O desconfinamento já começou para a maioria das famílias. No entanto, é ainda aconselhável que aqueles que possam permaneçam em casa em teletrabalho. Além destes, também as crianças continuarão a ter aulas à distância, passando a maior parte do dia nas suas casas. Com tudo o que este tempo nunca antes vivido traz (dualidade de sentimentos, ansiedades e excesso de energia), as rotinas diárias veem-se alteradas, algo que muda, consequentemente, o sono e descanso das crianças. Saiba neste artigo como como ajustar a rotina de sono do seu filho neste período.
Como ajustar a rotina de sono do seu filho?
A nova dinâmica do dia a dia, sem horários fixos e com atividades diferentes, tem impacto sobre o sono das crianças. Portanto, é normal que se verifique uma maior resistência na hora de ir para a cama.
Com vista a ajudar os pais a ajustar a rotina de sono durante esta altura especial que vivemos, a revista Bebé reuniu conselhos de alguns especialistas.
Fatores que influenciam o sono das crianças
De acordo com a psicóloga especialista em Distúrbios de Sono Dra. Luciane Carvalho existem vários fatores que podem contribuir para problemas no sono:
- Falta de sociabilização
Devido à falta de interação com os seus pares, e com os pais ocupados todo o dia com o seu trabalho, as crianças não são estimuladas, algo fundamental para o bem-estar psíquico, o que influencia o sono.
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- Alimentação incorreta
Uma má alimentação, refeições fora do horário habitual e comer muito antes da hora de ir dormir podem também justificar a falta de sono e dificuldade em dormir.
- Sestas
Também as sestas prolongadas ou fora do horário habitual podem contribuir para um desregulamento do ciclo circadiano. De acordo com a especialista, o ideal é que os pais definam qual a duração deste pequeno intervalo de forma a garantir que não prejudicará os seus hábitos de sono.
- Utilização de aparelhos eletrónicos à noite
De forma a conseguir alguma margem para acabar um trabalho e dar uma pausa entre as diferentes matérias do seu filho, é normal que os pais deixem os seus filhos ver televisão e jogar no tablet um pouco mais.
Contudo, é importante que esteja atento ao tempo de utilização destes dispositivos para que não sejam usados em demasia, garantindo ainda que são deixados de lado à noite e não sejam usados pelo menos uma hora antes da criança ir para a cama. Isto porque “o nosso cérebro demora um certo período a entender que é hora de dormir e de desligar”, explica, em declarações à revista Bebé, Betina Haubrich, psicóloga e consultora de sono infantil. Além disso, a luz azul do ecrã interfere na produção de melatonina, hormona responsável pela regulação do sono.
- Causas emocionais
Quando o motivo da falta de sono não estão relacionados com distúrbios de sono, podem dever-se a problemas emocionais, como insegurança.
“A ansiedade dos pais pode contribuir muito para a alteração do sono. Muitas vezes as famílias acabam por perder a rotina, sem hora para acordar e dormir, o que também contribui, além da angústia de não saber quando isso vai acabar”, declara Betina Haubrich.
Também a tensão parental, individualmente ou enquanto casal, pode refletir-se no seu filho.
“Em geral, as alterações do sono de uma criança pequena estão intimamente relacionadas ao fator emocional. Uma briga dos pais, discussões e desentendimentos podem gerar sentimentos de culpa no filho e, consequentemente, atrapalhar no sono”.
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Dicas para ajustar a rotina de sono
1. Criar um calendário familiar
De forma a lidar com a incerteza, os especialistas afirmam a importância que tem a reestruturação da rotina, através de um calendário familiar para a quarentena, por exemplo.
“Sentar com as crianças, pegar num calendário e fazer um planeamento das atividades do dia: em determinada hora serão as refeições, em tal hora vamos brincar… Ter uma rotina traz segurança para a criança e tem influência sobre a sua noite”, explica a pediatra Loretta Campos.
2. Conversar abertamente sobre o que os preocupa
É essencial nesta fase que se construa um ambiente propício a conversas para esclarecer as dúvidas e receios dos mais pequenos membros da família. Além de os tranquilizar, faz com que entendam, de forma simplificada, o que está a acontecer no mundo.
“É muito importante os pais conversarem com os seus filhos. Não podemos dizer para a criança o que não podemos cumprir. Temos de lidar com a realidade”, enfatiza.
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3. Estabelecer horários para as refeições, momentos de lazer e de descanso
“É a dinâmica da casa. Não será a rotina dos filhos ou dos pais, mas de toda a família”, independentemente de ter atividades conjuntas e separadas, mas deve sempre representar o interesse individual e coletivo da família. “Dessa forma, garantimos que o sono das crianças não fique dessincronizado com o dos pais”, afirma a pediatra.
4. Manter a disciplina
Assim que a rotina da casa foi reestabelecida, também os pais se devem esforçar para a manter, pois o comportamento infantil molda-se pelo comportamento dos seus modelos, os pais.
De nada vale num dia ser inflexível e querer que a criança siga o plano, para no dia seguinte alterar os horários por causa do cansaço.
“Os pais não precisam ter uma atitude não-acolhedora, mas ao mesmo tempo ter uma postura de manutenção de conduta”, afirma.
De acordo com Loretta Campos, as primeiras noites podem ser mais difíceis, mas é expectável que as crianças aceitem a nova rotina e que esta se torne, com o tempo, um um hábito.
“Nas primeiras noites, pode haver protesto e choro na hora de deitar, mas os adultos podem ajudar na transição, sem precisar deitar com a criança – tocando, abraçando, trabalhando de forma lúdica que chegou o momento de dormir”, finaliza.