Os vermes intestinais ou parasitas intestinais abrangem um amplo grupo de microorganismos que vivem dentro do nosso organismo, onde se alimentam e reproduzem. Alguns destes parasitas alimentam-se dos glóbulos vermelhos e podem causar anemia (carência de ferro).
Vermes intestinais
Apesar de a maiorias destes parasitas se instalarem no intestino, podem ser encontrados noutras partes do corpo.
Existem mais de 100 tipos diferentes de parasitas intestinais, que podem entrar no corpo através do nariz, pele, alimentos, água ou picadas de insetos.
Como a cada tipo de verme correspondem sintomas diferentes, é fundamental identificá-los corretamente para se fazer o tratamento adequado para os eliminar.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para as parasitoses intestinais são:
- Morar ou viajar para áreas geográficas onde os parasitas são mais comuns;
- Deficiente higiene das mãos e da água;
- Idade (crianças e idosos são mais vulneráveis);
- Institucionalização (por exemplo, crianças que frequentam centros de acolhimento);
- Diminuição das defesas (como acontece na infeção pelo VIH/SIDA).
Via de transmissão
A via fecal-oral é a principal forma de transmissão dos vermes intestinais, a partir da água ou de alimentos contaminados.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da presença de vermes no corpo são dor abdominal, vómitos e diarreia, frequentemente associados a perda de peso. Mas, os sintomas de vermes no corpo variam de acordo com o tipo de microorganismo.
Os mais comuns são:
Ténias
Na maioria das vezes, a infeção por ténias não provoca sintomas. Quando se manifestam, incluem:
- Náuseas;
- Diarreia;
- Dor abdominal.
A passagem dos ovos das ténias através do ânus, pode originar grande desconforto. A infeção por Diphyllobotrium latum pode manifestar-se com sintomas de anemia, carência de vitamina B12 como fadiga, palidez, glossite (inflamação na língua) ou parestesias (sensações cutâneas subjetivas como frio, calor, formigueiro, pressão entre outras).
Trichuris trichiura
A infeção por este microorganismo pode não provocar sintomas. Quando se manifestam, os mais frequentes são;
- Dor abdominal;
- Tenesmo (sensação dolorosa na bexiga ou na região anal, com desejo contínuo, mas quase inútil, de urinar ou de evacuar);
- Diarreia (com sangue);
- Colite crónica (inflamação do intestino grosso);
- Anemia (causada por carência de ferro).
Ancilostomas
A infeção habitualmente ocorre pela penetração da larva através da pele, podendo posteriormente atingir os pulmões, originando pneumonite (infeção pulmonar) normalmente ligeira.
Quando a infeção ocorre por ingestão, a presença de vermes adultos no tubo digestivo manifesta-se por dor abdominal.
A infeção intestinal pode levar à formação de úlceras (lesão superficial do tecido do intestino) com consequente perda crónica de sangue e anemia moderada a grave.
Ascaris lumbricoides (ascaridíase ou lombriga)
As conhecidas lombrigas podem causar dor ou desconforto abdominal e sintomas de malabsorção (fezes fétidas, flatulência, distensão abdominal) quando a infeção é prolongada.
Na fase de migração larvar pode haver envolvimento pulmonar, sob a forma de pneumonite transitória aguda, com febre e eosinofilia (Síndrome de Löffler), que pode ocorrer semanas antes da dor ou desconforto abdominal aparecerem.
A prisão de ventre é a complicação mais frequente quando há um número volumoso de parasitas. A migração dos vermes adultos através da parede intestinal pode provocar:
- Colecistite (inflamação da vesícula biliar);
- Colangite (inflamação das vias biliares);
- Pancreatite (inflamação do pâncreas);
- Peritonite (inflamação do peritónio, doença grave que pode levar à morte).
Oxiúros (enterobius vermicularis)
Os oxiúros são pequenos vermes esbranquiçados de 2,5 a 12 mm, podem ser observados nas margens do ânus, nas fezes e por vezes na urina das meninas, por arrastamento durante a micção.
Provocam comichão anal à noite, o que causa grande incómodo e alterações no sono. São causa frequente de vulvovaginite (inflamação ou infeção da vulva e vagina). Não há confirmação sobre a eventual relação deste verme com alguns sintomas como bruxismo, enurese noturna e perda de peso.
Diagnóstico
Em alguns casos, é possível ver os parasitas nas fezes, o que facilita o diagnóstico.
Nos restantes casos, é necessário apoio do laboratório para o diagnóstico. A observação ao microscópio de diferentes preparados de fezes permite a deteção de ovos, quistos ou vermes.
Com frequência, este tipo de exame tem de ser repetido em diferentes períodos de tempo, porque os parasitas apresentam ciclos de vida diversos e intermitentes.
A colheita de fezes deve ser feita em três dias consecutivos e conservar-se as amostras no frigorífico, a 4ºC, até serem entregues no laboratório.
A colheita de sangue tem pouca utilidade para o diagnóstico. Pode, em alguns casos, permitir detetar algumas alterações laboratoriais.
A radiografia do abdómen com contraste opaco pode mostrar imagens correspondentes a lombrigas.
Outros meios de diagnóstico, como a ecografia, tomografia axial computorizada ou a ressonância magnética podem ser necessários no estudo de complicações intestinais ou extra-intestinais.
A endoscopia (observação de um órgão ou estrutura do corpo humano mediante recurso a um tubo flexível acoplado a uma câmara que permite visualizar esse órgão ou estrutura) pode ter utilidade em casos muito concretos.
Tratamento
As opções terapêuticas são variadas e dependem da causa da infeção.
Os derivados benzimidazóis (mebendazol, albendazol) são os medicamentos mais utilizados, devido à sua elevada eficácia e comodidade de administração.
A Organização Mundial da Saúde não recomenda a utilização destes fármacos antes dos 12 meses de vida, devido à ausência de estudos que considerem a sua utilização segura antes desta idade.
Perante suspeita de vermes intestinais, o tratamento deve abranger toda a família, não esquecendo a higiene pessoal (banho, unhas) e da casa (lençóis, toalhas, roupas), de forma a evitar re-infestações.
Como prevenir as parasitoses
As únicas medidas preventivas que devem ser adotadas são as que permitem interromper o ciclo de contaminação.
Para isso, é fundamental o controlo das águas com saneamento básico, controlo do solo com técnicas de rega e fertilização adequadas e controlo dos animais tendo em atenção o consumo de carne e peixe e a existência de animais domésticos.
A nível individual, algumas medidas podem ser adotadas para prevenir os vermes intestinais:
- Lavar as mãos antes das refeições, após muda de fraldas ou ida aos sanitários;
- Preparação adequada dos alimentos como lavagem de frutas e vegetais;
- Evitar carne e peixe mal cozinhados;
- Consumo de água filtrada e clorada.
As crianças emigrantes, vindas de áreas endémicas para certos parasitas, poderão realizar exame parasitológicos de fezes nas primeiras consultas de rotina, mesmo na ausência de sintomas.
Bibliografia: Protocolo de parasitoses intestinais Sofia Fernandes, Maria Beorlegui, Maria João Brito, Graça Rocha Sociedade de Infecciologia Pediátrica – 0873-9781/12/43-1/35 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria