Afinal, os bebés nos primeiros meses de vida poderão apresentar menos imunidade ao sarampo do que se pensava. Com efeito, um estudo canadiano sugere que os bebés perdem a imunidade transmitida pela mãe antes de terem um ano de idade.
As conclusões do estudo põem em causa a suposta imunidade ao sarampo que os bebés receberão da mãe durante a gestação. Atualmente, crê-se que os bebés no primeiro ano de vida estarão imunes à doença.
Bebés aos seis meses de idade podem já não apresentar imunidade ao sarampo
Conduzido por investigadores do Hospital Pediátrico e da Saúde Pública de Ontario, o estudo contou com 196 bebés nascidos naquela região. Esta investigação foi publicada na revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria.
Segundo a equipa do estudo, a maioria dos bebés estava suscetível a infeção por sarampo apenas com três meses de idade. Aos seis meses de idade, nenhum do bebés participantes apresentava imunidade à doença.
Efetivamente, foi observado que 20% dos bebés com um mês de idade apresentavam índices de anticorpos insuficientes para terem imunidade ao sarampo. Aos três meses de idade, eram 92% os bebés que apresentavam níveis insuficientes de anticorpos.
Já era sabido que a imunidade ao sarampo nos bebés diminui nos primeiros meses de vida. No entanto, a equipa não esperava que essa imunidade diminuísse de forma tão rápida.
Vacinar toda a população e proteger os bebés
Shelly Bolotin, investigadora que liderou a investigação, disse que os resultados são “algo alarmantes”. A especialista considera que estes achados alertam para a necessidade de vacinar toda a população. Desta forma, pode-se proteger os elementos mais vulneráveis, nomeadamente os bebés.
A especialista explicou que a noção existente em que os bebés estão protegidos contra o sarampo durante mais tempo foi baseada em estudos conduzidos em regiões onde o sarampo é prevalecente.
Acontece que as mães daquelas regiões possuem anticorpos mais robustos contra a doença, os quais transmitem aos bebés. Isto acontece pois a imunidade ao sarampo destas mães advém de uma infeção natural. Esta imunidade é constantemente fortalecida através da exposição contínua ao sarampo.
Adicionalmente, em estudos anteriores tinha-se medido a imunidade em bebés na altura do nascimento ou com mais de seis meses de idade. Este estudo é único pois mediu a imunidade mensalmente, desde o nascimento até aos 12 meses de idade do bebé.
Os investigadores consideram os resultados do estudo preocupantes pois detetam um intervalo de suscetibilidade entre os seis meses e os 12 meses de idade, altura em que o bebé normalmente recebe a primeira dose da vacina contra o sarampo.
É suficiente vacinar o bebé contra o sarampo aos 12 meses?
Sim, atesta um comentário que acompanhou o estudo.
O estudo realça a importância da vacinação generalizada contra o sarampo. Isto produz um efeito conhecido como “imunidade de grupo”. Com a imunidade de grupo os vírus transmitidos por viajantes não conseguem infetar os cidadãos vulneráveis. Esta proteção deve-se ao facto de uma enorme quantidade de cidadãos estarem vacinados. Esta proteção é particularmente importante para os bebés com menos de um ano de idade.
Normalmente, em Portugal os bebés recebem a primeira dose da vacina contra o sarampo aos 12 meses de idade. Uma segunda dose de reforço é administrada quando a criança tem cinco anos.
Considerando os resultados do estudo, poderíamos facilmente assumir que se deveria vacinar os bebés mais cedo. Contudo, um comentário que acompanhou o estudo sugere que a vacinação precoce poderá afetar a eficácia da dose de reforço. Como consequência, os níveis de anticorpos são mais baixos em comparação com os de crianças vacinadas pela primeira vez aos 12 meses de idade.
“A vacinação precoce poderá também alterar a resposta após a nova vacinação, conduzindo a níveis inferiores do anticorpo, comparando com crianças que são vacinadas pela primeira vez durante o segundo ano de vida”, lê-se.
Portanto, pode-se concluir, não será aconselhável a vacinação precoce contra o sarampo.
O sarampo pode causar complicações graves como pneumonia, encefalite e mesmo morte.