, mas antes o somatório das opções que fazemos ao longo da vida. Por isso, deixemo-nos de falar ao coração com palavras e comuniquemos-lhe com gestos!