Foi descoberta uma ligação genética que predispõe alguns bebés para a Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL).
Num estudo conduzido pela Universidade de Washington, foi identificada uma mutação genética que impede as células cardíacas de digerirem os lípidos do leite. Os lípidos são uma categoria de moléculas que abrangem as gorduras, o colesterol e os ácidos gordos.
A impossibilidade de processar os lípidos do leite interfere com a função cardíaca do bebé lactente. Isto por sua vez pode causar uma paragem cardíaca em bebés com apenas dois meses de idade.
Esta mutação é conhecida como deficiência da proteína trifuncional mitocondrial (MTP). Com esta deficiência, a células cardíacas dos bebés afetados não convertem as gorduras em nutrientes de forma adequada. É a acumulação das gorduras processadas que causa os problemas na função cardíaca.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Communications.
Tratar a raiz do problema
Hannele Ruohola Baker, investigadora que liderou o estudo, adiantou que “existem múltiplas causas para a síndrome da morte súbita do lactente”. A especialista explicou ainda que “há algumas causas que são ambientais. Mas o que estamos aqui a estudar é de facto a causa genética da SMSL. Neste caso em particular, envolve uma anomalia na enzima que processa a gordura”.
Segundo o portal Visible Embryo, a ideia desta investigação surgiu de uma observação de Jason Miklas, da Universidade de Stanford (EUA). O cientista tinha tomado conhecimento de um estudo sobre crianças que não conseguiam processar gorduras. Aquelas crianças apresentavam também doença cardíaca, sem uma explicação plausível. Os investigadores cultivaram células cardíacas de bebés lactentes em laboratório para observarem como morriam.
“Se uma criança tem uma mutação, dependendo da mutação, nos primeiros meses de vida podem ser bastante assustadores pois a crianças pode morrer repentinamente”, disse Jason Miklas.
O investigador explicou ainda que uma autópsia não revela necessariamente a causa da morte de um bebé.
A equipa afirmou não estar agora focada em tratar os sintomas de SMSL, mas sim a raiz do problema.
É possível aos futuros pais fazerem o rastreio para saberem se o bebé poderá nascer com a deficiência da proteína trifuncional mitocondrial. Contudo, até à data não foi identificado ainda um tratamento adequado para esta anomalia genética. Mas esta descoberta permitiu conhecer um novo aspeto da doença, o que poderá ajudar futuros pacientes.
Sobre a Síndrome da Morte Súbita do Lactente
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pediatria, a “Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) é a morte súbita e sem explicação de um bebé durante o primeiro ano de vida. É uma situação assustadora porque acontece sem aviso prévio num bebé aparentemente saudável”.
A SMSL “suscita o maior interesse em todo o mundo desenvolvido, onde frequentemente é a primeira causa de mortalidade no 1º ano de vida, excluindo o período recém-nascido“, pode-se ler ainda no portal da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
A revista Visão explicou num artigo que 90% das mortes por SMSL ocorrem entre os dois e os sete meses de idade, “embora a sua definição abranja os óbitos inexplicados até aos 12 meses“. As estatísticas internacionais indicam que a SMSL atinge dois em cada mil nascimentos. Em Portugal registam-se cerca de 0,1/0,2 por cada mil nascimentos.
Os pais podem tomar várias medidas de forma a minimizar o risco de SMSL:
- O bebé deve dormir sempre de costas
- Até aos dois anos, o bebé deve dormir numa cama de grades, com um colchão firme (e não na cama dos pais)
- O bebé não deve dormir na cama dos pais
- A cabeça do bebé deve estar destapada enquanto dorme
- A temperatura do quarto onde o bebé dorme deve rondar os 18º e os 21º
- A chupeta pode reduzir o risco de SMSL
- Não fumar durante a gravidez e depois do bebé nascer.