1. A obstipação é considerada uma doença, a manifestação de vários factores ou de uma patologia congénita?
A obstipação é uma manifestação clínica que pode ter múltiplas causas (lesões anais, neurológicas, endocrinológicas e metabólicas, e medicamentosas). Contudo, em 90-95% dos casos é idiopática (ou seja, de causa desconhecida).
Estima-se que 3% dos lactentes apresentem obstipação. Alguns estudos referem que a obstipação é responsável por cerca de 3% a 5% das consultas de pediatria geral e 35% das consultas de gastrenterologia pediátrica.
2. Quais os fatores que, em conjunto ou separadamente, dão origem à prisão de ventre?
Existem várias causas que podem provocar obstipação na criança. Contudo, em 90-95% dos casos, não é possível identificar a sua causa. De entre as causas identificáveis e tendo em conta a idade da criança podemos dividi-las em:
- A obstipação em crianças com menos de dois anos de idade podem ser de origem orgânica (malformações anorretais – estenose anal, etc.), doença de Hirschprung, hipotiroidismo, paralisia cerebral, espinha bífida, tumores, doenças neuromusculares, etc., ou de origem medicamentosa (suplementos de ferro, excesso de vitamina D, etc.).
- A obstipação em crianças com mais de dois anos podem ser de origem funcional (erros alimentares – dietas pobres em água e fibras, excesso de ingestão de leite, etc.), adiamento da defeção por atividades lúdicas ou constrangimentos, etc.), de origem medicamentosa (suplementos de ferro, abuso de laxantes, etc.), de origem orgânica (fissura anal, doença febril aguda, etc.) ou por perturbações emocionais (depressão, etc.).
3. Como devem os pais proceder mediante a prisão de ventre do filho no primeiro ano de vida, tendo em conta que, em 12 meses, ocorrem muitas mudanças, sobretudo no que concerne à alimentação do bebé? E quando o pequeno deixa de usar fralda para passar a usar o bacio ou a sanita?
As alterações dietéticas são essenciais e geralmente suficientes (use papas infantis sem arroz, acrescente azeite cru aos purés após a cozedura das verduras, antes de as triturar e às massas depois de cozidas e escorridas; encoraje o sumo de ameixas ou damascos e o consumo de outras frutas – manga, papaia, etc.).
A ingestão abundante de água é essencial. Desencoraje o excesso de leite de vaca (que pode ser substituído pelo iogurte ou leite fermentado, uma vez que as bactérias vivas neles existentes contribuem para o crescimento da flora intestinal benéfica e, consequentemente, melhoria da obstipação), da cenoura, do arroz, das bananas e da maçã/pêra cozidas, uma vez que são obstipantes.
Se a obstipação está relacionada com o treino do bacio ou da sanita (que geralmente é iniciado entre os 18-24 meses), crie hábitos de evacuação regulares, sentando a criança no bacio ou na sanita com redutor e com os pés apoiados, duas vezes por dia, cinco a dez minutos, por exemplo encorajando a leitura ou contando histórias, aproveitando os momentos do reflexo gastrocólico ao acordar ou após as refeições; tratamento de suporte e dê tempo para que a criança ultrapasse esta situação.
Para saber mais leia o artigo conselhos para o treino do uso do bacio.
4. Que tratamentos são recomendados pelo pediatra nos primeiros 12 meses de vida? Os laxantes, os clisteres e os supositórios de glicerina estão incluídos nesta lista? Porquê?
Como sabe, nos primeiros dias de vida, o recém-nascido evacua depois de cada mamada, depois o intervalo entre as evacuações vai sendo progressivamente alargado. Alguns recém-nascidos têm dificuldade em evacuar; fazem força, ficam vermelhos e choram; as fezes são semilíquidas, coalhadas. Trata-se de uma descoordenação reto-anal por imaturidade do esfíncter anal: o bebé faz força para evacuar mas o esfíncter anal não abre.
É possível ajudar estes bebés a evacuar, efetuando massagens no abdómen, flexionando firmemente as suas pernas e coxas sobre o abdómen e estimulando o esfíncter anal (para tal basta introduzir e retirar em seguida, um supositório de glicerina, uma cânula de micro clister cortada e untada com vaselina ou até mesmo a ponta do termómetro com muito cuidado). Não se trata de uma verdadeira obstipação pelo que é errado indicar outros tratamentos.
A partir do quarto mês, com o início da diversificação alimentar, tentamos controlar a obstipação com reforço de líquidos e alterações dietéticas (reforço de fibras – vegetais – e de açúcares não absorvíveis – frutas -, etc.).
Nos poucos casos em que as medidas anteriores não são suficientes, podemos recorrer a fórmulas infantis especiais e ao uso de laxantes e clisteres, principalmente para os casos mais graves e crónicos.
Antes de prescrever um laxante, deve confirmar-se que há obstipação real e que não é causada por doença orgânica suscetível de terapêutica eletiva, e tentar solucioná-la por modificações dietéticas. Deve excluir-se a existência de causa iatrogénica e suspender-se, sempre que possível, o fármaco implicado.
5. Em que consiste o diagnóstico feito pelo médico? O bebé é submetido a que exames?
Na maioria dos casos, a história clínica detalhada e o exame objetivo completo permitem o diagnóstico definitivo. Contudo, em situações graves e crónicas podem ser necessários exames complementares de diagnóstico (radiografia – radiografia simples do abdómen, clister opaco, etc., manometria anorretal, biopsia da mucosa rectal, etc.).
6. Qual a dieta recomendada a bebés que sofrem deste problema? Quais os alimentos fundamentais nas diferentes etapas que se registam no primeiro ano de vida dos bebés, no sentido de os ajudar a ultrapassar a prisão de ventre?
As alterações dietéticas são essenciais e geralmente suficientes (acrescente azeite cru aos purés após a cozedura das verduras, antes de as triturar e às massas depois de cozidas e escorridas; encoraje o sumo de ameixas ou damascos e o consumo de outras frutas (manga, papaia, etc.).
A ingestão abundante de água é essencial. Desencoraje o excesso de leite de vaca (que pode ser substituído pelo iogurte ou leite fermentado, uma vez que as bactérias vivas neles existentes contribuem para o crescimento da flora intestinal benéfica e, consequentemente, melhoria da obstipação), da cenoura, do arroz, das bananas e da maçã/pêra cozidas, uma vez que são obstipantes.
Em suma: se o seu filho sofrer de obstipação, peça ajuda ao pediatra assistente e cumpra escrupulosamente o tratamento instituído, mesmo que seja durante vários meses.
Publicado no Mãe-Me-Quer com autorização do autor, Dr. Armando Fernandes (Pediatra). Centro Pediátrico de Telheiras – Pediatria do Desenvolvimento.