O sono é uma das grandes questões da parentalidade. Tendo em conta que se o bebé não adormecer, os pais também não dormem, não e difícil compreender porque há tantos investigadores que se debruçam sobre o tema do treino do sono dos bebés e livros que pretendem ensinar as melhores técnicas para os pôr a dormir a noite inteira.
Mas, tal como em muitas noutras questões da parentalidade, não existe um caminho exclusivo nem uma receita infalível e uma técnica que apresenta bons resultados num bebé pode não ser eficaz noutro.
O treino do sono não é uma técnica fácil de aplicar, nem para o bebé nem para os pais. Estes sentem-se culpados por “abandonar” o bebé, mas também se sentem socialmente pressionados porque, à sua volta, parece que todos os bebés dormem tranquilamente menos o seu. Será sua responsabilidade não conseguir ensinar o bebé a adormecer?
Treino do sono
A técnica do treino do sono consiste, basicamente, em técnicas comportamentais que têm como objetivo fazer com que um bebé de 6 meses ou mais adormeça sozinho e durma a noite toda.
Assim que o bebé começa a chorar, aguarda-se um curto espaço de tempo até o ir confortar. Esse espaço de deverá ser cronometrado pelo relógio e gradualmente alargado até que o bebé seja capaz de se confortar a si próprio e acabar por adormecer sozinho. Esta técnica funciona, alegadamente, em poucos dias.
Nenhuma técnica de treino do sono deve envolver deixar um bebé ou uma criança pequena a chorar horas a fio sozinha num quarto escuro.
O debate à volta do treino do sono surge devido a estas técnicas envolverem alguns períodos de choro e protestos por parte do bebé. Os pais (e especialistas) que as defendem acreditam que os bebés têm a capacidade de desenvolver competências de “auto-consolo”, ou seja, que os bebés podem ser ensinados a adormecer sozinhos e voltar a adormecer sem ajuda dos pais quando acordam durante a noite – à semelhança do que se passa com os adultos.
Os críticos do treino do sono, muitos dos quais estão mais comprometidos com o “apego aos pais”, afirmam que, na verdade estas técnicas são um “desamparo aprendido”, já que ensina aos bebés que, na realidade, não importa o quanto eles choram porque ninguém irá em seu auxílio.
Cada família tem a sua receita
Muitos estudos se têm debruçado sobre os efeitos do treino do sono nos bebés pela medição dos níveis de cortisol, a hormona do stress.
Os resultados não são conclusivos. Alguns estudos concluem que os níveis de cortisol não são muito diferentes entre os bebés que são confortados pelos pais e aqueles que não o são. Outros afirmam, ao fim de algum tempo, os bebés continuam com níveis de ansiedade elevados mas simplesmente desistem de pedir ajuda.
Para a maioria dos pais, optar por este tipo de técnica não é uma questão linear. Divididos entre a necessidade de eles próprios dormirem e a ansiedade provocada pelo choro do bebé, o treino do sono é, por vezes, um recurso aplicado quando todas as outras técnicas falham.
Independentemente das conclusões das várias investigações, todos os especialistas são unânimes em defender que os pais não devem fazer nada que os deixe desconfortáveis já que são os maiores especialistas no que toca à compreensão das necessidades do seu bebé.
Ou seja, os pais devem fazer aquilo com que se sentem realmente confortáveis, independentemente das teorias ensinadas nos livros. Se o treino do sono não é para si, não vale a pena fazer o sacrifício de deixar o bebé chorar.
Se consegue manter-se sã mesmo com a privação de sono, se tem oportunidade de descansar durante o dia enquanto o bebé dorme as sestas ou se a dificuldade em adormecer é uma fase passageira (como o nascimento dos dentes), há outras formas de o adormecer.
Todas as famílias encontram o seu ponto de equilíbrio. Se não conseguem ultrapassar as dificuldades do sono do bebé sozinhos, o pediatra pode ser um excelente aliado para ajudar a encontrar uma solução que satisfaça as necessidades de todos: dos pais e do bebé.