É do conhecimento geral que o sono do bebé pode tornar-se num enorme desafio para os pais. Mas os problemas do sono também afetam as crianças mais velhas, nomeadamente, em idade pré-escolar e em idade escolar.
O sono das crianças em idade escolar tem um impacto significativo no seu rendimento escolar mas, também, na capacidade da criança regular as suas emoções e de se relacionar socialmente. Esta é uma das conclusões de um estudo sobre este tema realizado na Austrália.
O sono das crianças em idade escolar
O desempenho escolar das crianças, seja a nível académico ou social é, também, afetado pela qualidade do sono. Uma criança que não dorme bem ou que não dorme as horas necessárias anda mais cansada, irritada, tem menor capacidade para regular as suas emoções, menos capacidade de concentração e pouca energia para brincar e conviver com os pares.
Estudo do Murdoch Childrens Research Institute do Royal Children’s Hospital, em Melbourne, Austrália, debruçou-se sobre a análise dos problemas do sono manifestados em crianças em idade de transição escolar (da pré-escola para o primeiro ano do 1º ciclo) e pretendeu avaliar como as crianças se ajustavam ao novo horário escolar.
O estudo
Das 4.460 crianças que participaram na investigação, 22,6% tiveram problemas do sono entre os 6 e os 7 anos de idade, segundo a informação transmitida pelos pais à equipa de investigadores. Um grupo de 108 pais, que consideravam que os filhos sofriam de distúrbios do sono, foi dividido em dois grupos.
Um dos grupos foi acompanhado em consulta, sendo integrado num programa de intervenção cujas estratégias foram definidas com base nos distúrbios do sono apresentados pela criança. O segundo grupo serviu como grupo de controlo e não recebeu qualquer apoio especial.
Aos pais cujos filhos estavam integrados no grupo de intervenção, foram fornecidas estratégias para melhorar o sono dos seus filhos. A definição de uma rotina do sono consistente e rigorosa e o ensino de técnicas de relaxamento para ajudar a controlar a ansiedade da criança foram algumas das técnicas implementadas.
Apesar dos distúrbios do sono das crianças de ambos os grupos melhorarem ao longo do tempo, as crianças do grupo de intervenção conseguiram ultrapassar os seus problemas do sono mais rapidamente.
As intervenções também produziram efeitos positivos na função psicossocial da criança e na saúde mental dos pais.
As conclusões
Segundo Harriet Hiscock, pediatra que fez parte da equipa de investigação, os problemas do sono das crianças em idade escolar devem-se, sobretudo, à não definição de limites e rotinas pelos pais — isto é, os pais devem definir regras, torná-las claras às suas crianças e fazê-las cumprir.
Mas também há crianças que sofrem do “distúrbio da associação do início de sono”, que se manifesta quando a criança se habitua a adormecer apenas em determinado contexto, exigindo, por exemplo, a presença de um dos pais ou a necessidade de ter a televisão ligada para conseguir adormecer (sendo esta uma das principais causas dos problemas do sono tanto em idade infantil, como na adolescência ou na idade adulta).
As crianças muito ansiosas também têm problemas do sono com frequência. Depois, há as crianças que sofrem com pesadelos, terrores noturnos e as que acordam demasiado cedo e que não conseguem voltar a adormecer.
Recentemente, a Academia Americana de Pediatria endossou as diretrizes Academia Americana de Medicina do Sono (junho de 2016), segundo a qual crianças entre 3 e os 5 anos precisam de 10 a 13 horas de sono por dia (incluindo sestas), e as crianças entre os 6 a 12 anos precisam de 9 a 12 horas de sono noturno por 24 horas para uma saúde ótima e bem-estar (ver nova tabela do sono).
Uma criança que dorme bem acorda naturalmente, sem necessitar do encorajamento energético dos pais para sair da cama. Se, após 9 ou 10 horas de sono, a criança parecer muito cansada, é muito provável que algum distúrbio do sono esteja a afetar a sua qualidade do sono.
O que mais condiciona o sono das crianças em idade escolar?
Mas, segundo os especialistas, a principal causa para os distúrbios do sono infantil reside mesmo nos hábitos e rotinas (ou na sua ausência), particularmente, no tempo excessivo que as crianças passam em frente ao ecrã da televisão (muitas vezes até horas tardias).
O sono em idade escolar deveria ser uma prioridade de toda a família e uma boa forma de fazer com que todos se concentrassem no que realmente importa: acordar descansado e pronto para funcionar bem, de corpo e mente, concluem os investigadores.