Investigadores do Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) desenvolveram um estudo com os objetivos de estimar a prevalência da dificuldade em adormecer e dos despertares noturnos de crianças em idade pré-escolar e identificar os fatores maternos e infantis associados à ocorrência destes problemas de sono.
Dificuldade em adormecer e despertares noturnos
A dificuldade em adormecer e os despertares noturnos são problemas de sono frequentes na infância, com consequências negativas para o desenvolvimento das crianças.
Contudo, e segundo os investigadores deste estudo, continuam por esclarecer as principais características maternas e das próprias crianças associadas a estes problemas de sono, nomeadamente em idades pré-escolares.
Este estudo foi realizado com a participação de 5631 crianças portuguesas, com 4/5 anos de idade.
Metodologia
Através da aplicação de questionários estruturados, foi recolhida informação relativa às características demográficas e socioeconómicas, estilos de vida, saúde e hábitos de sono.
A dificuldade em adormecer foi definida quando as crianças demoravam mais de vinte minutos para adormecer e os despertares noturnos foram considerados quando as crianças acordavam todas as noites durante o sono.
Resultados
Os resultados deste estudo indicam que a dificuldade em adormecer e os despertares noturnos foram identificados em 28 das crianças sendo mais frequentes nas crianças mais novas não sendo observadas diferenças nas prevalências destes problemas de sono tendo em conta o sexo da criança.
Observou-se que a prevalência da dificuldade em adormecer foi menor em crianças com mães mais velhas e com escolaridade mais elevada, e em crianças que vivem com irmãos e cujas mães dormem, em média, mais horas por dia.
Diagnóstico de rinite e de alergias, visualização de televisão ou outros meios eletrónicos em duração igual ou superior a 2 horas por dia, realização de sestas durante a tarde, dormir no quarto dos pais, necessidade de presença familiar para adormecer e a leitura de histórias antes de adormecer estavam associadas a uma maior prevalência de dificuldade em adormecer.
Os despertares noturnos estavam associados com o desemprego materno e inversamente associados com o facto de as mães serem solteiras, divorciadas ou viúvas e com rendimentos familiares mais elevados.
Diagnóstico de rinite, excesso de peso e obesidade na criança, realização de sestas durante a tarde e necessidade de presença de um familiar para adormecer estavam associados a maior prevalência de despertares noturnos.
Maior duração do sono materno estava também inversamente associado com os despertares noturnos na criança.
Conclusões
As conclusões deste estudo mostram que a dificuldade em adormecer e despertares noturnos são problemas de sono frequentes em crianças em idade pré-escolar, e estão associados a grupos distintos de características maternas e infantis.
Dado o carácter modificável da maior parte dos fatores associados, intervenções precoces podem promover hábitos de sono mais adequados, com ganhos significativos no desenvolvimento das crianças.