No que toca ao tema furar as orelhas a um bebé ou criança, a polémica está instalada. Basta passar os olhos por alguns fóruns onde este tema é debatido para se perceber de imediato que há muitas e variadas opiniões sobre o assunto.
Encontram-se todos os tipos de contribuições. Desde mães que consideram absolutamente normal furar as orelhas a um bebé com semanas de vida a acusações de “má mãe” ou de “mutilação” do corpo da criança.
Em Inglaterra, foi mesmo lançada uma petição que apela à proibição do furo das orelhas de bebés e crianças por estas não terem condições para dar o seu consentimento. Esta petição recolheu mais de 40 mil assinaturas.
Na sua base reside o pressuposto de que “É uma forma de crueldade contra a criança. Inflige dor severa e medo à criança desnecessariamente. Serve o único propósito de satisfazer a vaidade dos pais. Outras formas que causam sofrimento físico às crianças são ilegais – esta questão não deveria ser tratada de forma diferente.” Naturalmente, há vozes contra esta petição e aquilo que ela defende.
Como seria de esperar, as experiências partilhadas também variam entre si. Algumas mães furaram as orelhas às filhas nos primeiros dias de vida e nunca tiveram problemas, outras também furaram mas falam de infeções, alergias e inflamações e outras afirmam que vão aguardar até que a filha tenha idade para decidir o que quer fazer.
FURAR AS ORELHAS A UM BEBÉ
Furar as orelhas a um bebé: argumentos a favor
Alguns pais consideram que em bebé é mais fácil furar as orelhas: a dor é momentânea e passageira, a bebé não sabe ao que vai e, por ser mais pequena, é mais fácil de controlar ou porque oferece menor resistência aos cuidados de higiene local após o furo.
Por isso, se não houver indicação médica em contrário, porque não furar logo as orelhas?
furar as orelhas a um bebé: argumentos contra
Outros pais partilham da opinião de que deve ser a filha a decidir se quer ou não furar as orelhas e decidem esperar.
Outro motivo é o facto de a criança ainda estar em desenvolvimento e os furos poderem não ficar simétricos quando crescer. Esteticamente não é bonito e é muito complicado acertar a localização dos furos mais tarde.
Concluindo, furar as orelhas é uma decisão muito pessoal que cabe aos pais tomar com a consciência que existem riscos associados quando os furos são realizados numa idade prematura.
De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), os pais devem esperar até a criança ter a capacidade para cuidar dos furos sozinha. Também aconselha a não furar as orelhas enquanto a probabilidade de a bebé engolir acidentalmente os brincos ser elevada.
Se está mesmo com vontade de furar as orelhas à sua bebé, a AAP recomenda aguardar até duas semanas após a criança levar a primeira vacina contra o tétano (o que, segundo o plano de vacinação atual, ocorre aos 2 meses de idade).
Esta vacina é fundamental para prevenir infeções causadas por material mal esterilizado. Com esta idade, a bebé também terá maior capacidade de lutar contra uma eventual infeção uma vez que o seu sistema imunitário já deverá estar mais robusto.
Alguns pediatras recomendam aguardar até aos 18 meses de idade, quando a criança faz o primeiro ciclo da vacina contra o tétano (2, 4, 6 e 18 meses de idade).
Se está decidida a furar as orelhas da sua filha o mais importante é ter em atenção alguns princípios e cuidados para prevenir complicações, informar-se sobre os prós e contras e pedir a opinião ao pediatra.
Uma das principais escolhas é o local onde irá furar as orelhas. Certifique-se de que:
- O profissional que vai fazer a perfuração tem experiência a furar orelhas a bebés, o que não é o mesmo que furar as orelhas a um adulto;
- O equipamento e utensílios a serem usados para a perfuração está esterilizado;
- São tomadas todas as medidas de higiene (desinfeção das mãos e uso de luvas).
Furar as orelhas causa dor e desconforto?
Apesar de o local onde se faz o furo ser cartilaginoso, é sempre doloroso para a bebé, criança ou adulto. A tolerância à dor é subjetiva e varia de pessoa para pessoa. Não se pode dizer que furar as orelhas dói mais ou menos.
As crianças maiores podem ficar ansiosas e com medo da dor mesmo quando parte delas a decisão de furar as orelhas. Neste caso, ir a um local onde façam os dois furos em simultâneo pode ajudar.
A escolha dos brincos
Os brincos devem ser escolhidos de acordo com a idade da criança.
Não podem ser grandes, pontiagudos ou com detalhes que se possam prender na roupa da criança, cobertores, toalhas ou mantas. As argolas não são recomendadas (para as bebés e crianças mais pequenas, os brincos devem ser o mais pequenos e simples possíveis). Se os brincos ficarem presos e se o brinco for puxado pode rasgar a orelha.
Escolha uns brincos de um material que reduza o risco de infeções ou reação alérgica como ouro, platina, aço cirúrgico ou titânio, apesar de este cuidado não ser uma garantia a 100% de que não haverá consequências negativas.
Não use brincos de níquel ou cobalto, metais altamente alergénicos. Todas as partes dos brincos devem ser constituídas por material hipoalergénico, mesmo a mola.
Escolha um modelo com mola de segurança para reduzir a probabilidade de o brinco sair e a sua bebé o engolir ou de cair para o canal auditivo.
Como são feitos os furos?
- Os lóbulos das orelhas são desinfetados;
- É colocada uma pomada/gel que anestesia o local durante alguns minutos (pode optar por levar esta pomada consigo depois de se aconselhar com o pediatra);
- O ponto do furo é marcado com uma caneta e medido com uma régua para garantir que estão simétricos;
- Os brincos são abertos à frente do cliente e colocados na pistola;
- A pistola é disparada no pontinho feito com a caneta.
Como cuidar dos furos das orelhas da sua bebé
A sua bebé pode chorar durante algum tempo após furar as orelhas. Nos primeiros dias, a zona pode ficar ruborizada e inflamada enquanto não cicatriza a lesão.
Assim que chega a casa, há cuidados que deve ter para reduzir o risco de infeções e ajudar no processo de cicatrização:
- Lave muito bem as mãos antes de mexer na zona dos brincos;
- Limpe a área pelo menos duas vezes por dia e higienize com álcool ou com um produto antisético à frente e a trás, para prevenir a proliferação de bactérias;
- Durante o primeiro mês, duas vezes por dia, após a higiene local, segure gentilmente a parte da frente do brinco e rode-o delicadamente para evitar que cole à orelha;
- Não troque de brincos nem mexa no fecho enquanto a ferida não estiver bem seca e cicatrizada (cerca de 12 semanas). Após esse período, se trocar de brincos, use uns de ouro;
- Tenha especial cuidado quando secar a sua bebé para que as fibras da toalha não se prendam aos brincos. O mesmo quando a vestir.
Caso as orelhas apresentem sintomas como ruborização, dor, comichão ou pus, não retire os brincos e procure ajuda médica imediata.
Furar as orelhas a um bebé: complicações mais frequentes
Apesar de o risco associado a furar as orelhas ser considerado baixo, podem ocorrer complicações como dermatite alérgica de contacto, inflamação, sangramento, infeção, formação de quistos, lóbulos das orelhas rasgados ou hepatite (quando o equipamento utilizado não é adequado para furar as orelhas a bebés e crianças e não pode ser esterilizado).
Também pode acontecer a criança magoar-se nas orelhas quando brinca com outras crianças. Para evitar que isto aconteça, não se esqueça de escolher brincos adequados à idade da sua filha.