A indústria das bebidas alcoólicas pode estar a por as grávidas em risco. Um estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres revela que as instituições financiadas pela industria das bebidas alcoólicas apresentam informação vaga relativa aos perigos do álcool durante a gravidez. Alguma dessa informação é enganosa e põe em causa a evidência sobre os riscos reais do álcool para a mãe e feto.
A indústria das bebidas alcoólicas quererá proteger o mercado consumidor de álcool feminino
Segundo o artigo publicado no site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, os resultados do estudo sugerem que as instituições de responsabilidade social financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas procuram incentivar as mulheres a continuarem a consumir álcool durante a gravidez. Isto terá como propósito proteger o mercado consumidor de bebidas alcoólicas feminino.
Os investigadores descobriram que as organizações financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas são menos propensas a apresentar certos riscos do consumo de álcool na gravidez em relação às organizações independentes. A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é um desses riscos. Segundo o manual MSD, a SAF constitui “uma constelação variável de anormalidades físicas e cognitivas” no bebé.
Além disso, aquelas organizações terão menos tendência a enfatizar incertezas em relação ao consumo de álcool na gravidez. Por outro lado, foi observada uma menor tendência a linguagem direta como “não beba”. A indústria das bebidas alcoólicas poderá assim pretender manter incertezas quanto aos malefícios do consumo de álcool na gravidez.
O que dizem os sites de 23 instituições financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas e de 19 públicas
O estudo que foi publicado na revista “Journal of Studies on Alcohol and Drugs”, analisou o conteúdo dos sites de 23 organizações financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas e 19 organizações governamentais de saúde pública. Os investigadores compararam ambos os tipos de organização segundo a forma como a informação é abordada e apresentada.
Em termos de informação geral sobre o consumo de álcool e a gravidez não se detetaram diferenças significativas entre ambos os tipos de organização. Contudo, foram encontradas diferenças substanciais em relação à escolha e forma de apresentação de informação específica.
“A indústria das bebidas alcoólicas é especialista em vender álcool e não em informação de saúde”.
Por exemplo, havia muitas diferenças na informação relativa à fertilidade, gravidez, amamentação e SAF entre ambos os tipos de organizações. Com efeito, este tipo de informação era menos abordado nas secções de saúde dos sites das organizações financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas.
No caso da SAF, 90% das organizações de saúde pública incluíam este tipo de informação, contra menos de metade das financiadas pela indústria.
As organizações financiadas pela indústria das bebidas alcoólicas eram não menos propensas a indicar que não existe uma quantidade segura de consumo de álcool na gravidez. Estas organizações tendiam também a não incluir informação sobre os riscos de álcool no início da gravidez. O mesmo se verificou relativamente à maioria dos malefícios do consumo de álcool na gravidez.
A estratégia da indústria das bebidas alcoólicas parece, segundo o estudo, de enfatizar a incerteza e dar a ideia de segurança com o consumo de álcool na gravidez. Parece ainda dar a ideia de equivalência entre o consumo leve e a abstenção de álcool.
Mark Pettigrew, um dos investigadores do estudo admite que “a gravidez poderá, deste molde, representar uma ameaça comercial significativa para a indústria do álcool”.
O consumo de álcool na gravidez representa um risco real para a mãe e feto
Quando se consome bebidas alcoólicas na gravidez, as toxinas destas podem atravessar a placenta e afetar o feto. As toxinas do álcool podem, pois, danificar o desenvolvimento do cérebro e de ouros órgãos do embrião ou feto. Com efeito, estima-se que um em cada 13 bebés de mulheres que consomem álcool na gravidez nasça com SAF.
O consumo de álcool na gravidez pode ainda causar o nascimento prematuro. Finalmente, o consumo deste tipo de bebidas pode conduzir ao nascimento de bebés pequenos para a idade gestacional.
Relativamente à fertilidade, o artigo destacou um estudo que demonstrava que o consumo de bebidas alcoólicas estava associada a uma redução de 13% na possibilidade de engravidar.
“Este estudo presta mais evidência em como estas organizações possuem um risco potencial para a saúde pública”, conclui Mark Pettigrew”. Especificamente isto aplica-se à “saúde das mulheres grávidas e do bebé”.
Os investigadores rematam que a indústria das bebidas alcoólicas é especialista em vender álcool e não em informação de saúde. Por isso estas organizações não deviam ter um papel em “disseminar informação de saúde”.
Conclusão: se está grávida, o mais seguro é a abstenção total em relação às bebidas alcoólicas.