As primeiras 12 semanas de uma gravidez são, para muitas mulheres, as mais difíceis. Isto deve-se, pois, às náuseas, vómitos, cansaço extremo, mamas doridas e vontade constante de ir à casa de banho que muitas experienciam.
Por isso, para algumas grávidas será por vezes difícil ocultar estes sintomas. Existe ainda outra dificuldade: ter que esperar para anunciar a gravidez apenas às 12 semanas. Isto significa ter que passar três meses em pulgas para contar a boa notícia.
Mas porque existe esta convenção social de anunciar a gravidez apenas às 12 semanas? A razão para tal, todos sabemos: esperar para saber se a gravidez vai avançar ou não ser bem-sucedida. É que as primeiras 12 semanas são as de maior risco para sofrer um aborto espontâneo.
Como surgiu a decisão de anunciar a gravidez apenas às 12 semanas?
Embora um aborto espontâneo ou nado-morto possa suceder a qualquer altura da gravidez, o primeiro trimestre é o de maior risco. Mas, segundo alguns estudos, a possibilidade de sucesso da gravidez é de 92% logo às oito semanas, ficando então nos 97% às 12 semanas, a altura considerada “segura”.
Esta decisão de anunciar a gravidez apenas às 12 semanas é relativamente recente, de acordo com Meredith Nash, uma socióloga da Universidade da Tasmânia, na Austrália. A especialista considera que esta convenção se estabeleceu porque a maioria das grávidas faz a primeira ecografia no fim do primeiro trimestre, o que se torna uma espécie de marco. De certa forma, ver a imagem do feto é uma confirmação que a gravidez é, efetivamente, uma realidade.
Antes da existência das ecografias, as mulheres teriam esta perceção de realidade mais tarde, quando a barriga começasse a aumentar ou sentissem o bebé a mexer-se. Isto poderia acontecer entre cerca das 15 semanas de gravidez e as 20 semanas de gravidez.
“Antes das ecografias, a gravidez e os fetos eram imaginados. Agora somos uma sociedade que se baseia no que é visível para acreditar que algo é real e verdadeiro”, explica a socióloga.
Mesmo sabendo que estão grávidas, as mulheres só acreditam mesmo quando o médico lhes diz, o que segundo Meredith Nash é um fenomeno recente.
Apesar disto, pela perspetiva da Medicina, não existe qualquer diretriz que indique qual é a altura mais adequada para se anunciar uma gravidez.
Quando a gravidez acaba em aborto espontâneo…
E no caso de acontecer um aborto espontâneo antes das 12 semanas? Caso não tenham ainda anunciado a gravidez, os pais poderão ter que fazer o luto em silêncio. Esta é uma situação dramática pois nestes casos poderão estar a privar-se de precioso apoio emocional. Por outro lado, muitos preferem não ter que passar pela dolorosa experiência de revelarem a gravidez e consequente perda.
Por isso, muitas pessoas têm a perceção que um aborto espontâneo é uma raridade, um tabu até. Mas, infelizmente, não é o caso. Cerca de uma em cada cinco gravidezes termina com um aborto espontâneo.
Não seria então importante que cada grávida/casal nessa situação pudesse partilhar a sua perda? Afinal, o luto é o mesmo, quer a perda tenha acontecido à 7ª semana, quer seja na 18ª semana.
Por esta perspetiva, não será a decisão de anunciar a gravidez apenas às 12 semanas um pouco dura? Porque é, então, que persiste na nossa sociedade?
Acima de tudo, o importante será que a mulher anuncie a sua gravidez quando ela entender que é a altura certa. E isso pode acontecer, tanto na 6ª semana da gravidez, como na 20ª semana.