Está a pensar em engravidar? Então este é o momento certo para se preocupar com o seu estado nutricional e com a sua alimentação de forma a criar o melhor ambiente para acolher um bebé durante a gestação.
A intervenção nutricional antes de engravidar influencia o sucesso da gravidez.
Tem sido discutido que a alimentação e consequente balanço nutricional podem influenciar múltiplas etapas incluindo a ovulação e a fertilização, a implantação do ovo e o próprio desenvolvimento fetal.
É assim importante que, antes da conceção, o corpo da mulher se encontre num estado que inclua as seguintes condições:
1. Peso adequado
A obesidade é considerada um fator prejudicial no que diz respeito à fertilidade feminina. Os mecanismos subjacentes a este processo são complexos e continuam a ser estudados, mas sabe-se que o aumento do peso corporal está associado a um desequilíbrio nos níveis de hormonas sexuais. É importante salientar também que a obesidade materna poderá ter influência na própria saúde do feto e no surgimento de complicações durante a gravidez como a diabetes gestacional.
Neste sentido, se está a pensar em engravidar deverá consultar um nutricionista para que possa ser avaliada a sua composição corporal e estado nutricional e elaborado um plano adequado para si nesta fase tão importante.
2. Bom estado nutricional
Na fase de preconceção, os cuidados da mulher com a sua alimentação devem ser iguais aos recomendados para qualquer fase da vida. Deverá seguir as recomendações para uma alimentação saudável que se quer equilibrada e diversificada.
De forma complementar, existem algumas recomendações específicas para a fase de preconceção especialmente relativas a dois micronutrientes: o ácido fólico e o iodo.
- O ácido fólico
O ácido fólico é uma vitamina fundamental para o desenvolvimento e crescimento fetais, que desempenha funções importantes particularmente na formação do tubo neural, crescimento da placenta e produção (aumentada durante a gravidez) de glóbulos vermelhos.
No caso da formação do tubo neural é importante reter que este processo fica completo por volta do 28º dia de gravidez e que nessa altura muitas mulheres desconhecem ainda que estão grávidas. Assim é necessário garantir as reservas necessárias ainda durante o período de preconceção.
Contudo, nunca será demais reforçar que se pretende engravidar deverá procurar o seu médico e nutricionista para que possa ter o acompanhamento correto e que a suplementação deverá ser um complemento a uma alimentação saudável. No caso do ácido fólico, hortícolas de folha escura, cereais integrais, leguminosas (feijão, grão, lentilha) e frutos gordos (noz, amêndoa, avelã) são boas fontes deste nutriente.
- O iodo
O iodo é um mineral obtido a partir de fontes alimentares e acumulado na glândula tiróide.
A tiróide tem como função a síntese das chamadas hormonas tiroideias que são responsáveis pela regulação do metabolismo das células e têm ainda um papel determinante no crescimento e desenvolvimento de órgãos como o cérebro.
Durante a gravidez, o iodo é essencial para o desenvolvimento dos órgãos do feto, sendo particularmente importante na maturação do seu sistema nervoso central, especialmente até há 20 semana de gestação. Assim a suplementação no período da preconceção é essencial para que haja reservas logo no início da gestação.
O iodo pode obter-se através da alimentação, com o consumo de peixe, produtos lácteos e alguns hortícolas. Contudo, estudos desenvolvidos em Portugal mostraram que os níveis de iodo em mulheres grávidas são inferiores ao recomendado, podendo assim concluir-se que a alimentação não está a suprir as necessidades. A alternativa passará pela suplementação diária de iodo sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 microgramas).
A comercialização deste suplemento é uma medida da Direção Geral de Saúde (poderá consultar a referência abaixo), contudo ressalva-se que antes de tomar o suplemento deverá aconselhar-se com o seu médico e/ou nutricionista para que estes avaliem o seu caso e necessidades e para que prescrevam a dose indicada para si.
Lembre-se que consultar o seu médico será também importante para verificar a existência de qualquer contraindicação (por exemplo patologia da tiróide).
3. Não consumir bebidas alcoólicas
É do conhecimento geral que o consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez é proibido. A exposição pré-natal a estas bebidas é a principal causa de anomalias congénitas e estudos, enfatizando um estudo conduzido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, têm também demonstrado que o álcool diminui o transporte de ácido fólico através da placenta.
Assim, a fase de preconceção será uma excelente altura para alterar os seus hábitos e deixar de consumir bebidas alcoólicas, já que esta será uma exigência da gravidez.
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