A circuncisão é um procedimento cirúrgico muito frequente, por vezes com indicações clínicas pouco esclarecidas. Apesar de um método simples, tem riscos e complicações, pelo que deve ser bem ponderada a necessidade da sua realização, sobretudo em crianças e recém-nascidos.
Globalmente cerca de um quarto dos homens são circuncisados por razões religiosas, culturais, médicas ou opção dos pais. As sociedades que praticam a circuncisão rotineiramente dividem-se em dois grupos.
- O primeiro inclui muçulmanos, judeus e alguns grupos étnicos de África e da América Latina, em que a circuncisão tem uma finalidade de uniformização dessa sociedade, a nível religioso ou cultural.
- O outro grupo inclui sobretudo os países anglo-saxónicos, onde a circuncisão tem uma finalidade preventiva (já iniciada nos finais do século XIX).
Desenvolvimento do prepúcio
O prepúcio aparece como um anel de pele firme às 6 semanas de gestação, crescendo até ao extremo da glande até às 16 semanas de gravidez. A individualização do prepúcio e da glande começam as 24 semanas de gestação. A partir dai, o desenvolvimento progride a ritmo variável até ao nascimento.
Cerca de 90% dos recém-nascidos apresenta uma fimose fisiológica ou impossibilidade de retrair completamente o prepúcio. Durante os primeiros 3-4 anos de vida fatores como o crescimento do corpo do pénis, a acumulação de secreções e as ereções intermitentes propiciam a separação do prepúcio da glande. Menos de 1% dos homens tem fimose pelos 17 anos.
Para que serve o prepúcio?
O prepúcio, para além do efeito protetor do meato ureteral (abertura da uretra por onde a urina, a ejaculação e líquidos parietais circulam), apresenta outras funções como a contribuição para o prazer sexual, o que pode implicar uma insatisfação sexual nos homens circuncisados.
Assim, a indicação para circuncisão deve ser ponderada e muitas das circuncisões habitualmente realizadas podem ser evitadas.
É importante realçar que a grande maioria dos homens, apresenta um excesso de prepúcio que, com o pénis em repouso recobre e ultrapassa a glande. Isto não é fimose, mas sim uma condição normal.
Circuncisão cirurgia: o que é e quando é realizada?
Indicações para a circuncisão
As razões apontadas para a realização de circuncisão incluem:
- Prevenção do cancro peniano e do colo uterino;
- Prevenção de infeção urinária;
- Prevenção de doenças de transmissão sexual;
- Prevenção de ocorrência de fimose;
- Diminuição do risco de balanite;
- Correção de dificuldades da micção (dificuldade na orientação do jato urinário).
Principais complicações da circuncisão
- Hemorragia;
- Infeção;
- Aderências penianas;
- Remoção inadequada do prepúcio;
- Fimose secundária;
- Edema linfático;
- Necrose da glande;
- Fístula uretal;
- Curvatura peniana;
- Estenose do meato (estreitamento do canal urinário);
- Complicações anestésicas.
Tal como em qualquer procedimento cirúrgico a hemorragia e a infeção são as principais complicações da circuncisão em pacientes adultos.
Outras complicações incluem: formação de hematoma, edema difuso, dor por anestesia inadequada, mau resultado estético, rompimento das suturas pelas ereções antes da cicatrização e alterações da sensibilidade cutânea.
Cuidados no período pós-operatório
- O penso deve ser circunferencial com gaze gorda e removida em 24-48 horas após a circuncisão;
- Repouso relativo durante 1-3 dias;
- Lavar e desinfetar cuidadosamente a ferida durante os 7 dias seguintes;
- Relações sexuais ou masturbação devem ser evitados durante 4-6 semanas pelo risco de rotura da sutura.
Bibliografia: Carlos Brás Silva e col., Fimose e Circuncisão, Acta Urológica 2006, 23; 2: 21-26 21