Vulgarmente conhecida por Papanicolau, a citologia cervico-vaginal é um exame ginecológico de rastreio do cancro do colo do útero. O Papanicolau foi criado pelo médico grego Geórgios Papanicolau (1883-1962), considerado o “pai” da citopatologia, em 1940. O teste é utilizado como prevenção secundária do cancro do colo do útero.
O Papanicolau também permite determinar:
- Níveis hormonais;
- Diagnosticar inflamações ou infeções vaginais;
- Pesquisar bactérias de transmissão sexual como a clamídia, gonorreia, sífilis, entre outras.
Como é feito o exame Papanicolau?
O exame consta da colheita de células da superfície externa do colo do útero (parte inferior e mais estreita, que faz a união com a vagina), para análise laboratorial. O médico, ginecologista ou de clínica geral, executa a “raspagem” dos tecidos durante o exame pélvico, feito em posição ginecológica.
O procedimento é simples e indolor, embora possa provocar algum desconforto, se a mulher não estiver relaxada.
A citologia pode ser feita de forma convencional, numa lâmina, ou em meio líquido (Thinprep). A recolha das células é feita da mesma forma, com uma espátula ou escova cervical. No primeiro caso é realizado um esfregaço em lâmina de vidro, fixado com um spray adequado. Já no segundo caso, as células são guardadas num frasco para que, depois de tratadas laboratorialmente, possam ser observadas em lâmina, ao microscópio, pelo citopatologista.
O exame Papanicolau exige preparação?
Não, embora não deva ser realizado durante a menstruação ou nas 48 horas seguintes a uma relação sexual, porque a presença destas células dificulta a preparação e a leitura das lâminas. Nos dois dias anteriores também estão contraindicadas as irrigações vaginais, bem como o uso de cremes, espumas e geleias contracetivas ou qualquer medicamento de aplicação vaginal (salvo indicação médica em contrário).
Para que serve o exame Papanicolau?
O Teste de Papanicolau analisa as células do colo do útero, revelando alterações inflamatórias ou infeciosas, provocadas por microrganismos, e displásicas.
As displasias são as alterações mais importantes na análise do resultado de uma citologia cervico-vaginal, uma vez que podem ser percursoras de neoplasias do colo uterino, da vagina ou mesmo da vulva.
Normalmente, o desenvolvimento de displasias do colo do útero requer que tenha havido uma infeção das células pelo Papiloma Vírus Humano (HPV). O HPV é um vírus transmitido pelo contacto sexual e/ou contacto direto da pele das zonas genitais, mesmo sem cópula. O tabagismo, o inicio prematuro da vida sexual, a pluralidade de parceiros sexuais, a multiparidade (muitos filhos) e o uso prolongado da pílula são alguns fatores de risco associados à infeção por HPV.
Frequentemente assintomática, essa infeção pode desaparecer espontaneamente, sem tratamento. Todavia, nalguns casos, a infeção é persistente e pode ocasionar lesões pré-malignas, em especial quando estão em causa estipes de alto risco que, se não forem detetadas a tempo e extraídas, progridem para lesões malignas e cancro.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a vacinação contra o HPV (prevenção primária) confere quase 100% de proteção contra o desenvolvimento de lesões pré-malignas, provocadas pelos vírus dos tipos 16 e 18, em mulheres entre os 16 e os 25 anos. Em Portugal, a vacina já faz parte do Plano Nacional de Vacinação, sendo fornecida às adolescentes a partir dos 13 anos (em 2019 também os rapazes serão incluídos no plano de vacinação).
No entanto, uma vez que esta possui limitações etárias e apenas protege contra as duas estirpes mais agressivas do vírus, o rastreio através da citologia cervico-vaginal é a forma mais eficiente de prevenir o cancro do colo do útero.
Ao permitir a deteção do cancro num estádio inicial, potencia também o diagnóstico precoce, fundamental para a eficácia das terapêuticas.
Quando dever ser feito o Papanicolau?
Considerando que o HPV é de transmissão sexual e que o cancro do colo do útero é raro antes dos 20 anos, existem dois tipos de rastreio:
Rastreio organizado:
Inicia-se, na maioria dos países europeus, aos 25 anos, e determina a realização da citologia de três em três anos, até aos 65. Pode igualmente promover a colheita de células de três em três anos, até aos 30, seguida de um teste de pesquisa de HPV de alto risco, de cinco em cinco anos, até aos 65.
Rastreio não organizado:
A outra forma de despistagem, designada oportunista, é um rastreio não organizado, que se apresenta em três opções:
- Citologia de três em três anos, a partir dos 21 anos e/ou pelo menos três anos após o início da vida sexual;
- Citologia de três em três anos, a partir dos 21 anos e/ou pelo menos três anos após o início da vida sexual e teste de HPV a partir dos 30 anos de cinco em cinco anos (com a realização de uma citologia reflexa, no caso de teste positivo);
- Citologia de três em três anos, a partir dos 21 anos e/ou pelo menos três anos após o início da vida sexual e, partir dos 30 anos, co-teste (citologia e teste de HPV) de cinco em cinco anos.
Quando necessário, o Teste de Papanicolau pode ser feito em mulheres virgens. Neste caso, é utilizado um espéculo de tamanho especial e, em vez da espátula, um cotonete.