Quando há separação total ou parcial da placenta relativamente à parede do útero, dá-se o descolamento da placenta normalmente inserida ou placenta abrupta.
O descolamento prematuro da placenta (DPP) é bastante comum, especialmente no 3º trimestre de gravidez (ou logo a partir das 20 semanas de gravidez). Há que ter muita atenção, pois esta complicação representa uma das maiores causas de hemorragia na gestação, sendo uma das maiores responsáveis pelas ocorrências de morbimortalidade materna e fetal.
Descolamento da placenta
Placenta: o sistema de sobrevivência do bebé
A placenta é uma estrutura em forma de disco que se desenvolve durante a gravidez. Está ligada ao bebé através do cordão umbilical e que tem como principais funções:
- Permitir que o dióxido de carbono e os produtos de excreção passem do sangue do bebé para o sangue da mãe;
- Transportar oxigénio e nutrientes do sangue da mãe para o sangue do bebé;
- Fabricar um variado leque de hormonas essenciais à manutenção da gravidez [hormona gonadotrofina coriónica humana (HCG), lactogénio placentário humano (HPL), estriol (um tipo de estrogénio), progesterona (para manter o revestimento do útero)].
É através da placenta que o bebé obtém os nutrientes e o oxigénio e expele as secreções. Já o líquido amniótico mantém o bebé protegido de choques e regula a sua temperatura.
Descolamento da placenta normalmente inserida
O descolamento prematuro da placenta normalmente inserida é uma condição em que a placenta se descola parcial ou totalmente da parede interna do útero antes do parto.
Quais os fatores de risco para o descolamento da placenta?
- Descolamento da placenta em gestações anteriores;
- Processo patológico crónico vascular;
- Pré-eclâmpsia;
- Lesões/trauma abdominais;
- Insuficiência placentária;
- Tabaco;
- Consumo de cocaína;
- Anemia na gravidez (insuficiência de ferro);
- Deficiência de ácido ascórbico ou ácido fólico;
- Idade avançada materna (ver artigo “Engravidar depois dos 40 anos“).
O descolamento da placenta pode causar sangramento na gravidez com grau de intensidade variado e privar o bebé de oxigénio e nutrientes, uma vez que a placenta deixa de ter condições para cumprir as suas funções normais.
Sintomas do descolamento da placenta
Se tiver alguns dos seguintes sintomas poderá estar perante um quadro clínico de descolamento da placenta:
- Dor uterina súbita, intensa e localizada;
- Sensibilidade uterina;
- Sangramento na gravidez (perda de sangue pela vagina);
- Ausência de hemorragia (oculta);
- Ventre duro (ventre em tábua, que pode também ser sinal de contrações do parto);
- Útero de Couvelaire (aumento da infiltração de sangue nas paredes do útero, tornando-o fraco, sem poder de contração e com possível aumento de sangramento).
Diagnóstico do descolamento da placenta
A causa imediata da separação da placenta é a rutura de vasos sanguíneos maternos, sendo que o diagnóstico é clínico e baseado no aparecimento abrupto de dor abdominal (aumento do tónus uterino) associada à hemorragia vaginal leve a moderada, acompanhada de contrações uterinas e alterações da frequência cardíaca fetal.
Os achados laboratoriais e de imagem podem ser utilizados para apoiar o diagnóstico clínico.
Segundo a rede clínica e hospitalar CUF, “um descolamento parcial da placenta, sobretudo em fases mais precoces da gravidez, pode requerer repouso na gravidez e a ingestão abundante de água e não implicar a resolução urgente da gravidez”.
Tratamento do descolamento da placenta
O tratamento depende da gravidade da rutura. Se a rutura for ligeira, a grávida pode ser internada para observação e avaliação do bem estar materno e fetal.
Se o grau do descolamento da placenta for elevado e comprometer a saúde da mãe ou do bebé, pode ser necessário antecipar o parto e efetuar uma cesariana de urgência.
Se a grávida tiver o tipo Rh negativo, existe o risco de isoimunização Rh devido à possível hemorragia fetomaterna.
A avaliação da posição da placenta será efetuada nas ecografias da gravidez realizadas em cada um dos trimestres da gestação.
Bibliografia: Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica de Manuela Néné, Rosalina Marques, Margarida Amado Batista, Carlos Sequeira – LIDEL, Lisboa, 1ª edição impressa: outubro de 2016; A Bíblia de Bolso da Gravidez de Hollie Smith – Edição Livros Horizonte, junho de 2013