A dislexia é uma dificuldade de aprendizagem específica que afeta a leitura e a escrita. Apesar de terem uma inteligência normal, as crianças com dislexia enfrentam grandes dificuldades na leitura, lenta e com erros. Podem ter de soletrar as palavras, sobretudo se forem pouco familiares, relê-las ou reler a frase. Ao concentrar-se na descodificação do texto, têm mais dificuldade em reter o conteúdo.
À medida que a escolaridade progride, verifica-se frequentemente que, apesar de a leitura se tornar mais fluente, continuam a existir dificuldades em reter a informação dos textos, o que pode afetar negativamente todas as disciplinas. Na escrita, pode haver dificuldade em organizar as ideias e as frases e na ortografia.
São sinais de alarme a dificuldade persistente na aquisição da leitura durante o primeiro ano, trocas frequentes de letras ou sílabas, lateralidade indefinida, persistência de leitura lenta e com erros repetitivos, as dificuldades na interpretação dos textos e na memorização de sequências de texto ou de frases faladas.
A Dislexia surge muitas vezes associada a outras perturbações do desenvolvimento, como as perturbações específicas da linguagem e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção (phda), ou a perturbações emocionais. Por este motivo, torna-se pertinente uma avaliação conjunta por Psicólogo Educacional e por Pediatra do Desenvolvimento.
Ao longo dos anos, têm sido colocadas dúvidas acerca deste diagnóstico por desconhecimento e por casos de uso abusivo. A dislexia é comprovadamente uma doença neurológica em que o cérebro funciona de maneira diferente do dos bons leitores. Outro aspeto importante é que as pessoas com dislexia não são todas iguais, pelo que é fundamental que haja uma avaliação neuropsicológica pormenorizada, realizada por pessoa experiente nesta área. Com base nesta avaliação são sugeridas variadas estratégias de treino fonológico, treino da leitura, treino da escrita, desenvolvimento de métodos de estudo, técnicas de redução da ansiedade face às tarefas escolares e desenvolvimento de uma autoestima positiva. Para tal, é fundamental a colaboração dos pais e o trabalho em equipa com os professores, o psicólogo e o médico. Os resultados são melhores e mais rápidos quando a intervenção é feita em idades mais jovens.
Desta forma, é muito importante que este tipo de dificuldades seja avaliado precocemente, até aos 8 anos de idade, evitando que o percurso escolar fique marcado por um rol de comentários negativos de a criança é “preguiçosa” ou “pouco empenhada”. Este tipo de verbalizações só acentua a desmotivação, o auto conceito negativo e a ansiedade relacionada com as tarefas escolares.
Filipe Glória e Silva, Pediatra do Neurodesenvolvimento
Rita Antunes, Psicóloga Educacional
Hospital Cuf Descobertas, 30 novembro 2013