Apesar de não ser propriamente agradável mudar as fraldas, o cocó do bebé é um dos melhores sinais de que o seu sistema digestivo está a funcionar convenientemente.
O desenvolvimento do sistema digestivo inicia-se muito cedo, com a diferenciação celular nas primeiras semanas da gestação.
Primeiro trimestre da gravidez – semana 0 à semana 13
Durante o primeiro trimestre, o embrião desenvolve três camadas de células que darão origem às várias estruturas do seu corpo. Por volta da 4ª semana, inicia-se a formação do sangue e dos vasos sanguíneos e uma linha de células aparece na superfície do disco embrionário. Esta linha primitiva é a génese da ectoderma, mesoderma e endoderma, as partes constituintes do corpo do bebé.
A endoderma é a camada de células mais interna e acabará por dar origem aos pulmões, língua, amígdalas, uretra e glândulas associadas, bexiga e ao sistema digestivo.
A mesoderma, ou camada do meio, será responsável, entre outras, pela formação dos músculos, ossos, células sanguíneas, coração, pulmões, sistema reprodutivo e sistema excretor (rins e ureteres). A ectoderma, camada de células externa dará origem à pele, cabelos, lentes do olho, ouvidos, nariz e a todas as partes do sistema nervoso.
No seu nível mais básico, o sistema digestivo é uma série de tubos (como o esofago e os intestinos), que ligam a boca ao intestino, permitindo a entrada dos alimentos e a saída dos desperdícios decorrentes da sua digestão.
Por volta das 8 semanas da gestação, começa a formar-se esse tubo e o estômago a diferenciar-se. O embrião desenvolve uma boca primitiva com língua. A traqueia, laringe e o esófago – tubo que impulsiona os alimentos a partir da boca para o estômago – estão em formação.
Os intestinos começam a formar-se dentro do cordão umbilical e, mais tarde, migrarão para dentro da cavidade abdominal, quando o corpo do embrião crescer o suficiente para os acomodar.
Por esta altura, os rins estão em desenvolvimento e o fígado já produz bile.
Por volta da 10ª semana, as glândulas do paladar estão em formação na superfície da língua e existem dentes primários no interior das gengivas. Os intestinos começam a acomodar-se na cavidade abdominal e os rins assumem a sua forma final.
O estômago começa a produzir os sucos digestivos e as enzimas para processar os alimentos e os rins já produzem urina.
Por enquanto, o bebé é alimentado através da placenta e do cordão umbilical e depende dos nutrientes que você consome para crescer. Por isso é tão importante a dieta materna na gravidez. Os desperdícios que o bebé produz são eliminados através do corpo da mãe, pelas trocas com a placenta. O sistema digestivo do bebé só começara verdadeiramente a funcionar com as refeições de leite e a produção de cocó.
Segundo trimestre da gravidez – semana 14 à semana 26
O segundo trimestre da gravidez costuma ser mais tranquilo para a mãe. A fase mais complicada do desenvolvimento embrionário está finalizada, o que diminui a ansiedade e a preocupação com o normal desenvolvimento do bebé e com o risco de aborto espontâneo, e alguns desconfortos característicos do primeiro trimestre, como os enjoos e a má disposição matinal, desaparecem.
Por volta da 13 semana, as estruturas do sistema digestivo do bebé estão completamente desenvolvidas e nos locais corretos. Agora é altura de praticar. O bebé começa a engolir o líquido amniótico e os músculos e órgãos que constituem o sistema digestivo começam a contrair-se. O bebé também já faz xixi, libertando-se do líquido amniótico que circula no seu organismo.
A sua dieta continua a ser um fator fundamental para o crescimento do bebé mas também para o seu paladar. Por esta altura, o bebé já desenvolveu as papilas gustativas e consegue “provar” os aromas da alimentação da mãe quando engole o líquido amniótico. Aconselha-se a evitar refeições muito condimentadas e sabores fortes.
Terceiro trimestre da gravidez – semana 27 à semana 40+
A partir desta altura, o seu bebé irá dedicar-se a ganhar peso e tecido adiposo. As suas formas tornam-se mais redondinhas à medida que ganha peso.
O bebé continua a praticar a deglutição, engolindo e expelindo o líquido amniótico a todo o momento e passa a ter atividade gástrica preparando-se para receber e digerir o leite, o seu primeiro alimento. Por volta dos 4 a 6 meses de vida, o sistema digestivo do bebé estará suficientemente amadurecido para iniciar a diversificação alimentar com a introdução dos primeiros purés de legumes e fruta.
Na semanas finais da gravidez, o intestino começa a produzir a primeira matéria fecal; o mecónio. Substância verde-escuro, pastosa e viscosa, constituída por muco, enzimas e sais de bile presentes no líquido amniótico, será expulsa após o nascimento.
A libertação de mecónio para o líquido amniótico pode ser um sintoma de stress ou de sofrimento fetal, sinal de que não recebe oxigénio suficiente através da placenta ou complicações do cordão umbilical. Por vezes, o bebé pode aspirar mecónio (síndroma da aspiração de mecónio) e, nesses casos, há o risco de irritar ou danificar os pulmões. Nesses casos, a avaliação médica irá determinar qual a melhor forma de agir para proteger o bem-estar do seu bebé.
Os primeiros cocós do bebé
Os primeiros cocós costumam ser um dos temas favoritos dos pais. A curiosidade de saber se está com a cor e consistência que deveria ter ou se evacua tantas vezes quantas as necessárias, pode levar os pais a sentirem alguma ansiedade nos dias seguintes ao parto. Na maior parte dos casos, não há motivo para preocupação.
Ainda assim, se o cocó do bebé for preto ou se tiver resíduos de sangue pode ser um sintoma de hemorragia interna e cocó esbranquiçado, um sinal de que o bebé não está a absorver os nutrientes convenientemente. Se for o caso, deve consultar o pediatra com a maior brevidade possível para avaliação.
Cada bebé tem o seu próprio ritmo de crescimento, mesmo dentro do útero. As fases do desenvolvimento apresentadas correspondem a observações gerais, podendo ocorrer em períodos anteriores ou posteriores aos aqui indicados.