Da concepção ao parto, uma grande variedade de eventos pode aumentar a complexidade da gravidez, causando, algumas vezes, a sua interrupção precoce. Alguns desses eventos sofrem variações conforme o tipo de doença, sintomas e causas, como é o caso dos efeitos da malária na gravidez.
Estima-se que, a cada ano, aproximadamente 50 milhões de mulheres residentes em países endémicos da malária engravidem e enfrentem um risco aumentado de adquirir a infeção.
A malária na gravidez é responsável por 10.000 óbitos maternos, um número não estimado de abortos e por aproximadamente 20.000 óbitos em bebés no primeiro ano de vida, como consequência do baixo peso ao nascer e da morte perinatal (período compreendido entre a 28ª semana da gestação e o 7° dia de vida do recém-
Efeitos da malária na gravidez
Efeitos da malária na gravidez
Riscos da malária para a mulher grávida
As mulheres grávidas são particularmente vulneráveis à malária. Isso ocorre porque a gravidez altera o estado de imunidade, tornando a mulher mais suscetível à infeção malárica e aumentando o risco de formas complicadas da doença, como:
- Anemia grave;
- Alteração na circulação útero-placentária, determinando deficiência de nutrientes, contribuindo para o baixo peso ao nascimento (por prematuridade ou atraso no crescimento intrauterino) e mortalidade infantil;
- Morte materna (morte da mulher enquanto grávida ou dentro de 42 dias após o término da gravidez).
Riscos da malária para o bebé em desenvolvimento
Para o bebé, a malária materna aumenta o risco de:
- Ameaça de aborto (presença de sinais ou sintomas tais como contrações uterinas, sangramento uterino ou amniorrexe – rutura das membranas amnióticas antes do termo da gravidez);
- Ameaça de parto prematuro;
- Parto prematuro;
- Aborto espontâneo (expulsão espontânea total ou parcial do conteúdo uterino);
- Natimortalidade (bebés que nascem sem vida);
- Restrição do crescimento fetal;
- Baixo peso ao nascer;
- Morte fetal (morte antes da expulsão ou extração completa do produto de conceção, independentemente da duração da gravidez, sendo indicada pela ausência de evidência de vida fetal).
Investigação sobre os efeitos da malária na gravidez
Uma equipa da Universidade do Estado do Amazonas, em conjunto com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, levou a cabo um estudo com o objetivo de analisar o impacto da malária e gravidez na região amazónica.
Entre as conclusões apresentadas, o estudo refere que qualquer grávida que sofra um episódio agudo de malária (período transcorrido entre o início dos sintomas e a primeira lâmina negativa de controle) pode apresentar ameaça de interrupção ou interrupção da gestação.
Estes desfechos ocorrem independentemente da presença ou não de outros fatores de risco como idade materna inferior a 20 anos, primeira gravidez, primeira infeção por malária e espécie do parasita causador da infeção.
As grávidas que integraram o estudo apresentavam diagnóstico de malária e foram acompanhadas ao longo de toda a gestação. Foram avaliados 535 episódios de malária em 417 gestantes, obtendo-se os seguintes resultados:
- 20,56% das infeções foram causadas pelo P. falciparum;
- 78,69% das infeções foram causadas pelo P. vivax;
- 0,75% das infeções resultaram da associação dos dois parasitas.
Para além do agente causador da infeção, foi possível registar que:
- 26,2% das grávidas sofreu uma alteração no curso da gestação;
- 25,5% das grávidas passou por ameaça de aborto (49 casos);
- 1,0% das grávidas sofreu aborto (2 casos);
- 25,1% das gestações registou ameaça de parto prematuro (74 casos);
- 1,0% das gestações terminou com parto prematuro (3 casos).
Segundo os investigadores, a alteração no curso da gestação foi muito frequente em gestantes durante o episódio agudo de malária, sendo muito mais frequente a ameaça de interrupção do que a interrupção da gestação, cuja ocorrência foi baixa.
Embora alguns antecedentes, como a adolescência (faixa etária dos 10 aos 19 anos), febre ou multiparidade, estejam associados às alterações no curso da gestação, de forma geral os resultados mostraram que não houve fatores de risco entre os estudados.
O risco de apresentar alterações no curso da gravidez na vigência de um episódio de malária parece ser semelhante independentemente da idade, paridade ou antecedentes de malária. Assim, todas as gestantes devem ser alvo das ações de prevenção e controle da malária.
Bibliografia: Chagas ECS, Nascimento CT, Santana Filho FS, Bôtto-Menezes CH, Martinez-Espinosa FE. Malária durante a gravidez: efeito sobre o curso da gestação na região amazônica. Rev Panam Salud Publica. 2009;26(3):203–08.